1 de out. de 2008

VIVA O LIBERALISMO DEMOCRÁTICO!


Dentro do mais genuíno espírito liberalista-democrático, a municipalidade de Porto Alegre governa para a maioria, não as excessões.

Tome-se a temporização dos semáforos para pedestres como exemplo: numa tacanha tentativa de reduzir congestionamentos, a temporização dos semáforos para pedestres foi reduzida ao tempo mínimo necessário para uma pessoa normal percorrer a distância entre as duas calçadas.

Idosos, mães levando crianças pela mão e pessoas com dificuldades de locomoção precisam contar com a educação dos motoristas para finalizar a travessia. O que costumam receber é muito xingatório e buzinaço, quando não são confrontados pelos roncos de motores que arrancam e freiam numa ameaça velada.

Na esquina da Ramiro com a Independência, o pedestre tem cerca de 12 segundos para percorrer os 10 metros que o separam da calçada oposta. Diz a Zero Hora: Os 12 segundos para os 10 metros de pista são suficientes para a maioria, desde que se comece a caminhar no momento em que surge a luz verde.

Na esquina da Sarmento Leite com a Osvaldo Aranha, um dos cruzamentos de trânsito mais intenso da cidade, o pedestre tem cerca de 17 segundos pra completar uma travessia de 16 metros.

O que diz a EPTC?


É claro que é uma média. Pessoas mais velhas ou com deficiência podem ter dificuldade, mas temos de ter uma referência. Gostaríamos de oferecer uma margem maior, mas o número de carros e os congestionamentos nos obrigam, cada vez mais, a ficar no limite permitido, jamais abaixo dele.


É o pensamento liberalista em ação. Velhos, crianças e deficientes representam um vermelho no custo-benefício de qualquer administração pública com suas necessidades especiais mais os tratamentos médicos, remédios e pensões; ao mesmo tempo em que se encontram à margem da dita "cadeia produtiva". Curto e grosso: velho, criança e deficiente não tem valor de mercado. E isso, na cabeça do liberal se traduz ainda mais resumidamente em NÃO TEM VALOR, PONTO.

Entre os anos 70 e 80, admiramos de olhos escancarados os avanços do primero mundo no sentido de uma JUSTIÇA SOCIAL. Admiramos tanto, que lutamos para adotá-los, e, nesse sentido, em meados da década de 90 evoluímos como sociedade trazendo de volta às ruas os idosos e deficientes até então condenados a uma vida de reclusão, isolamento e, em alguns casos, execração social. Elevamos também o status das crianças, até então vistas e entendidas como "folhas brancas" nas quais a sociedade viria a imprimir suas crenças e valores.

Mas eis que os liberais entraram em cena. Laissez faire, laissez passer... Trazemos uma nova revelação! - disseram eles - o mercado é uma divindade com poderes de geração e regeneração; capaz de se auto-gerir e auto-resolver sem a necessidade da intervenção de políticos ou meros mortais. O mercado é a resposta para as mais profundas angústias e inquietações do homem, e o consumo a panacéia para todos os males sejam físicos, emocionais ou morais. O mundo "ocidental" entrou de cabeça nessa baboseira.

E nisso, quando nos achávamos às portas da Era de Aquário (onde confiança, solidariedade, entendimento, paz, igualdade e harmonia haveriam de reinar entre os homens), no limiar do 3° Milênio, RECUAMOS 200 ANOS NA HISTÓRIA.

Oh, não? Pois saiba você: o liberalismo, como idéia, é tão moderno quanto Adam Smith, seu idealizador, que viveu na Escócia de 1723 a 1790, no alvorecer da Revolução Industrial. Isso mesmo: é VE-LHO. Bota velha nisso, mais velho que a Rainha Vitória (1819-1901). Sua retórica serviu pra justificar muitas das barbaridades que a gente leu em livros como Oliver Twist (1838). Pra não falar das barbaridades que temos visto recentemente.

Por isso, caro leitor, começe a usar o músculo que traz acima do pescoço. Ideologia não é coisa do passado, nem muito menos uma entidade etérea a pairar dissociada do cotidiano.

A ideologia influencia toda a qualquer ação humana, particularmente na administração pública. É a partir dos seus repertórios de convicções que os administradores e políticos decidem o que acham ser melhor para eu ou você.

E eles tem, sim, o poder de transformar nossas vidas num inferno, porque nos afetam em coisas grandes e pequenas, desde a prosperidade da nação como um todo até as coisas pequenas como o stress de ter que atravessar as ruas correndo como um louco pra não ser atropelado entre a casa e a farmácia.

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