Uma indignidade.
Assim refere-se nossa governadora à iniciativa de seu vice (aquele baixinho careca com quem aparecia toda sorridente nos cartazes de campanha) de gravar conversa com seu chefe de gabinete.
Uma indignidade.
Apesar de tantos trechos inaudíveis, fica clara no entanto a mensagem do chefe de gabinete: desde que o mundo é mundo neste Estado se loteiam cargos e autarquias para a locupletação de "políticos" e "partidos".
Que a gravação do senhor Feijó sirva para levantar o véu da hipocrisia e do proselitismo da superioridade gaudéria, e nossas vestais deixem de desfilar em Brasília torcendo o nariz para o resto do país.
Não somos melhores do que o Piauí, o Acre ou a Paraíba. Nosso santo gaudério, tão efusivamente louvado em prosa e verso tem pés de barro.
Falam no impeachment da governadora. Ora, convenhamos, não é dessa, nem das administrações recentes o privilégio da engenhosa criação da máfia que assalta nossos bolsos de contribuintes enquanto escarnece de nossa vaidade regional. Yeda, como Rigotto, como Olívio, como Meneghetti, Peracchi, Triches, Guazzelli, Amaral, Jair Soares, Simon, Collares, Antônio Brito; para citar tão somente os que assentaram ao trono do Piratini desde a ditadura; todos, sem excessão, tiveram que lidar com essa rede subterrãnea, essa dinastia do crime institucionalizado e enraizado nos porões da sede de nosso governo estadual. O máximo que conseguiram foi reduzir os proventos dessa corja. Mas, em nossa história, não houve político capaz de cortar esse mal pela raiz. Pergunte a qualquer um deles, pergunte se já durante a campanha não foi assediado pelos patrões do CTC (Centro de Tradições da Corrupção).
Busatto não inventou essa roda. Tampouco é ele o motor. Busatto é apenas uma das centenas de aros que sustentam essa máquina, a mesma que investe milhões em propaganda para alardear o dito "orgulho de ser gaúcho".
É hora de aceitarmos o fato de que não foi por ter nascido gaúcho que Getúlio Vargas foi o homem que foi. Tampouco o foram Brizola, Bento Gonçalves e os vultos do Decênio Heróico. Sua grandeza não veio do solo onde nasceram, assim como o fato de termos nascido gaúchos não faz de nós seus herdeiros naturais, bastiões da honra e da virtude, exemplo para o resto do país.
Urge que todo gaúcho páre e reflita com profundidade sobre a distância entre os valores que apregoamos e os que praticamos como sociedade. Somos autofágicos e insensíveis às questões sociais, individualistas para além do egoísmo. Somos, no ranking nacional, sempre o último estado a se mobilizar e manifestar qualquer forma de interesse por soluções práticas aos problemas que afligem o país. Do alto de nosso pedestal, nos arvoramos a advogados da "causa maior", como se a retórica substituísse a ação; e nesse discurso vazio e hipócrita encontramos consolo para o que resta de nossas consciências distorcidas pela mitologia de um passado restrito às churrascarias e CTG's.
Essas palavras não me saem sem profunda tristeza, pois tanto quanto você e milhões de outros gaúchos, meus olhos se enchem de lágrimas ao recitar o hino farroupilha. Minha tristeza, porém, vem da constatação de que poderíamos, de fato, ter servido "de modelo à toda a Terra", poderíamos ter aqui criado um exemplo de sociedade, mas perdemos o bonde da história para o apelo consumista das coberturas e carros de luxo, das viagens a Miami e maravilhas da eletrônica; do imediatismo do primeiro milhão antes dos 40 anos.
Fico com as palavras de Getúlio Vargas. Peço que leiam e reflitam, que transmitam a seus filhos. Talvez a semente do mitológico espírito farrapo visceje em algum lugar do futuro:
(...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
Assim refere-se nossa governadora à iniciativa de seu vice (aquele baixinho careca com quem aparecia toda sorridente nos cartazes de campanha) de gravar conversa com seu chefe de gabinete.
Uma indignidade.
Apesar de tantos trechos inaudíveis, fica clara no entanto a mensagem do chefe de gabinete: desde que o mundo é mundo neste Estado se loteiam cargos e autarquias para a locupletação de "políticos" e "partidos".
Que a gravação do senhor Feijó sirva para levantar o véu da hipocrisia e do proselitismo da superioridade gaudéria, e nossas vestais deixem de desfilar em Brasília torcendo o nariz para o resto do país.
Não somos melhores do que o Piauí, o Acre ou a Paraíba. Nosso santo gaudério, tão efusivamente louvado em prosa e verso tem pés de barro.
Falam no impeachment da governadora. Ora, convenhamos, não é dessa, nem das administrações recentes o privilégio da engenhosa criação da máfia que assalta nossos bolsos de contribuintes enquanto escarnece de nossa vaidade regional. Yeda, como Rigotto, como Olívio, como Meneghetti, Peracchi, Triches, Guazzelli, Amaral, Jair Soares, Simon, Collares, Antônio Brito; para citar tão somente os que assentaram ao trono do Piratini desde a ditadura; todos, sem excessão, tiveram que lidar com essa rede subterrãnea, essa dinastia do crime institucionalizado e enraizado nos porões da sede de nosso governo estadual. O máximo que conseguiram foi reduzir os proventos dessa corja. Mas, em nossa história, não houve político capaz de cortar esse mal pela raiz. Pergunte a qualquer um deles, pergunte se já durante a campanha não foi assediado pelos patrões do CTC (Centro de Tradições da Corrupção).
Busatto não inventou essa roda. Tampouco é ele o motor. Busatto é apenas uma das centenas de aros que sustentam essa máquina, a mesma que investe milhões em propaganda para alardear o dito "orgulho de ser gaúcho".
É hora de aceitarmos o fato de que não foi por ter nascido gaúcho que Getúlio Vargas foi o homem que foi. Tampouco o foram Brizola, Bento Gonçalves e os vultos do Decênio Heróico. Sua grandeza não veio do solo onde nasceram, assim como o fato de termos nascido gaúchos não faz de nós seus herdeiros naturais, bastiões da honra e da virtude, exemplo para o resto do país.
Urge que todo gaúcho páre e reflita com profundidade sobre a distância entre os valores que apregoamos e os que praticamos como sociedade. Somos autofágicos e insensíveis às questões sociais, individualistas para além do egoísmo. Somos, no ranking nacional, sempre o último estado a se mobilizar e manifestar qualquer forma de interesse por soluções práticas aos problemas que afligem o país. Do alto de nosso pedestal, nos arvoramos a advogados da "causa maior", como se a retórica substituísse a ação; e nesse discurso vazio e hipócrita encontramos consolo para o que resta de nossas consciências distorcidas pela mitologia de um passado restrito às churrascarias e CTG's.
Essas palavras não me saem sem profunda tristeza, pois tanto quanto você e milhões de outros gaúchos, meus olhos se enchem de lágrimas ao recitar o hino farroupilha. Minha tristeza, porém, vem da constatação de que poderíamos, de fato, ter servido "de modelo à toda a Terra", poderíamos ter aqui criado um exemplo de sociedade, mas perdemos o bonde da história para o apelo consumista das coberturas e carros de luxo, das viagens a Miami e maravilhas da eletrônica; do imediatismo do primeiro milhão antes dos 40 anos.
Fico com as palavras de Getúlio Vargas. Peço que leiam e reflitam, que transmitam a seus filhos. Talvez a semente do mitológico espírito farrapo visceje em algum lugar do futuro:
(...) Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
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