Em 2006 a morte de dois jovens filhos de imigrantes eletrocutados quando supostamente fugiam da polícia serviu de bandeira a 21 dias consecutivos de tumultos, quebradeiras e saques nos "subúrbios" de Paris, levando o governo a decretar Estado de Emergência.
Falar em "subúrbio" é eufemismo: tais áreas constituem-se mais propriamente em guetos habitados por imigrantes - em sua maioria originários do Norte da África - que, da sociedade francesa, só têm reconhecidos seus deveres e obrigações. De resto, devem manter-se humildes, laboriosos e, acima de tudo, gratos pela promessa de prosperidade oferecida (mas nunca cumprida) pelo civilizado "primeiro mundo".
Embora seja clara e límpida a causa daquelas revoltas, seu objetivo restou dúbio e nebuloso: legítimos representantes da geração playstation, aqueles jovens careciam de todo e qualquer conteúdo ideológico: queimar, apedrejar, depredar e saquear propriedade alheia resumiram-se à expressão irracional de uma raiva subitamente desperta de sua letargia.
O videogame se repete, agora na Grécia. "Estado assassino", é tudo que os jovens gregos têm a dizer ao mundo, enquanto assistimos assombrados a explosão de sua ira.
Quando se vê na imprensa imagens de jovens encarando a polícia de choque, armados com pebras, paus ou coquetéis molotov, é natural que nos venha a memória o tsunami de 1968. Mas qualquer tentativa de associação pára por aí.
A juventude que foi às ruas em 68 era, na imensa maioria, constituída por jovens universitários de classe média; e as manifestações não se restringiam às ruas. Na verdade, as manifestações de rua foram a expressão menor daquele movimento sustentado por uma ampla rede de debates e assembléias que se repetiram dos pátios às salas de aula em instituições de ensino superior por praticamente todo o ocidente.
Os atos de violência não eram explosões alienadas, mas manifestações orquestradas cujo único objetivo era atrair para si as lentes da mídia - esta sim interessada na violência como espetáculo. Não pense que repórteres não foram convidados a participar das longas jornadas de debates e discussões. Foram sim, e muitos se fizeram presentes, mas as redes de rádio, jornal e televisão não viram nenhum potencial aumento de vendas ou audiência em retratar grupos de estudantes sentados a discutir política por horas e horas a fio.
Partiu, portanto, da própria mídia, mesmo que indiretamente, a idéia do quebra-quebra. E foi com aquela imagem que ficaram marcados os jovens de 68, uma geração legitimamente revolucionária, dotada de ideologia própria e capaz de articular-se dentro dos melhores princípios democráticos; uma geração a quem devemos a liberdade civil, os direitos humanos e o próprio movimento ecológico, hoje tão em moda.
Que idéias sustentam os movimentos dos jovens na França e na Grécia neste século XXI? Que bandeiras sustentam? Por quê lutam?
Nem eles o sabem. Como ovelhas cruzando um riacho, seguem por onde outros foram; simplesmente vão. São o reflexo da sociedade massificada, acéfala e carente de conteúdo a que chegamos.
Pelo excesso, perdemos a capacidade de classificar, priorizar e sistematizar informações; como esponjas, absorvemos rapidamente os fragmentos que o imediatismo nos permite assimilar sem nos darmos tempo de ponderar: nos restringimos a acumular conhecimentos aleatórios, ao sabor das rodas de conversa, alimentadas pelas manchetes da mídia.
Vivemos atentos somente à forma como expressão. Abandonamos o conteúdo a um estágio límbico, latente: a menor manifestação é sentida como o desconforto de um estômago cheio que tratamos com a panacéia antiácida do entretenimento.
Emburrecemos aritimeticamente como indivíduos e geometricamente como sociedade.
Por ora, nos sustentam as bases assentadas pelas gerações que nos precederam, as quais ainda retinham noções de civilidade, de ética e moral. Mas isso é só uma questão de tempo: A Europa já está mudando. No rastro do 11 de Setembro, os direitos à privacidade e inviolabilidade vêm sendo sistematicamente banidos e, veja você, com o apoio maçiço da população - filhos e netos das mesmas pessoas que a duras penas forjaram as leis que puseram o Estado a serviço do indivíduo.
Essa é a raiva que consome inconscientemente a geração playstation: o trem da história está perdido e eles não sabem nem por onde começar.
Falar em "subúrbio" é eufemismo: tais áreas constituem-se mais propriamente em guetos habitados por imigrantes - em sua maioria originários do Norte da África - que, da sociedade francesa, só têm reconhecidos seus deveres e obrigações. De resto, devem manter-se humildes, laboriosos e, acima de tudo, gratos pela promessa de prosperidade oferecida (mas nunca cumprida) pelo civilizado "primeiro mundo".
Embora seja clara e límpida a causa daquelas revoltas, seu objetivo restou dúbio e nebuloso: legítimos representantes da geração playstation, aqueles jovens careciam de todo e qualquer conteúdo ideológico: queimar, apedrejar, depredar e saquear propriedade alheia resumiram-se à expressão irracional de uma raiva subitamente desperta de sua letargia.
O videogame se repete, agora na Grécia. "Estado assassino", é tudo que os jovens gregos têm a dizer ao mundo, enquanto assistimos assombrados a explosão de sua ira.
Quando se vê na imprensa imagens de jovens encarando a polícia de choque, armados com pebras, paus ou coquetéis molotov, é natural que nos venha a memória o tsunami de 1968. Mas qualquer tentativa de associação pára por aí.
A juventude que foi às ruas em 68 era, na imensa maioria, constituída por jovens universitários de classe média; e as manifestações não se restringiam às ruas. Na verdade, as manifestações de rua foram a expressão menor daquele movimento sustentado por uma ampla rede de debates e assembléias que se repetiram dos pátios às salas de aula em instituições de ensino superior por praticamente todo o ocidente.
Os atos de violência não eram explosões alienadas, mas manifestações orquestradas cujo único objetivo era atrair para si as lentes da mídia - esta sim interessada na violência como espetáculo. Não pense que repórteres não foram convidados a participar das longas jornadas de debates e discussões. Foram sim, e muitos se fizeram presentes, mas as redes de rádio, jornal e televisão não viram nenhum potencial aumento de vendas ou audiência em retratar grupos de estudantes sentados a discutir política por horas e horas a fio.
Partiu, portanto, da própria mídia, mesmo que indiretamente, a idéia do quebra-quebra. E foi com aquela imagem que ficaram marcados os jovens de 68, uma geração legitimamente revolucionária, dotada de ideologia própria e capaz de articular-se dentro dos melhores princípios democráticos; uma geração a quem devemos a liberdade civil, os direitos humanos e o próprio movimento ecológico, hoje tão em moda.
Que idéias sustentam os movimentos dos jovens na França e na Grécia neste século XXI? Que bandeiras sustentam? Por quê lutam?
Nem eles o sabem. Como ovelhas cruzando um riacho, seguem por onde outros foram; simplesmente vão. São o reflexo da sociedade massificada, acéfala e carente de conteúdo a que chegamos.
Pelo excesso, perdemos a capacidade de classificar, priorizar e sistematizar informações; como esponjas, absorvemos rapidamente os fragmentos que o imediatismo nos permite assimilar sem nos darmos tempo de ponderar: nos restringimos a acumular conhecimentos aleatórios, ao sabor das rodas de conversa, alimentadas pelas manchetes da mídia.
Vivemos atentos somente à forma como expressão. Abandonamos o conteúdo a um estágio límbico, latente: a menor manifestação é sentida como o desconforto de um estômago cheio que tratamos com a panacéia antiácida do entretenimento.
Emburrecemos aritimeticamente como indivíduos e geometricamente como sociedade.
Por ora, nos sustentam as bases assentadas pelas gerações que nos precederam, as quais ainda retinham noções de civilidade, de ética e moral. Mas isso é só uma questão de tempo: A Europa já está mudando. No rastro do 11 de Setembro, os direitos à privacidade e inviolabilidade vêm sendo sistematicamente banidos e, veja você, com o apoio maçiço da população - filhos e netos das mesmas pessoas que a duras penas forjaram as leis que puseram o Estado a serviço do indivíduo.
Essa é a raiva que consome inconscientemente a geração playstation: o trem da história está perdido e eles não sabem nem por onde começar.
mais ou menos as falas ruim e fotos boas
ResponderExcluirruim e bom
ResponderExcluirbom
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