A fome também chegou ao Egito e, ao que parece, para ficar.
"Eu costumava comer carne uma vez por mês, mas ainda não comi este ano", diz Nura Ahmed em entrevista à BBC.
De 1996 a 2006, a fome no mundo se alastrou numa média de 4 milhões de novos famintos ao ano. Com a atual "crise dos alimentos" os números estão aumentando dramaticamente. Ainda não dispomos de dados conclusivos, mas com um aumento médio de 20% nos preços dos alimentos básicos, dá pra ter uma idéia do impacto sobre os bilhões de seres humanos que mal ameaçavam deixar a linha da pobreza absoluta se vêem novamente lançados à miséria total.
Para uma análise mais profunda do problema, sugiro a leitura do artigo The New Face of Hunger.
Enquanto isso, no Norte Maravilha, 25,9 milhões de toneladas de alimentos são jogadas no lixo anualmente (isso sem contar os 27 milhões gerados pelos supermercados, restaurantes e lojas de conveniência). Segundo estudos, isso representa quase 50% dos alimentos produzidos naquele país. Uma família americana joga ao lixo em média 590 dólares de alimentos todo o ano. Grande parte desse lixo é composta por alimentos ainda dentro de seu prazo de validade e nunca abertos. Se apenas 5% dos restos das mesas dos americanos fossem recuperados, a fome de 4 milhões de pessoas seria saciada.
Mas não podemos culpar unicamente o desperdício das pessoas do primeiro mundo. Conforme Jim Goodman, um fazendeiro de Wiscosin que tem rodado o mundo fazendo palestras e tentando organizar e promover manifestações de pequenos fazendeiros contra os conglomerados da agroindústria; o buraco é bem mais embaixo:
"Então, eles (os governos) finalmente entenderam, depois de todos esses anos empurrando a globalização e sementes geneticamente modificadas, que ao invés de alimentar o mundo nós criamos um sistema de alimentação que deixa mais pessoas com fome. Se tivessem ouvido os fazendeiros ao invés das corporações, saberiam que isso iria acontecer."
Conforme John Nichols em artigo publicado no jornal The Nation, "Para além das respostas humanitárias, a cura para o mal que aflige o sistema global de alimentação - e uma instável agroeconomia nos EUA - é parar com a pantomima da globalização e manipulação genética. Tal caminho deixou 37 países em crise alimentar enquanto o gigante internacional de grãos Cargill colheu um aumento de 86% em seus lucros e a Monsanto ceifa vendas recordes de suas sementes e herbicidas. Por anos, as corporações têm prometido aos fazendeiros que problemas seriam solucionados por acordos de mercado e tecnologia - especialmente sementes geneticamente modificadas, que agora conforme sugere estudo da Universidade do Kansas, reduzem a produção de alimentos; e, segundo a IAAST não irão acabar com a fome global. O 'mercado', pelo menos como definido pelo agrobusiness, não está funcionando. Nós 'temos uma horda de negociadores, especuladores e bandidos financeiros que se tornaram selvagens e construiram um mundo de desigualdade e horror', diz Jen Ziegler, advogado do Direto à Comida da ONU. Mas tente dizer isso à administração Bush ou ao presidente do Banco Mundial (e ex representante de negócios da Casa Branca) Robert Zoellick, que anda ocupado explorando a tragédia para promover a liberalização do comércio."
E encerra:
"O Congresso (americano) devia também abraçar políticas de comércio e desenvolvimento que ajudem os países em desenvolvimento a regular mercados com vistas a alimentar os famintos mais do que os lucros das corporações. Este princípio, eu penso, conhecido como "soberania alimentar" vê batalhadores fazendeiros e pessoas famintas e diz, como observa Anuradha Mittal, do Oakland Institute, que é hora de "parar de venerar o chamado dourado do dito mercado livre e abraçar o princípio de que cada país e cada povo tem o direito à alimentação a preços acessíveis." Como diz Mittal, "quando o mercado os priva disso, é o mercado que deve dar."
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