27 de abr. de 2009

A CULPA NÃO É DO PORCO


No exato momento que escrevo estas linhas, por todo o planeta há milhões de pessoas ingerindo antibióticos. Em muitos casos, a medicação foi devidamente prescrita e as pessoas estão seguindo à risca as indicações médicas quanto à dosagem e horários da medicação. São a minoria. Mais minoria ainda são os que, como eu, desconfiam de médicos que receitem antibióticos indiscriminadamente e vão atrás de uma segunda opinião.

Mas, voltemos aos antibióticos: a verdade - e isso se dá em escala global - é que a maioria das pessoas ou ignora as doses e horários prescritos pelo médico, ou vai além: suprime o médico da equação e toma antibióticos por conta própria.

Pra quem não segue à risca o receituário, uma palavra: se é pra ignorar doses e horários, é melhor nem começar a medicação. Tá bom, você arrisca morrer da doença, mas vai dessa pra melhor com a consciência limpa, pois não terá contribuído para a criação de organismos resistentes à medicação que mais adiante causarão a morte de dezenas, centenas, milhares ou milhões de pessoas.

Não é por nada que se precisa tomar 25 gramas de tal medicação de 6 em seis horas por uma semana, ou 10 gramas de outro de 4 em 4 por 15 dias, e por aí vai... Cada organismo tem suas especificidades (e isso vale tanto do lado do doente como do agente da doença). Como no álcool, os efeitos do antibiótico têm um ciclo em nosso organismo, atingindo o pico e decaindo depois - esse tempo varia dependendo da medicação e da dosagem aplicada. Por isso são precisas várias doses por um determinado período. Armar e resolver essa equação na forma de uma receita eficaz é atributo dos médicos - é pra isso que passam estudando e participando de seminários e cursos de atualização pela vida a fora -, não dos farmacêuticos - por mais que conheçam a química envolvida nos medicamentos.

Se você já experimentou combater cupins ou baratas em casa, aprendeu que eles não desaparecem por completo já na primeira carga de veneno. A primeira carga dá conta de uma boa parte dos insetos, mas sempre há os que sobrevivem à exposição àquela dose de veneno. Enfraquecidos, mas sobrevivem. É preciso persistir na luta e garantir que esses insetos sejam eliminados - se sobreviverem, estarão passando adiante o gene que lhes permitiu sobreviver à dose inicial. Isso você pode vir a descobrir meses depois, quando se deparar com outra infestação para a qual o veneno que combateu a primeira se mostrará ineficaz.

Antibióticos são uma forma de veneno: anti=contra + biotos=meios de vida. E como venenos, não são "inteligentes". Só quem acredita nos "poderes" do Vanish tem a ilusão de que antibióticos atacam somente os microrganismos invasores. Balela: uma dose de antibióticos e sua flora intestinal já começa a capengar. Duas, três e é bom você começar a tomar lactobacilos, porque a digestão vai pras cucuias e você começa a cultivar uma gastrite das boas. Isso sem nem entrar na questão do nosso sistema imunológico ou dos inúmeros microrganismos benignos que ajudam a nos manter saudáveis - eu precisaria escrever um compêndio que você não teria mesmo paciência de ler.

Além disso, somos diariamente bombardeados por cargas de antibióticos. Eles estão bem aí, na sua mesa, no peitinho de frango grelhado que você saboreia junto com a salada acreditando estar ingerindo uma dieta saudável. Saiba que esse inocente franguinho é um coquetel químico dos diabos, repleto de esteróides e, sim, antibióticos. Ou como pensa que os aviários conseguem manter 10 frangos por metro quadrado e fazer com que completem em 40 dias um ciclo de crescimento que leva o dobro pra uma galinha normal?

Começou a coçar atrás da orelha por causa daquele "coquetel anti-gripe" que tomou semana passada? É bom mesmo ir se preocupando.

Se se inclui na segunda categoria (das que citei bem no começo deste post; a que sequer procura o médico e vai se automedicando pela vida a fora), está brincando de roleta russa não só com a sua, mas com a saúde de todos nós. É uma completa irresponsabilidade. Imperdoável e de uma ignorância redundante.

Você está construindo uma bomba biológica, usando seu próprio corpo como tubo de ensaio.

É a mesma coisa que encher a cara, pegar o carro e sair por aí a mil. E não me interessa se seus impostos estão todos em dia, se votou nas últimas eleições e até se está envolvido em alguma meritória ação de voluntariado: você está prestando um desserviço à humanidade que deve (e pode) ser imediatamente corrigido.

Bateu uma gripe? Nada de bezetacil, nada de correr até a farmácia e tomar por conta própria um daqueles "coquetéis anti-gripe" pra não faltar ao trabalho. Procure um médico ou posto de saúde, e nesse meio-tempo, cuide de lavar sempre as mãos e usar um lenço descartável quando tossir e espirrar - e não jogue nunca este lenço no lixo seco. Aliás, o simples hábito de lavar as mãos sempre que chegar em casa já ajuda bastante na prevenção.

E tem como se prevenir. Antes que a coisa assuma proporções apocalípticas, tem como se prevenir com medidas muito simples e que em pleno 3º Milênio já deviam fazer parte de nossos hábitos cotidianos.

Algumas dicas:

Chegando ao trabalho, despois de descer do ônibus ou metrô, lave as mãos antes de cumprimentar qualquer pessoa. Igualmente, lave as mãos ao chegar do supermercado. Por quê? Você iria cair duro com a quantidade de bactérias e microrganismos que se proliferam nas barras de suporte dos transportes coletivos e nos carrinhos de supermercado.

Deu aquela coceira no olho bem no meio da rua? Aguente firme. Não coçe em hipótese alguma. Aliás, mesmo estando em casa nunca leve as mãos aos olhos e à boca sem antes tê-las lavado com bastante água e sabão.

Dor de garganta? Experimente o mel, ou o própolis (este sim, um "antibiótico" natural). Se não resolver, procure o médico.

Está com febre, dor de cabeça e no corpo? Que se dane o chefe ou aquela "reunião importante": fique em casa e preste atenção ao que seu corpo está tentando dizer. A febre não está cedendo? Procure um médico ou posto de saúde imediatamente. Não tenha medo de parecer hipocondríaco - até porque você não estará sendo um, porque hipocondríacos costumam apelar primeiro para as farmácias.

Vivemos 90% de nosso tempo em ambientes fechados, compartilhando o ar com outras pessoas. Somos solidariamente responsáveis pela saúde de todos.

Os super-vírus que andam pipocando por aí não vieram do nada: são fruto (como sempre) da maneira irresponsável com que lidamos com a biotecnologia. São consequência direta por um lado, do uso de antibióticos na criação intensiva de aves e suínos para abastecer o crescente consumo mundial; e por outro do uso abusivo de antibióticos entre humanos.

Um comentário:

  1. Agora falando sério: tuas ilustrações são maravilhosas.
    Vou te linkar, tá?

    CC

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