Ontem de madrugada, ladrões tiveram todo o tempo do mundo pra levantar uma laje de granito do degrau de entrada da uma joalheria, romper os cadeados da cortina de ferro, quebrar a vidraça e finalmente invadir a loja.
Fosse um ponto remoto da cidade, ainda vá. Mas não: foi em plena Protásio Alves lá pelas 3 da manhã.
Pelo menos uma testemunha dispôs-se a falar, afirmando ter sido despertada por "ruídos" na madrugada. "Por medo de levar um tiro", ela preferiu virar para o outro lado e continuar dormindo.
Essa inação tem nome: cumplicidade passiva.
Cada vez que testemunhamos um delito, uma infração, um crime e não informamos a polícia, nos tornamos cúmplices passivos desse delito.
A segurança cabe ao Estado, mas é ao cidadão que cabe acionar os aparelhos que financia com seus impostos para o combate ao crime.
Não há dia em que não ouça pelas ruas as pessoas reclamando da falta de segurança; não há dia que não veja novas grades, novos muros sendo erguidos ao meu redor. Minha rua, outrora tão aprazível de caminhar, hoje definha como um deprimente jardim zoológico.
Não há mais crianças brincando nas calçadas: as grades tomaram o espaço das brincadeiras; e "brincadeira" passou a ser olhar a Xuxa pulando na tela da tevê.
O que as pessoas não mencionam é o seu papel na insegurança. O quanto seu "medo de levar um tiro" facilita a vida dos marginais.
Pra dificultar a vida dos bandidos, não precisa andar armado, não precisa sequer abrir a janela: basta discar 190. Nada assusta mais um marginal do que o piscar intermitente das luzes vermelhas de uma viatura.
E a brigada vem, sim. Digo isso porque já liguei várias vezes, e a Brigada veio sempre.
Cidadania vigilante: se ao tentar praticar um furto ou delito em sua rua o marginal for interrompido pela polícia, pode ter certeza que ele vai pensar duas vezes antes de voltar.
E não importa se é aquele vizinho arrogante que todo mundo detesta - tem um vizinho assim aqui bem do meu lado, e nem por isso eu deixei de chamar a brigada nas duas vezes que reparei que estavam tentando entrar na casa dele. O cara nem agradeceu.
Não precisava. O meu recado era mesmo pros ladrões:
NA MINHA RUA, NÃO!
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