4 de out. de 2008

TOUPEIRAS


Leio na Folha de hoje a seguinte manchete:

Federação de cegos dos EUA pede boicote a "Ensaio sobre a Cegueira"

"Os cegos aparecem no filme como incompetentes, sujos, viciados e depravados. São incapazes de fazer as coisas mais simples, como se vestir, se lavar e encontrar o banheiro. A verdade é que as pessoas cegas normalmente fazem as mesmas coisas que as que podem ver", disse Marc Maurer, presidente da NFB em comunicado.

Às vezes a gente se surpreende com a capacidade humana para a estupidez.

Num esforço para me ater a estreiteza de visão (com o perdão do trocadilho) do presidente da NFB; pelo que sei da trama do filme, o fato de os cegos serem retratados como o são é perfeitamente crivel: se os membros da NFB são autônomos e capazes de equiparar-se a pessoas ditas "normais" é porque anos de treinamento assim o possibilitaram. Não é o caso das personagens de Saramago, vitimas de uma subita e avassaladora epídemia. Não precisa ser nenhum Einstein pra deduzir que se você ficar cego de uma hora pra outra vai ficar muito difícil se virar por aí. Qualquer um que tenha feito um exame de fundo de olho sabe bem do que eu falo.

Nem a Disney (por sinal distribuidora do filme através da Miramax), compraria o mundo encantado de bilhões de novos-cegos miraculosamente capazes de se vestir, cozinhar, pegar o ônibus e ir trabalhar como se nada tivesse acontecido.

Não vou nem argumentar que o livro de Saramago é uma metáfora - metáforas estão a cada dia mais distantes da capacidade de compreensão do fanáticos pregadores do fundamentalismo politicamente correto.

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