Ele se chama Montasser al Zaidi, tem 29 anos e há três é reporter de uma rede de televisão privada Al-Baghdadiya. Já foi preso duas vezes pelas tropas de ocupação e uma pelos Xiitas e, segundo consta, tem ligações profundas com o regime de Saddam Hussein. É noivo, mas afirma que só contrairá as núpcias no dia em que os americanos deixarem o Iraque.
Ao assistir ao vivo e a cores o cínico quase-ex-presidente americano afirmar sorridente que meia década de invasão do Iraque fora necessária à segurança dos EUA, a estabilidade do Iraque e à paz mundial, ele explodiu: arrancou do pé o primeiro sapato e mirou em cheio na testa de jorginho-filho, gritando: "Este é beijo de despedida, pedaço de cão!"
Aqui faz-se importante ressaltar que na complexa escala de insultos da não menos complexa cultura muçulmana, cães e sapatos disputam palmo a palmo a supremacia.
Para seu desapontamento (e porque não dizer do planeta), Jorgihno-filho é tão bom na esquiva como na engambelação.
Sem titubear, al Zaidi arrancou o segundo sapato e mandou ver, desta vez pelas viúvas, pelos órfãos e por todos que morreram no Iraque.
Há pouco, a rede de tevê iraquiana Al-Sharqiya informou que se encontra preso em Camp Cropper, uma prisão mantida pelas forças americanas no aeroporto de Bagdá. Ele teria costelas fraturadas, sinais de tortura e estaria incapacitado de mover o braço direito. Não tenho como confirmar a história, mas também não tenho como desmentir, portanto fica aí o registro.
Enquanto isso, pelo mundo a fora - incluindo os próprios Estados Unidos - pipocam manifestações de apoio ao gesto que vai entrar para a história como o legado final da sórdida "era Bush".
O Code Pink, um grupo de mulheres americanas contrárias à guerra do Iraque, prepara o envio à Casa Branca de tantos sapatos quantos puder arrecadar, inscrevendo em cada um o nome de um iraquiano morto durante a ocupação. "Quem deveria estar na prisão é George Bush, e deveria ser acusado de crimes de guerra", sentencia sua líder Medea Benjamin.
Se depender de defesa, al Zaidi não vai murchar na prisão: uma legião de advogados já se mobilizou pelos quatro cantos do planeta: "É o mínimo que podemos fazer para um iraquiano que se voltou contra um tirano criminoso como Bush, que já matou 2 milhões de pessoas no Iraque e no Afeganistão", afirmou Khalil Doulaïmi, advogado que defendeu Saddam Hussein. A propósito, Doulaïmi prepara uma interessante tese de defesa: não há crime (a agressão a chefe de estado estrangeiro é crime previsto em Lei no Iraque, e sujeito a detenção de até dois anos), mas legítima defesa, pois os EUA invadiram e ocupam o Iraque. Em face disso, toda a resistência torna-se legítima. Até o arremesso de sapatos contra o chefe do estado agressor.
Já dá pra ver que qualquer processo contra al Zaidi promete converter-se no julgamento da própria invasão norte-americana, o tipo de batata quente que nenhum juiz iraquiano quer ter que segurar com as próprias mãos. Vai ser um exercício e tanto pro governo biônico do Iraque se livrar dessa saia justa.
"Jogar sapatos na cara de Bush é a resposta normal e adequada a tudo o que foi cometido por este 'criminoso' e seu bando de assassinos contra o povo iraquiano", adianta um grupo de teólogos, advogados e cientistas iraquianos.
Ao mesmo tempo que proclamavam al Zaidi "herói nacional", iraquianos furiosos tomaram as ruas protestando contra sua detenção. Do gesto do jornalista surgiu um novo esporte nacional: arremesso de sapato contra ianque. Não creio, no entanto, que o Comitê vá incluir essa nova modalidade para as próximas olimpíadas. Uma pena.
Vale a pena (sempre) ver de novo:
Se você também gostaria de poder dar uma sapatada no quase-ex-presidente americano, experimente este link.
porque ao invés de limonada - uma caipirinha?
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