21 de mai. de 2014

AÇÃO <===> REAÇÃO


Um contexto cultural que confunde prudência com insegurança, temperança com hesitação, cautela com temor e passividade com falta de auto-estima; nos empurra cotidianamente às reações imediatas, a falar e agir antes de pensar.

Reagir ao impulso, ao sentimento não-elaborado, ao calor do momento, enfim; leva inexorável e invariavelmente ao conflito, mágoa, frustração, arrependimento e, no longo termo, à ansiedade, à depressão e outras severas aflições emocionais.

Vamos combinar: não é um bom caminho para se alcançar a felicidade. Porque é o CAMINHO DA DOR.

Tenho falado muito em se "viver o momento".

Meditando agora há pouco, senti que a expressão que tenho usado com tanta frequência precisa ser explicada, pois dependendo de COMO esse momento é vivido, pode-se avançar tanto no caminho da dor como no da felicidade.

"Viver no momento", ao contrário do que o termo sugere, é a atitude PASSIVA, de contemplação, concentração, observação e perspicácia que desenvolve o auto-conhecimento - que é o ÚNICO CAMINHO VÁLIDO PARA A FELICIDADE.

Como você pode aspirar à felicidade sem conhecer suas motivações mais profundas?

Em termos práticos, é desenvolver e aplicar a disciplina de suspender momentaneamente toda a ação e perguntar-se de onde está vindo a vontade de falar ou reagir dessa ou daquela maneira.

Essa é a chave para se alcançar o famoso "conhece-te a ti mesmo".

Perdeu a oportunidade de usar o sarcasmo e desarmar o "oponente"?

Tanto melhor! NINGUÉM é seu oponente neste mundo! Mesmo (eu até diria PRINCIPALMENTE) as pessoas por quem temos ojeriza, com as quais não conectamos em plano algum, estão aí para NOS ENSINAR, não nos boicotar, ou sabotar o nosso crescimento.

Se você vê qualquer inimigo ao seu redor, troque os óculos: está olhando o mundo pelas cores erradas.

Se vê ou sente ameaças, olhe para dentro: elas estão EM VOCÊ. É a maneira como você reage a obstáculos e desafios que precisa ser revisada mesmo estando convicto da SUA verdade e que o outro é que está errado.

A SUA verdade não invalida a verdade de ninguém. O que existe aí para ser ponderado é a ORIGEM dessa sua verdade, da sua convicção:

É algo que você realmente sente, ou é uma verdade aprendida de convicções incutidas por condicionamento familiar, social ou cultural? Será uma verdade que você SENTE lá no fundo da alma, do coração; ou uma verdade à qual se agarra por status ou aceitação social?

E não estou nem entrando na seara do "outro", porque questionar a SUA verdade NÃO IMPLICA em aceitar a do outro como mais absoluta ou verdadeira - isso é irrelevante ao processo de crescimento pessoal: cada um sabe de si, e não cabe a nenhum de nós julgar, impor, repreender ou reprimir ninguém neste mundo: o outro a quem você está reagindo é sempre movido pelas próprias verdades que para ele são tão reais e absolutas quanto as suas. Confrontá-las ou não é o caminho DELE, não o seu.

Questionar as próprias verdades é buscar a autenticidade consigo mesmo, é tornar-se senhor e mestre da própria vontade, e tomar as rédeas da própria vida tendo como compasso absoluto a sua essência, a sua natureza que é ÚNICA e que não pode (nem deve) ser influenciada por qualquer fator externo; nem nas piores adversidades.

E, em essência, TODOS somos AMOR. Todos queremos e buscamos amor. Todos queremos acolhimento, aceitação, plenitude, enfim.

Mas, (e sempre tem um senão) porque desconhecemos nossas chaves, nossos próprios botões - enfim,  o que nos move nesta vida; tendemos a buscar MAIS o acolhimento, a aceitação, a plenitude no OUTRO do que em nós mesmos. E assim ocupados em buscar fontes externas, descuidamos de construir em nós mesmos as bases para que acolhimento, aceitação e plenitude criem raízes dentro de nós.

Sim, "criem raízes": porque o processo é subterrâneo, é INTERNO, vem de dentro para fora.

É o processo de se deter a cada momento e avaliar o que nos move, o que motiva nossas escolhas, nossas reações.

Não falo em ações, porque a falta de auto-conhecimento obstrui qualquer possibilidade de ação, limitando-nos à REAÇÃO. Andamos às cegas por aí tropeçando, caindo e esbarrando nos outros e ainda os culpamos pelos cortes, fraturas e arranhões.

E com isso voltamos, à AÇÃO <===> REAÇÃO, porque "AÇÃO" é um dos pilares da nossa sociedade. Vivemos num ambiente que cultua "pessoas de ação". Todos querem agir ao mesmo tempo. Todos querem ter a iniciativa, o impulso, a motivação: construir, prosperar, acumular. "A melhor defesa é o ataque" é a frase ecoada aos quatro ventos. Essa mentalidade sugere um ambiente hostil, no qual para sobreviver é preciso estar-se constantemente na defensiva, fechado, encastelado na própria torre e disposto a pulverizar qualquer ameaça.

Nos apegamos a pessoas, posses e status como se eles nos definissem como indivíduos; e percorremos o mundo em nossas brilhantes armaduras apregoando ideais que nos façam parecer nobres e elevados.

Mas não somos: nosso cordão umbilical pode ter sido cortado no parto, mas segue bem enroladinho e apertado dentro de nós clamando pelo calor e segurança do útero de onde tão abrupta e violentamente fomos expelidos.

Quanto menos nos abrimos a essa verdade, menos conscientes somos do que realmente nos move. Até o monje budista com todo o seu desvelo e desprendimento busca o útero pelo Nirvana.

A primeira grande verdade a ser confrontada, aceita e liberada é a perda TOTAL e IRREMEDIÁVEL desse útero como um fator externo:

NENHUMA circunstância externa da vida o trará de volta.

Esse perfeito equilíbrio de segurança, envolvimento, pertença, entrega pacífica e unidade com outro ser é o paraíso perdido com que nos defrontamos no instante que sentimos o doloroso contato com o frio da sala de parto, do áspero tecido em que nos envolvem, da fome que subitamente irrompe em nossas entranhas. Fome (a raiz do medo, porque padecemos sem alimento), sentimento até então desconhecido, porque saciedade era um fluxo constante e não precisávamos fazer absolutamente nada.

A vida no útero é uma vida de INAÇÃO. Quando muito, reagimos a algum estímulo externo, algum barulho súbito, alguma agitação no organismo que nos abriga.

Então, nascemos.

AÇÃO <===> REAÇÃO

Para a maioria, a vida daí em diante segue em círculos: partimos buscando no ambiente as condições que supram a falta desse útero, não as encontramos, nos decepcionamos, sofremos e retomamos a busca sem nunca questioná-la em primeiro lugar.

Só existe um jeito de quebrar esse círculo (vicioso!), de transformá-lo numa reta e evoluir: identificar em nós essa busca, tomar nos braços esse bebê com todo o carinho e explicar para ele que o útero se foi, e que não há nada no mundo que possa substituí-lo.

O melhor que podemos fazer é adequar nossas expectativas à realidade do ambiente em que vivemos, cientes que nada nem ninguém é CAPAZ de recriar aquela situação; mesmo que tentem com toda a vontade, com todo o amor e dedicação.

Faça isso por você mesmo.

Faça hoje, comece agora: aceite a vida como ela é, e seja grato por ter sobrevivido à perda da condição ideal e ainda assim acreditar que, sim, há magia e beleza de sobra para sorrir e amar a si e aos outros, por tudo e apesar de tudo.

Só esta AÇÃO curadora sobre nós mesmos pode nos libertar do círculo vicioso da REAÇÃO e nos elevar à condição de agentes do nosso próprio destino.

17 de mai. de 2014

MEU CAMINHO


Sei que eu prometi falar sobre essa doença contemporânea de tornar tudo que é feio, mau, assustador fofinho, lindinho, sexy e limpinho, mas hoje eu quero escrever livremente o que me vier à cabeça, sem um tema pré-definido.

Talvez até porque tem muito a ver com essa mesma mania de fazer tudo dourado, sexy e cor-de-rosa que anda por aí; junto com uma outra doença que aflige a sociedade moderna que é o tal "poder da mente", o tal "pensamento positivo", essa ideia mágica e infantilizada de que basta botar uma ideia na cabeça e você vai ter sucesso, ser feliz e, de quebra, ficar podre de rico.

Para a maioria das pessoas que vivem presas à matrix, isso já ganhou força de lei.

E quem não anda por aí se fazendo de bem resolvido, quem tem a honestidade de se expor como realmente é: um ser pensante que tem mais dúvidas que certezas, que se permite momentos de introspecção e melancolia - por que não?; é visto como um derrotado, uma influência ruim gerando campos de energias "negativas". Um leproso energético espalhando sua doença por aí.

Pessoas "bem sucedidas" não têm dúvidas: estão SEMPRE certas! E, se porventura alguma sombra de dúvida arrisca anuviar o horizonte, ela é escorraçada com fórmulas mágicas, distrações e sorrisos forçados.

Como se não bastasse o hipnotismo da mídia, as pessoas andam se auto hipnotizando por aí, como se parar na frente do espelho e repetir "Eu sou feliz! Eu me basto!" fosse a a chave do paraíso.

Nada poderia estar mais longe da verdade.

A "chave do paraíso" - se é que existe tal coisa; é enfrentar os próprios demônios, permitir-se descer aos confins do inferno com a confiança de saber encontrar por sua própria conta e risco o caminho de volta; e renascer das próprias cinzas. É se tornar o "leproso" de quem os pseudo-bem-sucedidos fogem como o diabo da cruz. É se submeter ao isolamento, condição essencial para começar o processo de busca que leva ao discernimento entre o que é de fato a nossa natureza, o que nos foi impresso pelo ambiente em que crescemos e com quem convivemos, e quem sentimos que devemos ou queremos ser.

Isso requer mais coragem do que levantar de manhã, pintar a cara, plantar um sorriso na frente do espelho e sair pra rua vender o próprio peixe. E dá-lhe batom pra tanto sorriso e creme pra tanta ruga de sorriso artificial. (Cá entre nós, fico com as minhas rugas, porque quando eu rio, eu rio com a alma, com todo o corpo e o coração e quero mais é me olhar no espelho e ver essas rugas todas: cada uma delas é a marca de uma grande emoção por que eu passei).

Porque é lá, sozinho no deserto de brasas, sem NINGUÉM para ajudar, que você vai conhecer a medida e a extensão da sua força; sua fibra, sua vontade de viver.

Lá, no calor desse deserto, você encontra a verdade. A SUA verdade, que é única e não interessa a ninguém mais.

E é lá que você ou transcende ou se perde de vez.

Porque o deserto de brasas não é para os desesperados, nem para os fracos de coração.

É a provação do guerreiro: porque é lá, onde toda a esperança fenece que a gente vai buscar lá no fundo da própria alma a sementinha da criação, que não é maior do que um ínfimo grão de areia, e no começo mal dá para iluminar a palma da mão.

O primeiro momento é desolador: então é isso? Isso é TUDO que me restou? É tudo que existe em mim?

Sim.

É tudo: o universo inteiro cabe num grão de areia.

E nesse momento, nesse próprio pensamento, descobrimos que o NOSSO UNIVERSO INTEIRO está contido naquele ínfimo grão de areia.

É quando se começa a sentir o calor nas palmas das mãos e se sabe que neste calor está a cura, porque o grão de areia se expande e contrai com as batidas do nosso coração.

Em algum tempo, ele mais parece uma pérola. Ainda é pequeno, mas apresenta uma forma mais ou menos definida. Podemos pegá-lo entre os dedos, manipulá-lo, observar seus contornos, a luz que cintila. A luz da Paz interior, da certeza de que essa pequena pérola que é todo o nosso universo é tudo de que precisamos para começar a caminhada.

É quando entendemos (finalmente!), a dimensão da nossa imortalidade: pois nosso ego morreu, acabou, jaz no chão como um monte de farrapos que já não nos serve mais. E ainda assim, estamos vivos.

Quando todos esperam que sigamos nos debatendo em dor e negatividade; sorrimos com a alma.

Falamos de coisas que ninguém entende.

Vemos dimensões no mundo como poucos (privilegiados) conseguem ver.

E parecemos loucos aos olhos deles.

Logo nos cobrarão "coerência", "equilíbrio", "sensatez"... RESISTA! Tudo que estão pedindo é que você volte a ser aquele monte de farrapos, porque sua Luz incomoda: os faz cientes dos próprios farrapos - melhor mantê-lo na zona de conforto.

Tenha paciência: eles só estão evitando a dor. Mais cedo ou mais tarde, ela virá, porque vem para todos.

Tenha compaixão: nem todos estarão dispostos a pagar o (alto) preço do crescimento. A maioria ainda assim seguirá presa aos velhos padrões, acrescentando novos farrapos para cobrir as partes que ficarem expostas. Podemos lhes apontar o caminho da Luz, mas não podemos percorrê-lo por eles.

Seja flexível: você não pode se furtar à convivência com nível menos elevado de vibração. Elas são a maioria, então melhor é aceitar o fato e se adaptar.

Evite a crítica: só porque você descobriu a SUA verdade, não quer dizer que ela se aplique a ninguém mais. Ela é sua, e cada um tem livre-arbítrio para descobrir a própria verdade do jeito que melhor lhe convier. Se a sua verdade o levou ao veganismo, não critique quem come carne. Se a sua verdade o levou ao Budismo, não critique quem não segue o Caminho do Meio.

Ter vencido sua provação e alcançado sua própria Luz não faz de você uma pessoa melhor do que os outros; apenas uma pessoa melhor para você mesmo e PARA os outros.

Esta é a MINHA verdade.

É o que aprendi e sigo aprendendo a duras penas desde que a carta da Torre desceu sobre a minha vida pulverizando todas as certezas, hábitos, ilusões e acomodações.

Ainda não estou livre de recaídas, mas sigo andando.

Comecei me arrastando sobre um braseiro, agora já caminho em meus próprios pés.

Ao longo desse percurso me deparei com inúmeras miragens: distrações, soluções fáceis, ilusões de conforto que só serviram para aumentar a dor e o desespero.

Estou aprendendo a identificá-las no ato. Vejo as montanhas ainda ao longe, e é para lá que vou. Para o alto daquela que me chama e que eu sei que é onde mereço e devo estar, porque é lá que encontrarei a minha plenitude: quem eu melhor sou, o que de melhor eu sei fazer, minha razão de viver.

Sim, ainda piso em brasas; mas meus pés já quase não sentem mais sequer o calor.

Por estranho que pareça: está valendo cada minuto, e sou grata à vida por ter me colocado aqui; porque o que estou ganhando é muito, mas infinitamente mais gratificante que um sorriso de batom na frente do espelho seguido de um dia de expectativas frustradas.

Espero por nada: eu é que faço o meu destino. O carrego nas mãos, no calor do grão de areia que orbita e cresce ao meu redor, segundo a minha vontade.

Estou viva, e meu aprendizado faz de mim uma curadora de almas num tempo que nega o espírito e cultua a matéria, o imediato, o superficial.

Este é o meu caminho.

Agora vá buscar o seu. Não posso mostrar o caminho, mas estarei aqui torcendo e ajudando no que puder.


NAMASTÊ!