4 de jun. de 2008

QUANDO O FUTEBOL VIRA DOENÇA


O que os estádios estão ensinando às crianças?

Ódio, segregação, discriminação.

Não sou contra torcidas e torcedores. Em geral a maioria das pessoas vinga reter algum verniz de civilização mesmo quando seu time é roubado flagrante e vergonhosamente.

Infelizmente, no entanto, é crescente (alarmantemente crescente) o número de indivíduos nos quais a sociedade ao que parece falhou estrondosamente em imprimir um mínimo de civilidade. E é justamente no futebol que essas bestas encontram justificativa e oportunidade plenas para deixar aflorar seus instintos mais primitivos.

"A polêmica faz bem ao espetáculo". Qualquer dirigente sabe bem na teoria e na prática. Geralmente, a polêmica faz bem às finanças do clube, aumentando a renda das partidas e motivando torcedores a comprar cada vez mais camisetas, bonés, cuecas, toalhas, canecas, chaveiros e toda a sorte de quinquilharias com as quais os clubes complementam suas já milionárias receitas.

Mas a polêmica também acirra os ânimos e gera atritos desnecessários, transformando vizinhos e colegas de trabalho em arqui-inimigos da noite para o dia. É a gota que faltava, se a isso se acrescenta o simples fato de que é da natureza humana perder a capacidade de discernimento e a noção de individualidade quando vivenciando o êxtase da fusão no "grupo" - essa entidade maior cuja identidade é definida por oposição a outro grupo.

Desde tempos imemoriais líderes locais têm usado as guerras como forma de pacificação dos conflitos internos. Nações se ergueram e se sustentam até hoje com base nesse princípio. Quer prova maior que o fenômeno nazista? Se deseja algo mais "atual", repare na freqüência com que a Casa Branca recorre a um bode espiatório lançando-se em guerras e empreitadas suicidas pelo mundo a fora.

O "grupo" é a tradução prática da metáfora do lobisomem, na qual independente de sua "vontade" ou natural inclinação à prática do bem e da sociabilidade o indivíduo se acha presa de uma maldição que à visão dalua cheia, oblitera sua razão transformando-o numa besta sedenta de sangue.

Já contamos às dezenas os assassinatos motivados anualmente por rixas futebolísticas. Isso sem contar as batalhas campais e depredações, ou os apupos que já começam na escola ainda antes da alfabetização.

Não bastasse isso, via de regra as ditas "torcidas organizadas" constituem celeiros para a formação e disseminação de grupos que pregam o ódio social. Expressões como "nação", "raça", "força" são comuns em faixas e bandeiras estendidas em estádios do Oiapoque ao Chuí. Da pregação à prática é um passo.

Um pequeno passo que nos lança a todos, como sociedade, na vala comum da barbárie.

Por mais que tenha avançado, a tecnologia por si não vai nos redimir.

Pelo contrário: tem servido como arma e munição para gerar mais ódio e barbárie - que o digam os sites de relacionamento e listas de discussão tão populares na internet.

Nenhum comentário:

Postar um comentário