29 de jun. de 2013

A SÍNDROME DE CASSANDRA


Devota servidora de Apolo, Cassandra recebeu o dom da previsão ainda criança quando uma serpente lambeu seu ouvido enquanto dormia no templo de Apolo. Eventualmente a menina cresceu tornando-se uma jovem de exuberante beleza e tão dedicada ao deus que Apolo se apaixonou e lhe concedeu o dom da profecia. Mas quando Cassandra o rejeitou, Apolo lançou a maldição de que ninguém jamais viria a acreditar nas profecias ou previsões da jovem.

Dali em diante, Cassandra foi tida como louca e suas inúmeras previsões de catástrofes e desgraças foram desacreditadas, ignoradas e até ridicularizadas. Tróia só foi destruída porque Príamo ignorou suas desesperadas súplicas para que destruísse o cavalo engendrado por Ulisses.

É desse capítulo da mitologia grega que deriva o termo "Síndrome" ou "Metáfora de Cassandra", expressão cunhada pelo filósofo francês Gaston Bachelard em 1949 numca crítica racional à crença popular de que eventos podem ser previstos ou conhecidos de antemão.

Embora Bachelart e vários outros filósofos e estudiosos tenham produzido ampla argumentação em sentido contrário à prática; a verdade é que ela é largamente empregada como "verdade científica" por governos e instituições privadas. O sistema financeiro, espinha dorsal da economia mundial atualmente, recorre à "futurologia" de fórmulas matemáticas e pesquisas de opinião para divisar suas estratégias de lucro.

Se olharmos de perto, o marketing nada mais é do que a prática da "futurologia" com base em procedimentos científicos comprovados.

Isso gera uma dissociação estrutural entre a realidade objetiva e o cenário de realidade que o capital busca estabelecer para ampliar ou manter mercados instrumentado por uma pseudo-ciência especializada em elaborar teorias baseadas em dados subjetivos apurados objetivamente.

Exercícios especulativos como os do Relatório de Cassandra servem de base para que marketeiros de todo o mundo elaborem estratégias de comunicação para marcas e instituições (inclusive as governamentais).

E no fogo cruzado das campanhas publicitárias desenvolvidas a partir de especulações baseadas numa amostra limitada cultural e geograficamente do universo (as pesquisas iniciais limitam-se ao território norte-americano, sendo posteriormente repetidas em outros pontos geográficos), a perspectiva histórico-cultural que molda a consciência cívica, a ética e, porque não dizer, a moral das novas gerações e seu exercício vem sendo crescentemente substituída pelo consumo como forma última de manifestação do ser no mundo.

Um exemplo claro de como operam esses mecanismos é visível no seguinte documento elaborado pelos "experts" do Grupo de Inteligência, uma divisão da Creative Artists Agency (CAA); empresa privada de pesquisa com foco na juventude e dedicada a identificar emergentes movimentos de cultura popular e traduzi-los em conhecimento relevante para empresas, marcas e instituições. Há mais de 15 anos o Grupo de Inteligência publica trimestralmente o Cassandra Report, o principal estudo cultural em curso sobre jovens consumidores e tendências culturais:


Para publicação imediata,
22 de Maio de 2013


Grupo de Inteligência: Cassandra Report Retrata as Crianças Independente e Rebeldes com Causa da Geração Z

Los Angeles, CA - Conforme o novo relatório Cassandra que pesquisou crianças de 7 a 13 anos e seus pais, a Geração Z pode ser jovem, mas seu pragmatismo e independência a faz a geração mais desafiadora para os marketeiros. Tendo crescido constantemente conectados, os membros da Geração Z são práticos, motivados, curiosos e auto-suficientes, em grande parte devido à tecnologia. Como os primeiros verdadeiros "nativos digitais", eles sentem-se poderosos por seu acesso à informação e buscam influenciar os produtos e conteúdos que consomem.

"As crianças da Geração Z têm conversas online sobre marcas muito antes das companhias sequer cogitarem-nos como alvos, tornando crítico colocar-se à frente entendendo suas vontades e necessidades", disse Jamie Gutfreund, Chefe de Estratégia do Grupo de Inteligência. "Aqueles que estão assombrados pelos irmãos mais velhos da Geração Y acharão esta geração de pragmatismo rebelde ainda mais potencialmente elusiva, pois eles exigirão relaçãos ainda mais íntimas e honestas com as marcas, artistas e instituições que seguem."

Baseado no Relatório, que inclui 800 entrevistas online com crianças de 7 a 13 anos e seus parentes de todo o país, o Grupo de Inteligência lançou 10 dicas de marketing para a Geração Z:

1 - Toque seu espírito empreendedor: os Z's têm arranque automático, estão ansiosos para causar um impacto, uma mudança e deixar um nome para si. Marcas podem ser um recurso para percepções e investimentos que lancem esses jovens num caminho inovador pioneiro.

2 - Ouça e responda a eles: os Z's são multitasking, vários pensamentos simultaneos os mantêmconectados a várias correntes de conteúdo ao mesmo tempo - e eles esperam que as marcas sigam o ritmo de sua conversa fogo-rápido, consumo de conteúdo e perguntas e respostas. Marketeiros precisam abraçar e incorporar a virada em tempo real que os Z's almejam.

3 - Convide-os para em seu processo de decisão: o ritmo em tempo real da interação online levou os Z's a esperar serem ouvidos pelas marcas, seja quando reclamam, perguntam, elogiam ou sugerem alguma coisa. Essa geração quer sentir que seus "inputs" têm impacto, e os Z's amam ter suas ideias consideradas e realizadas.

4 - Deixe-os tentar antes de comprar: os Z's são hiper-pesquisadores e caçadores de barganhas, e esperam poder testar nossos produtos antes de se comprometerem com qualquer coisa. Marcas deviam prover a esses experientes jovens consumidores oportunidades de testar, brincar e vivenciar pré-compras tanto virtualmente (por realidade aumentada) como fisicamente (por períodos de teste e ofertas de amostras).

5 - Certifique-se de estar inovando e evoluindo digitalmente: os Z's vêem pouca distinção entre os mundos físico e digital. Eles buscam similar engajamento em ambos. Marketeiros deveriam começar a divisar formas de integrar mais profundamente suas comunicações físicas e digitais, criando produtos, conteúdo e jogos que exibam elementos tangíveis e virtuais trabalhando juntos e bem.

6 - Encoraje-os a serem criativos com seu produto: os Z's estão sempre em busca de novas oportunidades para exibir suas mais inventivas, belas e brilhantes criações. Marcas deveriam fornecer plataformas nas quais eles possam compartilhar seus projetos, ter ideias e inspiração e interagir com jovens com o mesmo sentimento, e proeminentemente exibir seus melhores trabalhos para lhes dar um momento sob os holofotes.

8 - Inspire-os a mudar o mundo: a Geração Z considera que é dado e uma necessidade reciclar, conservar e fazer escolhas verdes, e está participando alguma forma de serviço comunitário através da escola, família ou igreja em números disproporcionais. Marcas podem ser grandes fontes de informação e motivação para que esses jovens melhores suas escolas, comunidades e o mundo.

9 - Construa logo um relacionamento: como confiança e transparência são marcadores sociais de grande importância para a Geraçao Z, marketeiros deveriam envolvê-los em seu nível e oferecer experiências que eles possam apreciar em sua idade atual - mesmo se o que estão vendendo não pareça iminentemente aplicável a crianças. Ganhar sua confiança agora terá poder aglutinados quando esses jovens indivíduos ingressarem na idade adulta.

10 - Mostre o lado luminoso: a Geraçao Z pode ter nascido realista, mas eles ainda desejam e respondem a mensagens de esperança e otimismo. Marcas podem realçar as perspectivas dos Z's mostrando os lados mais iluminados da vida, encorajando-os a encontrar e compartilhar esses momentos luminosos por si mesmos. Mensagens de marketing podem lembrá-los que em um mundo às vezes assustador eles ainda podem encontrar oportunidades e pessoas positivas.


(Foto: estátua de Cassandra no Parque do Louvre, em Paris, em 2012, por Paula Figueiredo)

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