28 de jun. de 2009

COMO MATAR UMA UNIVERSIDADE

Parece que quanto mais se fala que a saída pro país é a educação, menos se faz na prática. O maior exemplo é o caso da UERGS, concebida pra descentralizar o ensino universitário no RS, instalando unidades em centros menores, e com isso evitando a evasão de capital humano das regiões onde ele é mais necessário.

Ou você acha que não?

Acha que alguma universidade privada ia sequer considerar uma unidade em Sananduva?

Pois a UERGS tem uma unidade de ensino lá, como em outros 23 municípios. Segue a lista: Alegrete, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Cruz Alta, Erechim, Guaíba, Montenegro, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, São Borja, São Luiz Gonzaga, Três Passos, Bagé, Cachoeira do Sul, Cidreira, Encantado, Frederico Westphalen, Ibirubá, Novo Hamburgo, Santana do Livramento, São Francisco de Paula, Tapes e Vacaria.

Herança do governo Olívio e uma conquista dos municípios cansados da evasão de jovens para o "alegre" porto dos gaúchos, a UERGS está morrendo à míngua graças ao empenho sistemático do governo atual em seu desmantelamento.

Se não concorda, dê uma olhadinha no gráfico abaixo. Ele mostra a dotação orçamentária da UERGS ao longo de sua existência.


Só no governo da tia o orçamento despencou 18 milhões. O Olívio criou a UERGS e ao deixar o governo a deixou com um orçamento de 18,9 milhões. Durante o governo Rigotto, a UERGS chegou aos 30 milhões, em 2006.

Isso é o "jeito tucano de governar", é mais uma das "mudanças" da tia lá do Piratini: sucatear o Estado pra fortalecer a iniciativa privada, palavrório bonito que se traduz em entregar os aparelhos do estado de mão beijada pra cupinchada, coisa que dá no que está dando a tal da crise, mas tudo bem, não? Dando pra comprar um I-phone e trocar de carro a cada dois anos tá tudo bem, não é? Pobreza é falta de criatividade.

A gente já viu isso no governo Brito - mas parece que a gauchada não aprendeu nada.

Aí o Conselho de Educação vai fazer vistoria na UERGS. E se depara com um quadro tenebroso, nas palavras da Zero Hora: "unidades instaladas em espaços inadequados, bibliotecas peladas, professores escassos".

É claro que não podem liberar novas turmas. Dos 72 pedidos feitos pela UERGS entre 2005 e 2008, só 42 foram aprovados. E ainda assim, segundo o Conselho, só pra não prejudicar os alunos que já estavam matriculados.

Voltando ao exemplo de Sananduva, os laboratórios de química e biologia até hoje não foram desencaixotados. Isso mesmo. Segundo a Zero Hora, balanças de precisão, microscópios e outros equipamentos essenciais ao ensino continuam encaixotados porque a grana pra montar os laboratórios simplesmente não foi liberada pelo Governo do Estado.

Não bastassem as míseras condições de trabalho, os salários dos professores são aviltados e as contratações necessárias simplesmente não acontecem porque o Governo Yeda não quer.



Isso tudo se reflete no número de matrículas e de formandos, como se vê nos gráficos a seguir:





Há esperança?

A prefeitura de Alegrete, por exemplo, investiu 100 mil Reais em melhorias da unidade da UERGS instalada no município. Desanimado, o município vê aproximar-se a formatura dos últimos alunos e poucas são as esperanças que nova turma vá se formar.

Com a palavra, o prefeito de Alegrete, Erasmo Guterres Silva, do PMDB:

O governo do Estado quer fechar. Não tenho dúvidas. Tentamos negociar com a universidade, mas só recebemos negativas. É muito deprimente.

Em São Borja, pra manter a UERGS funcionando, a prefeitura cedeu uma área de 1.120 metros quadrados em prédio próprio e assumiu as despesas com internet, luz, água e segurança.

Dos 300 alunos que por lá circulavam, divididos em três cursos, hoje restam apenas 15 de uma mesma turma, assistidos por dois professores e três funcionários.

Mas a prefeitura de Sao Borja não desiste - ah, como seria bom se a gauchada aqui de POA não tivesse perdido esse espírito Farrapo! - e está decidida a promover um novo vestibular. Para isso obteve por escrito o compromisso dos professores de outros polos para lecionar na cidade, oferecendo a eles alojamento e alimentação.

Isso mostra que não há só o interesse, há a necessidade da existência de uma instituição de ensino superior que atenda a regiões onde o ensino pára no segundo grau, ou todo o investimento das redes municipais de ensino vai continuar indo pro ralo dos faraônicos escritórios envidraçados que poluem o horizonte de uma Porto Alegre inflacionada de recém-formados em busca de alguma oportunidade.

Essa massa que as universidades da Grande Porto Alegre despejam nas ruas a cada semestre não está multiplicando geograficamente o conhecimento, não está contribuindo para o desenvolvimento harônico do Estado como um todo, não. Ela se concentra aqui, e se perde em administradores pilotando táxis, engenheiros nas roletas dos ônibus e advogados supervisionando caixas de supermercados.

Por tudo isso obrigado, Yeda. Você é mesmo a mudança que o Rio Grande tanto precisava.

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