3 de mai. de 2013

O LAMENTO DAS ÁRVORES



As árvores falam. Nós é que não escutamos.

Árvores saudáveis emitem sons totalmente diferentes de árvores sedentas ou estressadas.

Como as árvores emitem sons, se são desprovidas de "aparelho fonador"?

Foi observando as árvores, particularmente a maneira como elas absorvem a água do solo que muito se assemelha a bebermos suco de um canudinho, que um grupo de cientistas da Universidade de Grenoble, na França, se perguntou: se canudinhos fazem barulho, será que as árvores fazem barulho também?

Bingo!

A voz das árvores provém do xilema, o conjunto de dutos por onde circulam os nutrientes de forma similar ao nosso sistema vascular.

Mas a semelhança pára por aí: desprovido de um invólucro que contenha os líquidos, o xilema das árvores depende exclusivamente da força de atração das moléculas da água para que a circulação ocorra, e como as árvores não têm um coração para manter esse fluxo nem tampouco um sistema próprio de regulação térmica para mantê-lo na temperatura ideal para fluir, elas usam a pressão para forçar a circulação - uma pressão às vezes bem maior que a pressão atmosférica.

De maneira similar ao que ocorre quando chegamos ao fundo do copo com o canudinho, as árvores precisam aumentar a pressão para absorver a água. Esse aumento na pressão pode ocasionar rupturas nas colunas de água que constituem o xilema, permitindo a formação de bolhas de ar, um fenômeno que engenheiros e físicos denominam "cavitação":

A cavitação é um fenômeno originado em quedas repentinas de pressão, geralmente observado em sistemas hidráulicos. A combinação entre a pressão, temperatura e velocidade resulta na liberação de ondas de choque e micro-jatos altamente energéticos, causando a aparição de altas tensões mecânicas e elevação da temperatura, provocando danos na superfície atingida. (fonte: Wikipédia)

Há décadas que os cientistas e engenheiros florestais têm se debruçado sobre o fenômeno da cavitação, pois é responsável por uma crescente mortandade de árvores em parques, reservas e reflorestamentos.

Há milênios os povos nativos deste planeta têm ouvido o lamento das árvores. Mas nossa cultura cartesiana e nossos sentidos entorpecidos pelo bombardeio sensorial das cidades, somados à arrogância com que desdenhamos e marginalizamos tudo que não constitua um eco de nossas crenças e convicções só tornou o fato aceitável depois que muito dinheiro foi investido para que um time de cientistas entrasse em um laboratório altamente equipado, cortasse uma fatia de madeira de pinho e a inserisse em uma cápsula de gel líquido para simular as condições dentro de uma árvore viva, então evaporasse a água simulando uma seca para causar a cavitação, filmando, gravando e registrando a formação de bolhas dentro da madeira.

Dos sons registrados, só metade correspondia à cavitação em si. O resto advinha de outros processos como a invasão de células vizinhas. Mas o mais importante é que cada tipo de evento produzia um padrão sonoro único, numa amplitude acima da nossa capacidade auditiva.

Ao final desse experimento, o grupo concluiu que é possível que as árvores tenham um léxico, ou vocabulário e é possível desenvolver um dispositivo capaz de ouvir as árvores e emitir sinais correspondentes a cada padrão sonoro - basicamente um indicativo do "humor" das árvores.

Num futuro talvez não muito distante, e onde for economicamente interessante, é claro; veremos árvores com tais dispositivos presos em seus troncos. Como o que interessa e move tudo neste mundo é a economia, penso que tais dispositivos irão dispor tão somente de uma luz vermelha, indicando que aquela árvore está sofrendo uma crise de cavitação e precisa ser regada imediatamente.

Há que se levar em conta que o experimento foi conduzido em laboratório e usando um pedaço de madeira já estressado pelo corte. Também é relevante considerar a imensa variação na densidade da madeira (com efeito direto na quantidade de pressão existente dentro do xilema) de uma espécie para a outra - e são centenas de milhares de espécies no planeta.

Outro ponto relevante: o experimento tinha o objetivo específico de detectar os sinais de stress emitidos pela madeira pela falta de água, nada mais; porque os cientistas andam muito preocupados com o aumento das secas e suas consequências catastróficas para a economia, particularmente porque os desastres naturais decorrentes do aquecimento global não fazem distinção entre países ricos e pobres.

De minha parte, gostaria de ter um aparelhinho para escutar as árvores, particularmente para "conversar" com o amado plátano que habita em frente à minha janela.

Alguém bem que podia desenvolver um aplicativo para celular, assim qualquer um que quisesse só precisaria encostar o aparelho numa árvore para saber como ela anda de saúde.

Assim, prefeito nenhum poderia dizer que não estamos "aproveitando" as árvores.

De minha parte, as "aproveito" ao extremo toda a vez que olho pela janela - pra não dizer só toda a vez que respiro.

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