4 de jun. de 2008

EXÉRCITO SILENCIOSO



Tão logo cumpriram a missão de votar em mais um "referendo" (bastante oportuno, por sinal), centenas de milhares de eleitores birmaneses passaram a ser expulsos dos acampamentos provisórios onde ainda podiam manter a ilusão de que algum dia eventualmente alguma ajuda os alcançaria.

A imensa maioria não tem sequer para onde voltar: suas aldeias deixaram de existir.

No caminho, vencendo os obstáculos nas degradadas rotas (que outrora foram estradas), a esperança se materializa nas inconfundíveis túnicas vermelhas. São eles, os monges (sempre eles!) que tomam a si a responsabilidade que caberia ao governo eleito e sustentado pela população.

A eles, e não ao governo, acorrem os ricos e remediados de Mianmar para fazer suas doações aos flagelados. A eles, e não ao governo, acorrem as legiões de famintos em busca de um pedaço de pão, um punhado de arroz, um trapo para se cobrir.

A usurpadora junta militar que provisoriamente se arvora ao poder perdeu o bonde da história e o tempo há de cobrar um preço alto, porque ao sentimento de traição segue-se a revolta e tão logo recuperem suas razões para viver, as legiões de flagelados hão de reverter a marcha, retornando às cidades e cobrando dos tiranos suas vidas devastadas com juros e correção monetária.

Ao seu lado, como sempre, estarão os monges.

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