25 de fev. de 2017

PRECISAMOS FALAR SOBRE O NARCISISMO


O narcisismo é um transtorno de personalidade resultante de traumas emocionais ocorridos na primeira infância que resulta num congelamento da evolução emocional nessa fase do desenvolvimento pela qual todos passamos e que abandonamos quando nos individualizamos emocionalmente, reconhecendo os outros como seres diferentes e independentes e não mais como fantoches num teatro interpretando papéis que representam nossos próprios sentimentos e emoções - processo clinicamente descrito como "projeção".

Transtornos de personalidade são padrões inflexíveis e mal-adaptados de comportamento, cognição e experiência interior exibidos ao longo de diversos contextos e que se afastam notadamente dos padrões aceitáveis pela cultura do indivíduo. São caracterizados ao longo do tempo por um padrão disruptivo nas relações pessoais, sociais e profissionais, com padrões de comportamento inflexíveis ao longo do tempo, revelando um bloqueio ao aprendizado emocional que incapacita o indivíduo a uma abordagem criativa da própria existência. É exatamente o que Einstein descreveu quando disse:

Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Para efeitos de diagnóstico, profissionais da saúde mental observam a presença dos seguintes comportamentos:



  • Auto-importância exagerada
  • Preocupação com fantasias de sucesso, riqueza, poder, beleza, inteligência ou romance ideal
  • Crença de ser alguém especial que só pode ser compreendido por outras pessoas ou instituições igualmente especiais
  • Requer atenção e admiração constante dos outros
  • Tem expectativas irracionais por um tratamento favorável
  • Desprezo pelos sentimentos dos outros, falta de empatia
  • Usa outras pessoas para atingir seus objetivos
  • É invejoso dos outros e acredita que os outros têm inveja dele
  • Tem comportamentos e atitudes arrogantes

O grande problema do narcisismo é que o indivíduo que sofre desse mal representa um perigo maior para os outros do que para si mesmo, já que ele vive numa Ilha da Fantasia habitada por fantoches destituídos de dimensão humana, lá colocados para servir e amá-lo incondicionalmente. Todos os serial killers, por exemplo, apresentam fortes traços de narcisismo. Mas a recíproca não é verdadeira: a grande maioria dos narcisistas jamais virá a cometer um homicídio, optando por fórmulas que incorram em menos risco pessoal para dar vazão às tendências sádicas como crimes de colarinho branco, abuso emocional, chantagem, estelionato, exibicionismo, bullying, voyeurismo, sadomasoquismo, stalking e "trolagem" na internet,  e outras válvulas de escape que se coloquem no limite da tolerância da sociedade. 

Invariavelmente, os narcisistas exibem um senso de grandiosidade, falta de empatia pelos outros e necessidade constante de admiração. Narcisistas são arrogantes, auto-centrados, manipuladores e exigentes, tendo dificuldades em lidar adequadamente com a menor sugestão de que sua existência não corresponda objetivamente às fantasias que desenvolvem sobre si mesmos ressentindo-se sempre que não forem alvo do tratamento diferenciado de que se julgam merecedores.

Embora não se inclua na relação dos critérios clínicos, narcisistas são vingativos e capazes de percorrer grandes distâncias e causar enormes prejuízos físicos, financeiros e morais para "dar o troco" aos seus desafetos espalhando calúnias e boatos, destruindo bens, chantageando, roubando e até agredindo fisicamente, sendo capazes de assassinar e sentir-se plenamente justificados.

O narcisista acredita ser dotado de talentos e qualidades que o colocam naturalmente num patamar superior ao resto da humanidade e reage violentamente ao menor sinal de crítica que mesmo quando apresentada com tato e de forma positiva é por ele sentida como uma profunda humilhação que requer retaliação dobrada e imediata.

Para o narcisista, existem dois tipos de pessoas: as que eles "amam", que são as melhores, as mais qualificadas, fantásticas e extraordinárias do mundo enquanto se comportarem como facilitadoras das suas fantasias; e as que eles "amam odiar" - categoria que inclui qualquer um que se recuse a cobri-lo de elogios.

No que tange às dinâmicas de grupo, testes feitos em diversas universidades mostraram que os narcisistas se revelam por serem as pessoas de quem o grupo tem as melhores impressões nos contatos iniciais. À primeira vista, os narcisistas se mostram positivos, assertivos, simpáticos, interessados e preocupados em liderar o grupo para o sucesso. No primeiro instante, o narcisista manifesta grande interesse em "conhecer" os outros, sendo um ouvinte atento e paciente particularmente dos dramas e problemas pessoais de cada um. Tendo conquistado a simpatia e admiração do grupo, e conhecendo as particulares de boa parte dos seus membros, o narcisista sente-se à vontade para agir conforme sua natureza exploradora, manifestando um alto nível de exigência e expectativas que exigem dos outros dedicação, recursos e empenho sem que ele próprio se dedique a dar a contrapartida e ainda favorecendo alguns "eleitos" não pela competência ou outro critério objetivo, mas pela habilidade em alimentar seu ego grandioso. Começam então as intrigas, os boatos, o desaparecimento de partes inteiras do trabalho que vem sendo desenvolvido e por aí a fora... enquanto o grupo briga e discute entre si trocando acusações, o narcisista assiste com um sorriso sarcástico. No final do período de teste, a primeira impressão altamente positiva, à exceção dos poucos "eleitos", terá sido diametralmente revertida com o narcisista recebendo as piores avaliações quanto ao desempenho, compromisso com o grupo, honestidade, simpatia e capacidade.

Se é problemática em ambientes de teste, essa dinâmica prenuncia catástrofes no ambiente profissional, minando a motivação da equipe, destruindo carreiras promissoras e comprometendo as metas e objetivos do negócio a médio e longo prazo.

Mais do que uma jocosa idiossincrasia - quiçá risível, a personalidade narcisista representa um perigo real e imediato para quem quer que inadvertidamente ingresse no que ele considera ser seu campo de influência. Com sorte, a pessoa se afastará com alguns hematomas no ego, mas se der azar pode acabar na gaveta de um necrotério. Isso porque sociopatas e psicopatas sempre são narcisistas, embora a recíproca não seja sempre verdadeira, já que a imensa maioria dos narcisistas parece satisfazer sua morbidez fantasiando esses crimes. Sob forte estresse, no entanto, no desespero de alimentar a auto-imagem fantasiosa, os narcisistas podem avançar para a psicopatia ou sociopatia, já que não fazem uma distinção significativa entre fantasia e realidade.

Antes de finalizar: se ao ler esse texto você se perguntou se é um narcisista, pode ficar tranquilo, porque uma outra característica do narcisista é jamais admitir que ele é um narcisista. Você pode ter alguns traços de narcisismo, o que é absolutamente normal e saudável em indivíduos maduros e emocionalmente equilibrados.