DIA 1
Tardinha de domingo, maridão chega de viagem, beijinho, bladibla e ZÁS, pro banho... A água para de correr de repente. Maridão sai do banheiro enrolado na toalha e visivelmente confuso:
- There's something wrong with the shower... the water stopped all of a sudden.
Corro grunhindo pra caixa de ferramentas, volto devidamente equipada com as chaves inglesa e de fenda. Desmonto o raio do troço, giro daqui, dali e nada. Vou até o banheiro social (que recebe água direto da rua): nada.
- Faltou água. - rosno montando de volta a torneira - E já faltou há tempo, porque até a caixa d'água secou.
Vou até o jardim de inverno:
- Neuza? Beto?
A Neuza bota a cabeça pela janela:
- Faltou água, né? A gente tinha acabado de notar.
- De repente, algum moleque fechou o registro lá na rua.
- Pois é, o Beto tá descendo pra ver... E o pior é que eu lavei duas maquinadas hoje! - ela confessa enrubescendo levemente.
- Pega nada... - conforto com um sorriso meio amarelo.
Ficamos sem saber o que mais dizer uma pra outra, eu olhando pra cima como uma bocó e ela meio pendurada na janela se culpando pelas meias e cuecas recém lavadas. Nesse meio tempo, o Beto vai até a rua e sobe de novo as escadas.
- Oh, o Beto diz que o registro lá na frente tá aberto. Faltou água mesmo.
- Pois é, faltou água.
Volto pra dentro de casa pensando no que improvisar pra janta. No meio do caminho, mudo de idéia e ligro pro DMAE.
Depois de uns 5 minutos duma musiquinha pra lá de chata a moça me atende:
- Oh, sim, estivemos com um problema, mas já foi resolvido: a água deve voltar ainda esta noite!
Agradeço, suspirando aliviada. Improvisamos uns sanduíches e vamos dormir sonhando com aquele banho quentinho pela manhã.
DIA 2
Acordo de sopetão como sempre, e vou tateando no piloto automático até a cozinha. Pego a chaleira, enfio embaixo da torneira e abro.
NADA.
Nem uma mísera gotinha.
NADA.
Nem uma mísera gotinha.
Fumego até telefone. Oito minutos de uma outra musiquinha pra lá de chata:
- Tivemos um problema: um cano havia rompido no domingo, e depois do conserto quando restabelecemos o fornecimento, outro cano rompeu mais adiante. A previsão de retorno do fornecimento para o seu bairro é ao final da tarde.
A essa altura, começo a despejar clorofina nos vasos, onde testemunhos mudos de nosso vão otimismo flutuam pacificamente. Nada de banho. Uso água da geladeira pro café.
Almoçamos no shopping, aproveitando para usar o banheiro de lá.
A tarde se arrasta seca como a manhã. A noite cai, e nem sinal de vida nos canos.
- A água já voltou? - pergunta o filho voltando do trabalho.
- Água?! Pfff! - rosno fazendo as contas pra janta que vou ter que encomendar.
Pego o telefone. Mais uns seis minutos de outra musiquinha pra lá de chata.
- O fornecimento já foi retomado. A previsão é que a água chege aos encanamentos do seu bairro ainda nesta madrugada.
Dá vontade de arrancar os pelinhos dos braços! Rosno, e dá-lhe mais clorofina. Reunidos na sala, mascamos batatas e hambúrgueres do McDonald's lá sem muito apetite - é difícil manter o apetite quando a gente se sente mais sujo que aiatolá. Botamos o Cloverfield pra rodar e esquecemos da água por umas boas duas horas. Hesito em usar o banheiro antes de dormir, mas diabos! Quando a gente tem que ir a gente tem que ir, né? Tranco a respiração e vamos lá!
DIA 3
Acordo sem saber como caí no sono. Sigo tropeçando até a cozinha, pego a chaleira e... AINDA NADA!!!! Largo a chaleira no fogão e bato os pés até o telefone.
Ocupado.
Insisto.
Ocupado.
Persisto.
Dez minutos de uma musiquinha pra lá de chata.
- O sistema está plenamente restabelecido, a senhora precisa ter paciência, porque a água precisa ganhar pressão nos canos pra chegar às zonas mais altas, mas vai voltar ainda hoje, com certeza!
Desligo o telefone com coçeira nas penas e sentindo os dedos dos pés grudados.
- P****!!! AINDA NÃO TEM ÁGUA!!! - esbraveja o filho acordando.
Derreto o gelo das bandejas pra fazer café.
Dez e meia da manhã, e nada da bendita. Ligro pra minha mãe:
- ... pois é, aqui nem faltou! Se quiser pode vir tomar banho aqui.
Onze e meia, desisto de esperar e vou filar um banho quente na casa da mamãe. Aproveito pra pegar um galão de cinco litros e encher de água da torneira pra alguma emergência.
Almoço no shopping de novo. Passo no super e renovo o estoque de clorofina. Na volta, ligo outra vez pro DMAE.
Ocupado.
Depois de oito tentativas, desisto e trato de pegar no batente. A tarde vai passando. Vez por outra abro esperançosa a torneira do banheiro de visitas. Nada.
Oito e meia da noite. Nada de água. E eu tinha planejado e comprado comida pra almoço e janta até quarta feira! Nem ouso olhar o estado das carnes e verduras quarando na geladeira. Rangendo os dentes, ligro pro DMAE.
O telefone toca duas vezes e entra a musiquinha:
...Don't say words you're gonna regret
Don't let the fire rush through your head
I've heard the accusation before
And I ain't gonna take anymore...
Desligo.
- Tivemos um problema: um cano havia rompido no domingo, e depois do conserto quando restabelecemos o fornecimento, outro cano rompeu mais adiante. A previsão de retorno do fornecimento para o seu bairro é ao final da tarde.
A essa altura, começo a despejar clorofina nos vasos, onde testemunhos mudos de nosso vão otimismo flutuam pacificamente. Nada de banho. Uso água da geladeira pro café.
Almoçamos no shopping, aproveitando para usar o banheiro de lá.
A tarde se arrasta seca como a manhã. A noite cai, e nem sinal de vida nos canos.
- A água já voltou? - pergunta o filho voltando do trabalho.
- Água?! Pfff! - rosno fazendo as contas pra janta que vou ter que encomendar.
Pego o telefone. Mais uns seis minutos de outra musiquinha pra lá de chata.
- O fornecimento já foi retomado. A previsão é que a água chege aos encanamentos do seu bairro ainda nesta madrugada.
Dá vontade de arrancar os pelinhos dos braços! Rosno, e dá-lhe mais clorofina. Reunidos na sala, mascamos batatas e hambúrgueres do McDonald's lá sem muito apetite - é difícil manter o apetite quando a gente se sente mais sujo que aiatolá. Botamos o Cloverfield pra rodar e esquecemos da água por umas boas duas horas. Hesito em usar o banheiro antes de dormir, mas diabos! Quando a gente tem que ir a gente tem que ir, né? Tranco a respiração e vamos lá!
DIA 3
Acordo sem saber como caí no sono. Sigo tropeçando até a cozinha, pego a chaleira e... AINDA NADA!!!! Largo a chaleira no fogão e bato os pés até o telefone.
Ocupado.
Insisto.
Ocupado.
Persisto.
Dez minutos de uma musiquinha pra lá de chata.
- O sistema está plenamente restabelecido, a senhora precisa ter paciência, porque a água precisa ganhar pressão nos canos pra chegar às zonas mais altas, mas vai voltar ainda hoje, com certeza!
Desligo o telefone com coçeira nas penas e sentindo os dedos dos pés grudados.
- P****!!! AINDA NÃO TEM ÁGUA!!! - esbraveja o filho acordando.
Derreto o gelo das bandejas pra fazer café.
Dez e meia da manhã, e nada da bendita. Ligro pra minha mãe:
- ... pois é, aqui nem faltou! Se quiser pode vir tomar banho aqui.
Onze e meia, desisto de esperar e vou filar um banho quente na casa da mamãe. Aproveito pra pegar um galão de cinco litros e encher de água da torneira pra alguma emergência.
Almoço no shopping de novo. Passo no super e renovo o estoque de clorofina. Na volta, ligo outra vez pro DMAE.
Ocupado.
Depois de oito tentativas, desisto e trato de pegar no batente. A tarde vai passando. Vez por outra abro esperançosa a torneira do banheiro de visitas. Nada.
Oito e meia da noite. Nada de água. E eu tinha planejado e comprado comida pra almoço e janta até quarta feira! Nem ouso olhar o estado das carnes e verduras quarando na geladeira. Rangendo os dentes, ligro pro DMAE.
O telefone toca duas vezes e entra a musiquinha:
...Don't say words you're gonna regret
Don't let the fire rush through your head
I've heard the accusation before
And I ain't gonna take anymore...
Desligo.
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