6 de jun. de 2012

MAIS UMA PARÁBOLA ZEN


Parado às margens de um rio, o homem observava um barqueiro empurrar a barca para dentro d'água para atravessar alguns passageiros.
 
Aconteceu de um mestre Ch'an passar por perto naquele instante. Ao vê-lo, o homem se aproximou perguntando:
 
- Mestre, aquele barqueiro matou diversos caranguejos, camarões, peixes e pequenos insetos enquanto empurrava sua barca para o rio. A culpa é dos passageiros ou do barqueiro?
 
- A culpa não é nem do barqueiro nem dos passageiros. - respondeu o mestre sem hesitação.
 
- Se a culpa não é de nenhum deles, - insistiu o homem - ... então de quem que é?
 
- A culpa é sua. - respondeu o mestre se afastando.
 
 
(Mestre Hsing Yün, em “Histórias Ch’an”. Foto de Uda Dennie)

4 de jun. de 2012

O GATO DO MOSTEIRO (PARÁBOLA ZEN)


Um adorável gatinho cinzento foi dar às portas de um mosteiro em uma região remota do Tibete. Surpresos e maravilhados, os monges o acolheram e o gatinho cresceu no mosteiro cercado de mimos e agrados.
 
A história acabaria aqui, se não fosse o hábito desenvolvido pelo gatinho de miar e protestar ruidosamente todos os dias ao entardecer, quando os monges se retiravam para a meditação deixando-o sozinho na cozinha.
 
Tamanho era o barulho que o gatinho fazia que um dia, muito a contragosto, o mestre ordenou ao cozinheiro que o amordaçasse, fechasse num saco e o deixasse trancado dentro de um armário durante a prática noturna.
 
Daquele dia em diante puderam os monges meditar sem serem perturbados pelo gatinho, a quem o cozinheiro zelosamente libertava tão logo encerrada a prática.
 
O tempo foi passando e um dia o mestre morreu. Mas o gatinho continuou sendo amordaçado, enfiado no saco e trancado no armário durante a meditação.
 
Eventualmente, o gatinho ficou velho e morreu. Sentindo sua falta, os monges foram buscar outro gatinho a quem desde pequenino amordaçavam, enfiavam no saco e trancavam no mesmo armário todos os dias durante a prática da meditação.
 
Séculos depois, quando todos os fatos já há muito haviam se perdido no passado, praticantes intelectuais que estudavam os ensinamentos daquele mosteiro escreveram longos tratados escolásticos sobre a importância de se amordaçar, ensacar e trancar os gatos durante a prática da meditação.
 
(Parábola Zen, livre adaptação)

2 de jun. de 2012

OUTRA PARÁBOLA ZEN



Isamu atravessara o Japão para aprender na melhor escola de karatê. Ao chegar ao dojo, solicitou uma audiência com o sensei. Ao ser recebido, perguntou prontamente:
 
- Quanto tempo preciso estudar com o senhor para me tornar o melhor karateca do país?
 
- Dez anos. - respondeu o mestre.
 
- Dez anos é muito tempo... e se eu praticar com o dobro da intensidade dos outros alunos?
 
- Vinte anos.
 
- Vinte anos?! E se eu praticar dia e noite, dedicando todo o meu esforço?
 
- Trinta anos.
 
- Como pode ser? Quanto mais tempo eu digo que pretendo dedicar, mais tempo o senhor diz que vai demorar...?
 
- E como pode ser diferente? Quando um olho está fixo onde se quer chegar, só resta um para se encontrar o caminho.

(Foto: pôr do sol na praia - HDR, autor desconhecido)