25 de set. de 2008

SINAL DOS TEMPOS

O grafite acima continua causando polêmica na UFRGS.

O estranho é que as reações negativas não partem da reitoria, mas dos integrantes do autoproclamado "Movimento Estudantil Liberdade" que entrou com processo administrativo por "dano ao patrimônio público".

Quando a Secretaria de Assuntos do Estudante viu a manifestação como um ato de extremo instigamento ao pensamento crítico, eivado de indagação filosófica que não desmerece o patrimônio, os ditos "liberais" picharam canhestramente o grafite e ainda colaram por cima um cartazete com os dizeres "censurado". E mais, encaminharam o caso ao Ministério Público Federal pedindo providências.

Nenhuma surpresa aí. Afinal, ao que parece, "liberdade", para os liberais, significa a liberdade deles (consumir, lucrar, explorar, etc...), não a de todos.

Minha surpresa veio pela opinião mais pertinente sobre o assunto, que partiu justamente de uma estudante da pós-graduação em administração (tradicionalmente um reduto "liberal"), para quem a provocação serve tanto para os alunos quanto para os gestores. Do conhecimento gerado aqui, uma instituição pública mantida pela sociedade, o que beneficia a comunidade?

Assino embaixo.

É hora da sociedade brasileira debruçar-se profundamente sobre o que espera do sistema público de ensino, para o qual a sociedade como um todo contribui, formando profissional e intelectualmente uma minoria privilegiada que tão logo dá de mão no diploma, passa a cuidar do próprio enriquecimento em pouco ou nada contribuindo para a sociedade como um todo.

As universidades federais são mantidas pelos impostos cobrados do patrão ao empregado, do magnata ao mendigo (sim, mendigo também paga imposto neste nosso modelo de justiça social). Um tempo atrás ouvi um comentário no rádio sobre os serviços comunitários prestados pelos estudantes do ensino público em um país europeu (a Suécia, se não me engano): em troca da gratuidade da universidade, eles prestam serviços à comunidade.

Na época, escrevi no forum da rádio que seria interessante um sistema similar no Brasil: por que não incluir no currículo de nossas universidades a prestação de serviços à comunidade sob a supervisão dos professores? Sim, isso de certa forma já existe, mas em apenas alguns cursos como o direito, a medicina, a odontologia, pedagogia e letras, se não me engano, e o serviço social. Minha proposta é estender essa rede a todos os cursos oferecidos, já que de uma forma ou de outra, todos têm potencial de contribuição direta e objetiva.

Ganharíamos todos: os estudantes com a experiência e a sociedade com o acesso a produtos e serviços que de outra forma não poderia contratar.

Eu inclusive iria além, estendendo essa disponibilidade para quatro horas semanais por dois a três anos após a formatura. Ganharia o SUS, ganhariam os hospitais e postos de saúde; ganhariam os municípios (os estudantes e recém formados poderiam optar por prestar tais serviços em suas cidades de origem), as comunidades, a rede de ensino, as administrações locais, as pequenas e médias empresas e a cidadania em geral.

A cada ano, nossas universidades públicas despejam entre 20 e 30 mil novos profissionais no mercado de trabalho. Até hoje essa realidade só tem beneficiado grandes empresas e corporações cujos lucros são realimentados pelo ingresso sistêmico de capital intelectual barato altamente motivado e sempre renovado.

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