12 de out. de 2010
5 de jul. de 2010
BEM LEGAL
Na última sexta-feira, dia 2 de julho, Ministério Público e Polícia Civil do RS lançaram o projeto Bem Legal que irá recuperar/reciclar bens contrabandeados apreendidos pela Polícia Federal e destiná-los a entidades e famílias carentes.
Conforme a procuradora-geral de Justiça Simone Mariano da Rocha, “Transformar o produto do crime em benefício da sociedade é uma ação protagonista das Instituições e uma conquista de todos nós”.
O Instituto do Câncer Infantil foi a primeira instituição beneficiada pelo projeto, recebendo já no dia do lançamento 4.500 peças de vestuário que haviam sido apreendidas pela PF, após sua descaracterização, conforme se vê na foto abaixo:
O nome e selo do Projeto são criação desta que vos fala.
Para saber mais: http://www.mp.rs.gov.br/noticias/id21632.htm
Para saber mais: http://www.mp.rs.gov.br/noticias/id21632.htm
23 de jun. de 2010
CRIA CRUERVOS...
Em Caxias do Sul, depois que um conselheiro tutelar se escandalizou com um casalzinho de menos de 10 anos no maior amasso durante uma festa junina regada a funk, querem banir o funk do recreio das escolas.
Não vai adiantar nada. Ao contrário: vai piorar.
Não é nem tapar o sol com a peneira, é muito pior, porque não é o funk o culpado disso ou daquilo: o funk é um sintoma, não a doença.
De mais a mais, quem é pai/mãe de adolescente sabe muito bem que a proibição só faz aumentar o desejo. Proibição nunca resolveu nada, o que resolve é aumentar a massa crítica. E pra aumentar a massa crítica é preciso percorrer o caminho inverso, trazendo o funk do recreio para a sala de aula.
E entender que o funk é só um sintoma, não um "mal" em si. É só o produto da enésima geração vítima do apartheid tupiniquim, uma geração que nega os valores ditos "sociais" porque nasceu e cresceu na miséria vendo quem desceu do morro pelo bonde da criminalidade receber tapetes vermelhos em Ipanema e no Leblon; enquanto a imensa maioria que labuta de sol a sol entra e sai todo o dia de cabeça baixa pela porta de serviço.
Ao invés de civilizar as favelas, de promover a dignidade e cidadania nos morros; é a nossa classe média que está se favelizando.
Cría cuervos y te sacarán los ojos (crie corvos, e eles te arrancarão os olhos).
22 de jun. de 2010
O GOLAÇO DE TOSTÃO
Ao saber que Lula pretende outorgar um prêmio de mais de 400 mil a todos os jogadores da seleção que participaram de campanhas vitoriosas na Copa do Mundo, Tostão escreveu:
Na semana passada, ao chegar de férias, soube, sem ainda saber detalhes, que o governo federal vai premiar, com um pouco mais de R$ 400 mil, cada um dos campeões do mundo, pelo Brasil, em todas as Copas.
Não há razão para isso. Podem tirar meu nome da lista, mesmo sabendo que preciso trabalhar durante anos para ganhar essa quantia.
O governo não pode distribuir dinheiro público. Se fosse assim, os campeões de outros esportes teriam o mesmo direito. E os atletas que não foram campeões do mundo, mas que lutaram da mesma forma? Além disso, todos os campeões foram premiados pelos títulos.
Após a Copa de 1970, recebemos um bom dinheiro, de acordo com os valores de referência da época...
O que precisa ser feito pelo governo, CBF e clubes por onde atuaram esses atletas é ajudar os que passam por grandes dificuldades, além de criar e aprimorar leis de proteção aos jogadores e suas famílias, como pensões e aposentadorias.
É necessário ainda preparar os atletas em atividade para o futuro, para terem condições técnicas e emocionais de exercer outras atividades.
A vida é curta, e a dos atletas, mais ainda.
Alguns vão lembrar e criticar que recebi, junto com os campeões de 1970, um carro Fusca da prefeitura de São Paulo. Na época, o prefeito era Paulo Maluf. Se tivesse a consciência que tenho hoje, não aceitaria.
Tinha 23 anos, estava eufórico e achava que era uma grande homenagem.
Ainda bem que a justiça obrigou o prefeito a devolver aos cofres públicos, com o próprio dinheiro, o valor para a compra dos carros.
Não foi o único erro que cometi na vida. Sou apenas um cidadão que tenta ser justo e correto. É minha obrigação.
Aplaudo de pé.
18 de jun. de 2010
LUTO
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Poema à Boca Fechada
José Saramago (16/11/1922-18/06/2010)
23 de mar. de 2010
ENTROPIA
É com muita alegria que compartilho o lançamento do cd Entropia, do Evandro Demari.
Arquitetado por Evandro, Iuri Freiberger e Marcel van der Zwam, o cd conta ainda com participações de peso como Andre Christovam, Luiz Carlini, Rafa de Boni, Giovani Berti, Sergio Olivé, Renato Velho, Justino Vasconcelos, Rodrigo Deltoro, Gustavo “Prego” Telles, Eduardo Bisogno, Cassiano “Cafu” Farina, Luciano Albo, Gabriel Guedes, Rafa Gubert, Tita Sachet, Ricardo Siviero, Carlos Mallman, Roberto Scopel, Rodrigo Siervo e esta que vos fala.
Além de participar em 7 músicas, ainda elaborei a arte do CD, o site e as redes sociais.
Pra saber mais sobre Evandro Demari e Entropia, visite o website.
Arquitetado por Evandro, Iuri Freiberger e Marcel van der Zwam, o cd conta ainda com participações de peso como Andre Christovam, Luiz Carlini, Rafa de Boni, Giovani Berti, Sergio Olivé, Renato Velho, Justino Vasconcelos, Rodrigo Deltoro, Gustavo “Prego” Telles, Eduardo Bisogno, Cassiano “Cafu” Farina, Luciano Albo, Gabriel Guedes, Rafa Gubert, Tita Sachet, Ricardo Siviero, Carlos Mallman, Roberto Scopel, Rodrigo Siervo e esta que vos fala.
Além de participar em 7 músicas, ainda elaborei a arte do CD, o site e as redes sociais.
Pra saber mais sobre Evandro Demari e Entropia, visite o website.



2 de mar. de 2010
DOS BONDES
Eles vêm de onde o Estado não chega, e a família - se existe - não basta; onde se nasce por nada e se morre por menos ainda.
Cada vez que um político safado enfia no bolso o dinheiro público, um bonde inteiro nasce numa favela do Brasil.
Cada vez que um "cidadão de bem" sonega um imposto, um menino pobre cede e se junta à malta.
Cada vez que como sociedade lhe damos as costas, mais um menino pobre aumenta o bonde.
Fruto de nossa escolha de sociedade, eles são a ponta do iceberg composto pela maioria diariamente massacrada pela precariedade do retorno que damos em contrapartida aos inestimáveis serviços que prestam a nossos lares, veículos e escritórios acarpetados, climatizados e mobiliados com apuro e sofisticação.
Essa maioria deixada para trás de todo o progresso econômico, moral e social, para a qual o futuro traz como certeza apenas a repetição do presente. Sem esperança, se retrai:
Na ausência de uma relação espontãnea, natural, criadora com o mundo, livre de angústias, o "eu interior" desenvolve, assim, um sentimento geral de empobrecimento interior, expresso em queixas de vazio, morte, frieza, aridez, impotência, desolação, inutilidade da vida interior. (R.D. Laing, O Eu Dividido)
Segundo Laing, as mudanças por que passa esse "eu interior" rumo à psicose são:
1 - Torna-se "fantastizado" ou "volatilizado" e, assim, perde qualquer identidade firme e definitiva.
2 - Torna-se irreal.
3 - Torna-se empobrecido, vazio, morto e dividido.
4 - Torna-se cada vez mais carregado de ódio, temor e inveja.
Se a "vida interior" é inútil, e o mundo um ambiente árido e hostil; se a sociedade não propicia nenhum escape, o jovem homo-sapiens atordoado pela súbita explosão de testosterona da adolescência só pode reagir por instinto. E o instinto mais forte no homem é a violência.
Mas, não fechamos o livro aí porque, afinal, falamos de uma parte significativa da nossa própria sociedade e não de um punhado de alienígenas. E isso só leva a uma, irrefutável conclusão: SOMOS UMA SOCIEDADE DOENTE, UMA COLETIVIDADE ESQUIZOFRÊNICA dividida entre o "eu aparente" (classe média e elites) e o "eu interior" (pobres e miseráveis).
Vivemos, como sociedade, num "sistema do falso eu". Reflita sobre os sintomas descritos por Laing:
1 - O sistema do falso eu se torna cada vez mais extensivo.
2 - Torna-se autônomo.
3 - Torna-se "perseguido" pelos fragmentos de comportamento obrigatórios.
4 - Tudo que a ele pertence se torna cada vez mais morto, irreal, falso, mecânico.
Não precisa ser um analista pra concluir que grande parte do nosso comportamento como sociedade está milhas aquém da espontaneidade e insanamente mediado por gadgets e engenhocas; que cada vez mais nossa existência depende de coisas "mortas", de coisas mecânicas e isso traz reflexos na maneira como assimilamos o mundo e o ensinamos a nossas crianças.
Em nossas grandes cidades, mais que em qualquer outro lugar, objetivamos a tudo e a todos, despindo dos atributos de humanidade a massa com que nos defrontamos diariamente no trânsito, nas ruas e nos shopping centers. Todo o ressentimento que sentimos por saber que em nada somos diferentes dos anônimos que desfilam aos nossos olhos diariamente; neles projetamos como agressividade e isso nos faz temerosos demais para dar o passo que nos separa de uma existência autêntica.
Como a senhora X de Laing, somos o fantasma no jardim de ervas:
Os únicos seres viventes na planície eram bestas selvagens. Ratazanas infestavam a cidade destruída. Sua existência se representava por imagens de completo abandono estéril e árido. Essa morte existencial, essa morte-em-vida era a forma que dominava seu ser-no-mundo.
Nessa morte não havia esperanças, futuro, possibilidades. Tudo acontecera. Não havia prazer, fonte de uma possível satisfação ou prazer, porque o mundo estava tão morto e vazio quanto ela.
Em nossa sociedade, o consumo é a única opção aparentemente válida para esse vazio. E quem está alijado do consumo, jaz às margens sem outra opção que dar vazão à raiva, à inveja e à frustração.
Daí os bondes.
Assinar:
Postagens (Atom)