16 de dez. de 2008

A CARA E A CORAGEM


Ele se chama Montasser al Zaidi, tem 29 anos e há três é reporter de uma rede de televisão privada Al-Baghdadiya. Já foi preso duas vezes pelas tropas de ocupação e uma pelos Xiitas e, segundo consta, tem ligações profundas com o regime de Saddam Hussein. É noivo, mas afirma que só contrairá as núpcias no dia em que os americanos deixarem o Iraque.

Ao assistir ao vivo e a cores o cínico quase-ex-presidente americano afirmar sorridente que meia década de invasão do Iraque fora necessária à segurança dos EUA, a estabilidade do Iraque e à paz mundial, ele explodiu: arrancou do pé o primeiro sapato e mirou em cheio na testa de jorginho-filho, gritando: "Este é beijo de despedida, pedaço de cão!"

Aqui faz-se importante ressaltar que na complexa escala de insultos da não menos complexa cultura muçulmana, cães e sapatos disputam palmo a palmo a supremacia.

Para seu desapontamento (e porque não dizer do planeta), Jorgihno-filho é tão bom na esquiva como na engambelação.

Sem titubear, al Zaidi arrancou o segundo sapato e mandou ver, desta vez pelas viúvas, pelos órfãos e por todos que morreram no Iraque.

Há pouco, a rede de tevê iraquiana Al-Sharqiya informou que se encontra preso em Camp Cropper, uma prisão mantida pelas forças americanas no aeroporto de Bagdá. Ele teria costelas fraturadas, sinais de tortura e estaria incapacitado de mover o braço direito. Não tenho como confirmar a história, mas também não tenho como desmentir, portanto fica aí o registro.

Enquanto isso, pelo mundo a fora - incluindo os próprios Estados Unidos - pipocam manifestações de apoio ao gesto que vai entrar para a história como o legado final da sórdida "era Bush".

O Code Pink, um grupo de mulheres americanas contrárias à guerra do Iraque, prepara o envio à Casa Branca de tantos sapatos quantos puder arrecadar, inscrevendo em cada um o nome de um iraquiano morto durante a ocupação. "Quem deveria estar na prisão é George Bush, e deveria ser acusado de crimes de guerra", sentencia sua líder Medea Benjamin.

Se depender de defesa, al Zaidi não vai murchar na prisão: uma legião de advogados já se mobilizou pelos quatro cantos do planeta: "É o mínimo que podemos fazer para um iraquiano que se voltou contra um tirano criminoso como Bush, que já matou 2 milhões de pessoas no Iraque e no Afeganistão", afirmou Khalil Doulaïmi, advogado que defendeu Saddam Hussein. A propósito, Doulaïmi prepara uma interessante tese de defesa: não há crime (a agressão a chefe de estado estrangeiro é crime previsto em Lei no Iraque, e sujeito a detenção de até dois anos), mas legítima defesa, pois os EUA invadiram e ocupam o Iraque. Em face disso, toda a resistência torna-se legítima. Até o arremesso de sapatos contra o chefe do estado agressor.

Já dá pra ver que qualquer processo contra al Zaidi promete converter-se no julgamento da própria invasão norte-americana, o tipo de batata quente que nenhum juiz iraquiano quer ter que segurar com as próprias mãos. Vai ser um exercício e tanto pro governo biônico do Iraque se livrar dessa saia justa.

"Jogar sapatos na cara de Bush é a resposta normal e adequada a tudo o que foi cometido por este 'criminoso' e seu bando de assassinos contra o povo iraquiano", adianta um grupo de teólogos, advogados e cientistas iraquianos.

Ao mesmo tempo que proclamavam al Zaidi "herói nacional", iraquianos furiosos tomaram as ruas protestando contra sua detenção. Do gesto do jornalista surgiu um novo esporte nacional: arremesso de sapato contra ianque. Não creio, no entanto, que o Comitê vá incluir essa nova modalidade para as próximas olimpíadas. Uma pena.

Vale a pena (sempre) ver de novo:




Se você também gostaria de poder dar uma sapatada no quase-ex-presidente americano, experimente este link.

14 de dez. de 2008

ADEUS, PAPAI NOEL


Há muito já se perdeu o verdadeiro sentido do Natal, uma data a ser celebrada na intimidade da família, na qual a ceia e os presentes compartilhados significam o perdão mútuo e o aprofundamento dos laços afetivos, com a simplicidade e compaixão demonstradas por Cristo ao longo de toda a sua jornada entre nós.

Natal virou sinônimo de excesso: excesso de comida, excesso de bebida, excesso de despesas, excesso de festas.

O único símbolo que vinha se mantendo intacto graças ao imaginário infantil começa a cair: recente pesquisa apontou um significativo aumento no número de descerebrados que ao invés do "bom velhinho" adorariam receber a visita de celebridades como Brad Pitt e Nicole Kidman neste Natal.

Orlando Bloom, Justin Timberlake, David Beckham, Angelina Jolie, Beyoncé Knowles e Gisele Bündchen, constam como favoritos seguindo de perto os loirinhos Pitt e Kidman.

Sem comentários.

13 de dez. de 2008

REBELDES SEM CAUSA


Em 2006 a morte de dois jovens filhos de imigrantes eletrocutados quando supostamente fugiam da polícia serviu de bandeira a 21 dias consecutivos de tumultos, quebradeiras e saques nos "subúrbios" de Paris, levando o governo a decretar Estado de Emergência.

Falar em "subúrbio" é eufemismo: tais áreas constituem-se mais propriamente em guetos habitados por imigrantes - em sua maioria originários do Norte da África - que, da sociedade francesa, só têm reconhecidos seus deveres e obrigações. De resto, devem manter-se humildes, laboriosos e, acima de tudo, gratos pela promessa de prosperidade oferecida (mas nunca cumprida) pelo civilizado "primeiro mundo".

Embora seja clara e límpida a causa daquelas revoltas, seu objetivo restou dúbio e nebuloso: legítimos representantes da geração playstation, aqueles jovens careciam de todo e qualquer conteúdo ideológico: queimar, apedrejar, depredar e saquear propriedade alheia resumiram-se à expressão irracional de uma raiva subitamente desperta de sua letargia.

O videogame se repete, agora na Grécia. "Estado assassino", é tudo que os jovens gregos têm a dizer ao mundo, enquanto assistimos assombrados a explosão de sua ira.


Quando se vê na imprensa imagens de jovens encarando a polícia de choque, armados com pebras, paus ou coquetéis molotov, é natural que nos venha a memória o tsunami de 1968. Mas qualquer tentativa de associação pára por aí.

A juventude que foi às ruas em 68 era, na imensa maioria, constituída por jovens universitários de classe média; e as manifestações não se restringiam às ruas. Na verdade, as manifestações de rua foram a expressão menor daquele movimento sustentado por uma ampla rede de debates e assembléias que se repetiram dos pátios às salas de aula em instituições de ensino superior por praticamente todo o ocidente.

Os atos de violência não eram explosões alienadas, mas manifestações orquestradas cujo único objetivo era atrair para si as lentes da mídia - esta sim interessada na violência como espetáculo. Não pense que repórteres não foram convidados a participar das longas jornadas de debates e discussões. Foram sim, e muitos se fizeram presentes, mas as redes de rádio, jornal e televisão não viram nenhum potencial aumento de vendas ou audiência em retratar grupos de estudantes sentados a discutir política por horas e horas a fio.


Partiu, portanto, da própria mídia, mesmo que indiretamente, a idéia do quebra-quebra. E foi com aquela imagem que ficaram marcados os jovens de 68, uma geração legitimamente revolucionária, dotada de ideologia própria e capaz de articular-se dentro dos melhores princípios democráticos; uma geração a quem devemos a liberdade civil, os direitos humanos e o próprio movimento ecológico, hoje tão em moda.

Que idéias sustentam os movimentos dos jovens na França e na Grécia neste século XXI? Que bandeiras sustentam? Por quê lutam?

Nem eles o sabem. Como ovelhas cruzando um riacho, seguem por onde outros foram; simplesmente vão. São o reflexo da sociedade massificada, acéfala e carente de conteúdo a que chegamos.

Pelo excesso, perdemos a capacidade de classificar, priorizar e sistematizar informações; como esponjas, absorvemos rapidamente os fragmentos que o imediatismo nos permite assimilar sem nos darmos tempo de ponderar: nos restringimos a acumular conhecimentos aleatórios, ao sabor das rodas de conversa, alimentadas pelas manchetes da mídia.

Vivemos atentos somente à forma como expressão. Abandonamos o conteúdo a um estágio límbico, latente: a menor manifestação é sentida como o desconforto de um estômago cheio que tratamos com a panacéia antiácida do entretenimento.

Emburrecemos aritimeticamente como indivíduos e geometricamente como sociedade.

Por ora, nos sustentam as bases assentadas pelas gerações que nos precederam, as quais ainda retinham noções de civilidade, de ética e moral. Mas isso é só uma questão de tempo: A Europa já está mudando. No rastro do 11 de Setembro, os direitos à privacidade e inviolabilidade vêm sendo sistematicamente banidos e, veja você, com o apoio maçiço da população - filhos e netos das mesmas pessoas que a duras penas forjaram as leis que puseram o Estado a serviço do indivíduo.

Essa é a raiva que consome inconscientemente a geração playstation: o trem da história está perdido e eles não sabem nem por onde começar.

5 de dez. de 2008

SUSPEITA


É no mínimo suspeita a execução (assim o define a própria polícia) do Vice-Presidente do CREMERS justo quando o SIMERS submete à avaliação do Conselho o fechamento dos hospitais da ULBRA.

Se não, confira:


Simers pedirá interdição dos hospitais da Ulbra

Entidade também vai propor o cancelamento do vestibular para o curso de Medicina

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) anunciou nesta segunda-feira que pedirá ao Conselho Regional de Medicina (Cremers) a interdição dos hospitais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e o cancelamento do vestibular para o curso de Medicina. O motivo é que os mais de 800 médicos que prestam serviço como empresa estão sem receber desde agosto, há esvaziamento dos hospitais, unidades paradas e começa a faltar materiais básicos, como oxigênio, de acordo com o Simers.

— Muitos profissionais estão tendo de buscar outras alternativas de trabalho já que não há perspectiva de regularização dos pagamentos. Sem pessoal suficiente e materiais para atendimento, a operação oferece risco à população — disse o presidente da entidade médica, Paulo de Argollo Mendes.

Hospitais em Porto Alegre, Canoas e Tramandaí estão com parte dos serviços paralisados por falta de profissionais e materiais. A assessoria de imprensa da Ulbra afirmou que ainda não tinha uma resposta da universidade sobre a situação, e aguardava um retorno da diretoria.

A universidade tem mais de 10 mil empregos diretos, milhares de prestadores de serviços e mais de 140 mil estudantes. O plano de saúde tem 80 mil segurados. A interdição depende de vistoria do Cremers.

Além da interdição, o sindicato e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) deverão pedir audiência com os ministros da Educação e da Saúde, além dos prefeitos de Porto Alegre, Canoas e Tramandaí. O objetivo é enfrentar o impacto da redução de atendimentos para a população. O Simers também anunciou que sugerirá aos ministros uma intervenção federal para assegurar a continuidade dos serviços.

Confira a situação em cada hospital:

Hospital Luterano
(Rua Álvaro Alvim), em Porto Alegre - Tem cerca de 120 leitos, 85% do atendimento é de segurados do plano Ulbra Saúde. Tem atendimento nas especialidades clínica, obstétrica e cirúrgica - O segundo e quarto andares estão fechados para atendimento de pacientes - Falta de profissionais compromete plantão de fim de semana

Hospital Independência, em Porto Alegre - Cerca de 110 leitos (50% SUS e 50% particular), sendo que apenas sete estão ocupados, e não se aceita mais internações - Especializado em ortopedia e traumatologia, atende cerca de 200 pacientes por dia na emergência - Bloco cirúrgico fechado para cirurgias eletivas - Apenas casos graves estão sendo atendidos - Suprimento de oxigênio deve durar apenas mais uma semana

Hospital Universitário, em Canoas - Cerca de 160 leitos, 104 estão ocupados - As duas emergências (SUS e convênios) foram unificadas, devido à falta de oxigênio e de materiais - Os plantões clínicos e pediátricos, com dois médicos para atender SUS e dois para os convênios em cada especialidade, foram reduzidos para um clínico e um pediatra - O atendimento de convênios caiu 90% - Sexto e oitavo andares (são 10 no total) estão fechados - Previsão de sexta-feira passada era de que o oxigênio durasse mais 72 horas

Hospital de Tramandaí (Ulbra assumiu por comodato) - 111 leitos, urgências 24h, UTI adulto, infantil e neonatal e diversas especialidades para internação - 90% atendimento pelo SUS (único em Tramandaí, recebe pacientes de toda região) - Ocupação caiu para pouco mais de 50% dos leitos - Escalas de plantão somente até 30 de novembro, depois, não há previsão, ante a impossibilidade técnica de atendimento e atrasos de três meses em pagamento (todos os médicos são prestadores)

(fonte: Zero Hora, em 24/11/2008)

Não preciso dizer que, como sempre neste Estado que se arvora a bastião da Justiça, moralidade e bons costumes; esse crime que fede a encomenda será devidamente morcegado. Espere e verá.

25 de nov. de 2008

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DA TAL DA "CRISE"



Já que não se fala mais em outra coisa, aí vai:

Espero que essa tal "crise mundial" sirva de lição, porque basear economias reais num jogo de Monopoly não podia nunca ter dado em outra coisa.

E sigo cantando com o Gil:

Ô-u-ô, u-ô
Gente estúpida
Ô-u-ô, u-ô
Gente hipócrita

23 de nov. de 2008

A BENGALADA


Estava lá eu, um tanto frustrada porque a máquina do meu banco não tinha dinheiro, esperando enquanto minha mãe imprimia alguns extratos no caixa automático.

Como soe às engenhocas modernas, a traquitanda cuspiu uma folha como se estivesse em rigorosos treinos para as olimpíadas dos caixas eletrônicos. Prontamente me abaixei e recolhi o papel, reparando no olhar de reprovação da senhora que aguardava na fila apoiada em sua bengala.

Como boa filha (ou na ilusão de que é assim que uma boa filha deve proceder), tratei logo de guardar o extrato na bolsa de minha mãe, encarapitada sobre sacolas de compras no carrinho do supermercado. Nesse instante de distração em meu zelo e guarda, a máquina ejetou outra folhinha de extrato. Emaranhada pelas sacolas, bolsa, carteira, óculos, celular (desligado, como sempre), extrato, e um monte de coisas que cabem numa bolsinha tão pequena; assisti impotente minha mãe se abaixando toda guenza com a ajuda da bengala pra juntar o raio do papelzinho.

- Podias ter esperado, que eu fazia isso pra ti. - protestei do alto de minha autoridade filial.

- Por que, se sou bem capaz de me abaixar? - retrucou minha mãe com um sorriso divertido (é assim que ela costuma indicar que estamos avançando o sinal).

Abri a boca pra argumentar, mas antes que me saísse um "ai", a senhora que aguardava na fila apoiada em sua bengala desferiu:

- Quando é que vocês vão entender que nós temos que nos abaixar? Que o fato de estarmos velhas não significa que estamos incapacitadas?

Gente, a coisa virou um tandéu, com a minha mãe fazendo eco e acrescentado queixas pra divertimento da fila que se estendia já até a porta do subsolo do supermercado. Não precisa dizer que pela minha cara passaram todas as nuances do arco-íris.

Murchei. Fui saindo de fininho com a rabo entre as pernas. Se ainda pudesse, minha mãe teria saído aos pulos e gritos de give me ten!, tamanho era o júbilo pela batalha recém vencida.

- Tu me xingou... - protestei num fio de voz, ainda zonza daquela saraivada toda.

Ela se limitou a sorrir, e os olhos de um verde que só ela tem, cintilaram marotos. Meu coração chegou a tropeçar numa batida: aquele olhar era muito, mas muito mais jovem que o meu.

De fato, por algum tempo ainda até que a poeira da bengalada assentasse, posso jurar que quem sentava ao meu lado naquele carro não tinha mais que uns 18 ou 20 anos. Foi um momento tão bonito, mas tão bonito, que sinceramente não me importo nem um pouco se o pessoal da fila saiu de lá rindo da minha cara.

É claro que também fiquei chateada. Mas não pela saraivada. A verdade é que excesso de zelo faz tanto mal quanto a sua ausência. Fiquei chateada, porque me flagrei falhando no respeito que prezo acima de tudo. Caí na armadilha, entende?

É que ao vê-los tão frágeis, ao mesmo tempo que os sabemos tão caros ao nosso afeto é muito, mas muito difícil lembrar sempre que por trás daquele corpo alquebrado, daqueles passos hesitantes; persiste uma mente perfeitamente lúcida, lutando contra as limitações impostas pela idade.

Se é verdade que lutar contra o tempo é uma batalha perdida, também é verdade que todo o músculo que não é usado se atrofia; e isso vale pra todo mundo. Portanto, certas estavam minha mãe e sua fervorosa aliada.

A bengalada atingiu em cheio a minha soberba.

Soberba, sim. De fato, é com soberba que vejo a imensa maioria dos filhos se dirigirem aos pais, do "alto" de sua juventude e "infalibilidade", totalmente esquecidos que juventude é circunstancial e infalibilidade não passa de uma ilusão.

Não raro percorrendo as ruas ou os corredores do supermercado, me deparo com filhos e filhas tratando a gritos seus velhos progenitores. Dá vontade de interferir e meter a boca. Não raro, em rodas de conversa, ou falando com gente por aqui e por ali, flagro filhos opinando sobre o que seria melhor para a vida de seus pais, como se seu juízo fosse privilegiado. Mas que juízo, cara-pálida?!

Nosso "juízo" ainda é geralmente parcial, relativo; pintado nas cores de nossa inexperiência, de nossas expectativas: vivemos ainda agarrados ao vício pueril de pintar a realidade nas cores de nossas fantasias sobre o que deveria ser, de esperar das pessoas que sejam e ajam como quem as imaginamos ser, porque nunca ou raramente nos damos ao trabalho de ouvir e conhecer mesmo quem está mais próximo de nós, particularmente os nossos pais.

Pior, nos dias de hoje, onde todo mundo trabalha e toca sua vida longe dos pais, esse "juízo" costuma servir mais aos interesses e comodidade próprios do que a qualquer outra coisa. Como é que podemos saber o que é melhor pra nossos pais (e, por extensão, pra qualquer outra pessoa incluindo nossos filhos), se mal e porcamente sabemos o que é melhor para nós mesmos?

Pra saber o que é melhor pra nós, primeiro temos que nos conhecer, e se isso já é complicado e não raro se passa uma vida inteira sem saber; o que dizer de nossos pais? O quanto deles realmente conhecemos?

Você, por acaso, sabe o que sua mãe ou pai idoso mais queria da vida quando tinha 16 anos? Que sonhos acalentava? Quais seus filmes, seus livros, suas músicas prediletos? Que escolhas fez na vida, com quais desafios se deparou, como e quando os superou? Que interesses na vida acalenta ainda hoje, guardadinhos lá bem fundo no baú?

Provavelmente, se sentar com seu pai ou com sua mãe por mais de 15 minutos e longe da zoeira dos almoços de família; você vai descobrir uma pessoa totalmente diferente daquela a quem se acostumou pela superficialidade que caracteriza o convívio diário das famílias, particularmente desde que a tv se tornou o centro das atenções, calando a tudo e a todos.

Me esforço pra ser uma boa filha, que no meu entender é uma equação bem simples: aplicar a mesma compreensão e respeito incondicionais que recebi da infância à maturidade. Nunca, ao longo de todas as fases, dramas, tragédias, alegrias e, particularmente, no curso dos erros que cometi (e olha que foram muitos), ouvi de meus pais mais do que "o que devias fazer é...". No máximo uma daquelas perguntas que enfiam a pulga bem na preguinha atrás da orelha e fazem a gente parar e pensar um bocado; ou um "eu acho que...".

Reparo à minha volta que há muito mais facilidade entre as pessoas da minha geração em aplicar essa lógica a seus filhos do que a seus próprios pais.

É claro que é difícil resistir. Velho muitas vezes tem aquela coisa, aquela casmurrice que faz a gente querer saltar das tamancas e rodar a baiana; porque eles insistem em coisas que na nossa ótica parecem totalmente ilógicas e irracionais. Meu tio, por exemplo, prefere não escutar a usar os aparelhos de surdez, porque o troço apita e incomoda. A avó de uma amiga minha, mesmo aos 86 anos insistia em caminhar todo o dia sozinha até o supermercado, arriscando o pescoço pra atravessar a Protásio, uma das ruas mais movimentadas aqui de POA.

É um equilíbrio muito delicado, principalmente quando envolve riscos, e confesso que vê-la se abaixando com tanta dificuldade só pra pegar um extrato do chão me apertou tanto o coração que lágrimas me vieram aos olhos. Mas é essa a realidade dela, é esse o corpo no qual habita uma mente perfeitamente lúcida, brilhante até; e se não fizer esse esforço sempre que necessário, acabará perdendo mais este movimento, acrescentando mais uma restrição à longa lista com a qual já convive.

Canso de ver pessoas de idade tratadas como crianças, canso de ver filhos e filhas discorrendo a outras pessoas sobre as mazelas de seus pais e mães na cara deles, na terceira pessoa, como se não estivessem lá. Canso de ver filhos e filhas criticando a casmurrice de seus pais, sua teimosia em rejeitar o "lógico", o "prático", o "funcional"; teimando em seus "velhos" hábitos como morar onde gostam, dirigir nesse trânsito louco, irem sózinhos às compras; tomarem conta do próprio nariz.

Mas não é o que fizeram pela vida a fora?

Ao contrário do que essa nossa sociedade apregoa, a velhice não é uma doença. É uma fase da vida atualmente menos compreendida e respeitada do que a infância.

Na verdade, à excessão de processos degenerativos como o Alzheimer, a velhice só impõe limitações físicas. De resto, a mente segue lúcida e atenta do jeito que foi pela vida a fora. As emoções afloram mais facilmente, é verdade, mas isso é mera conseqüência da mudança na maneira de se encarar a vida quando sua finitude se torna presente do que de qualquer outra coisa.

Reparo à minha volta nesse exército de pais dando mais ouvidos às turrices de seus filhos pequenos do que à experiência de seus próprios pais, e confesso que isso me preocupa: um povo que negligencia sua história está fadado a repetir os mesmos erros do passado. E é exatamente isso que está acontecendo: por desprezarmos a experiência de vida dos mais velhos, estamos regredindo como sociedade, nos encaminhando a largos passos a um estágio tribal high-tech.

5 de nov. de 2008

ONDE O SONHO COMEÇOU


Nem em seus mais loucos devaneios a adorável tia da foto jamais ousara imaginar que um dia estaria de pé naquela praça, cercada por milhares de pessoas, festejando a eleição de um homem de cor para o cargo mais poderoso dos Estados Unidos e, por consequência, do mundo. Isso, porque ela estava lá quando negro só sentava no banco de trás do ônibus, quando negro baixava a cabeça e repetia "sim, senhor" porque essa era a vida do negro: limpar a sujeira do branco e ainda mostrar gratidão pela gorjeta. Essa era a vida do negro, e qualquer tentativa de mudar essa realidade, era subversão.

Em dezembro de 1955 (pasme), a costureira negra Rosa Parks (a “Mãe dos Direitos Civis”) entrou num ônibus de volta para casa após um dia de trabalho e, estafada, sentou-se nos bancos da frente do ônibus - local proibido aos negros pelas leis segregacionistas do estado. Intimada a dar seu lugar a um passageiro branco e sentar no fundo do veículo, recusou-se. Foi presa, julgada e condenada.

Revoltada, a comunidade negra de Montgomery promoveu um boicote aos transportes públicos da cidade. O protesto durou 382 dias, e com o sistema público de transportes à beira da falência, a prefeitura teve que capitular, extinguindo a lei que sustentava o apartheid nos ônibus da cidade.

Em 1957, nove estudantes negros conseguiram nas cortes federais o direito de estudarem no Ginásio Central de Little Rock, no Arkansas. No primeiro dia de aula, sob os apupos da comunidade local, foram impedidos de entrar nas dependências do ginásio pela guarda estadual enviada pelo governador. Foi precisa a intervenção federal, com o envio de pára-quedistas para garantir o acesso dos garotos à escola. Ao final do ano letivo, a comunidade de Little Rock preferiu fechar aquela instituição de ensino a permitir o ingresso de mais alunos negros em suas dependências.

Em 1961, estudantes negros e brancos promoveram um protesto ocupando juntos locais onde não era permitido o ingresso de pessoas de cor.

Em 1962, a "insistência" de James Meredith em assistir às aulas a que tinha direito na Universidade do Mississipi gerou uma onda crescente de violência, culminando com a morte de duas pessoas e ferimentos à bala em 28 agentes federais e mais de 160 feridos entre a população.

Em agosto de 1963, Martin Luther King comandou a histórica marcha sobre Washington. Foi a maior aglomeração pacífica realizada nos Estados Unidos com propósitos de integração racial, direito de moradia digna, pleno emprego, direito ao voto e educação integrada.

Os eventos de 1964, que culminaram com a promulgação por Lyndon Johnson da Lei dos Direitos Civis, são conhecidos como "MIssissipi em Chamas" (relatados por Alan Parker no filme omônimo, que recomendo). No mesmo ano, Martin Luther King foi agraciado com o Premio Nobel da Paz.

Ainda assim, como nos Estados Unidos cada Estado tem plena autonomia legislativa, a Lei dos Direitos Civis não entrou em prática em todo o país. Em 1965, os negros do Alabama tiveram suas inscrições como votantes rejeitadas pelo Estado. Martin Luther King foi ao Alabama. Ele e centenas de manifestantes foram presos, mas as manifestações continuaram e acabaram em violência por toda a cidade, com a morte de uma manifestante pela polícia. Nos dias que se seguiram, choques entre civis brancos locais, policiais a cavalo e manifestantes negros resultaram em tumultos generalizados com mortos e feridos, transmitidos pela televisão para todo o país. As cenas causaram a mesma indignação dos fatos ocorridos no Mississipi no ano anterior e permitiram ao Presidente Johnson conseguir aprovar junto ao Congresso a Lei do Direito de Voto em 1965. Esta decisão provocou a famosa lamentação de Lyndon Johnson de que “com essa assinatura acabo de perder os votos do sul na próxima eleição”.

O direito ao voto negro mudou para sempre a face política do sul dos EUA, fazendo com que, em 1966, o número de negros eleitos para cargos públicos no Mississipi, o mais racista dos estados sulistas, fosse maior do que em qualquer outro estado do país. Em 1965, pouco mais de 100 negros foram eleitos para mandatos públicos nos EUA. Hoje, os agora chamados afro-americanos são mais de 8.000, a maioria em estados do sul.

Portanto, foi só a partir de 1966, 11 anos depois da "insurreição" de Rosa Parks, que os negros começaram a poder votar nos Estados Unidos.


(Rosa Parks)


Desde então, muitas mudanças ocorreram. Aos poucos, pessoas de cor passaram a ocupar cargos cada vez mais relevantes na vida pública norte-americana: deputados, prefeitos, governadores, senadores, secretários de estado, ministros... mas daí à presidência da república aparentemente era sonhar alto demais. Até mesmo porque, no dia a dia, para a imensa maioria dos negros norte-americanos nos guetos e currais do Alabama a Chicago, pouco ou nada mudou desde a abolição.

A segregação racial ainda é uma constante e violenta realidade na América. Como em poucos outros lugares do mundo, o ódio racial lá se faz presente e é parte do cotidiano de negros e brancos.

Se, por um lado, a eleição de Barak Obama, um mulato cujo pai além de negro é muçulmano aponta para um amadurecimento da sociedade norte-americana; por outro, podem ter certeza, há de acirrar o atrito. As novas gerações que se auto-denominam "afro-descendentes" por incorporarem elas próprias o segregacionismo, não têm mais a perseverança e, porque não dizer, a apatia de seus progenitores. Do outro lado, por todos os rincões do país, pipocam legiões de rednecks armados até os dentes, filhos, netos e bisnetos dos mesmos rednecks que ainda não se conformaram com a abolição, quanto mais dizer com a integração dos negros à sociedade. Se vinham proliferando há decadas, alimentadas por esse ódio, tenha certeza que agora elas irão explodir, porque para o redneck da gema a idéia de um presidente "de cor" é simplesmente inadmissível.

Barak Obama terá muito trabalho pra arrumar a casa: crise financeira, Oriente Médio... Mas pior que tudo isso são os inimigos em seu próprio território. E temo por isso.

Fico com o histórico discurso de Martin Luther King e a lembrança de que nem o Nobel da Paz impediu que em abril de 1968 ele fosse assassinado em Memphis, Tenessee, por um branco que havia escapado da prisão:

Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.

Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.

Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.

Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.

Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.

Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.

Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que pensam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação voltar aos negócios de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Ainda mais uma vez nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos desconfiar de todas as pessoas brancas, de muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, pois entenderam que o destino deles está ligado ao nosso destino. Eles entenderam que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente à nossa liberdade. Nós não podemos caminhar sós.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há quem pergunte aos devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não puderem ter hospedagem nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade deixou marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira essa situação pode e será mudada. Não se deixem cair no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos essas verdades e elas serão claras para todos: que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão sentar juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender a liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livres. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitirmos ao sino da liberdade soar, quando nós deixarmos que ecoe em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade; nós poderemos vislumbrar o dia em que todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso: nós somos livres afinal."


Martin Luther King, 28 de agosto de 1963.

19 de out. de 2008

ENOJANTE


Enquanto o mundo debate a crise financeira, e assalariados em todo o globo temem por seus pífios rendimentos, em Munique um abjeto clã desperdiça milhões em superfluosidades de luxo porque pode. E só porque pode. A feira se propõe a oferecer "uma cornucópia dos bens mais luxuosos e belos que o mundo tem a oferecer", nas palavras de um dos expositores. Os aperitivos oferecidos aos visitantes (como não poderia deixar de ser) incluem caviar e champagne... que maravilha!

"É uma demonstração obscena de uma riqueza perversa", descreve Walter Listl, do Fórum Social Mundial, e acrescenta: "Os ricos são a causa da pobreza." Não poderia ter dito melhor, se ponderarmos que a cada cinco segundos, uma criança morre de malnutrição no mundo - e isso já não é privilégio dos países pobres: a miséria bate à porta do G7 e só tende a se agravar com a ganância e voracidade sustentados pela antropofagia capitalista.

Com o slogan "Sua riqueza nos deixa doentes", centenas de manifestantes se concentram do lado de fora do "salão das maravilhas". Seu objetivo é menos intimidar os "riquinhos" e aspirantes a riquinhos, mas sim chamar a atenção para a questão da miséria no mundo.

Até porque, convenhamos, essa laia há muito já perdeu a vergonha na cara. Se duvida, observe a flutuação nas bolsas: todo esse sobre e desce que assistimos é mera decorrência da usura e da ganância desenfreada de indivíduos pra faturar um pouco mais, por medo que a vaca leiteira seque.

Como um Robin Hood às avessas, os governos seguem injetando bilhões que seriam melhor destinados a questões sociais pra tapar os buracos que essa gentalha continua abrindo; literalmente tirando dos pobres para dar (ainda mais) aos ricos.

Não é a toa que o homem que tem uma fortuna pessoal que ficaria em 165° lugar entre os PIBS de todos os países do mundo é um especulador da bolsa de valores.

E ainda tem gente que se espelha nessa escória.

Bah!

17 de out. de 2008

WHO LET THE DOGS OUT?!


Ontem, mais uma vez, o (des)governo Yeda deu mostras de competência e capacidade de reagir com rapidez num momento de crise. No melhor estilo "na dúvida, porrada neles", o cel. Mendes (que em off já responde pelo codinome Coronel Nascimento) soltou os cachorros nos bancários e sobrou cacetada e bala de borracha pra tudo quanto é lado.

Proponho uma ação no PROCON contra o marketing de campanha da (des)governadora por propaganda enganosa: esse "novo jeito de governar" a gente já conhecia desde antes da proclamação da República.

16 de out. de 2008

O SEQUESTRO DE SANTO ANDRÉ

O drama, todo o Brasil vem acompanhando:




O que realmente me espanta é que os pais tenham permitido que sua filha criança de 12 anos atasse namoro com um rapaz de 19. Em qualquer país civilizado isso seria tachado como pedofilia.

Já tratei desse tema anteriormente - na época sobre um caso com um desfecho que não desejo para a jovem Eloá (ver o artigo Falando Sério, neste mesmo blog.

Vou continuar repetindo até que pais, amigos, professores e vizinhos entendam: "namoro" para meninas abaixo dos 16 anos só é namoro quando o garoto é da mesma faixa etária - no máximo dois anos mais velhos (e olhe lá, porque entre os 12 e os 18 anos as mudanças são tantas e tão radicais que mesmo meses podem representar anos). Criança de 12, de 14 anos envolvida com rapaz de 18, de 20 anos é PE-DO-FI-LI-A.

Pedófilo não é só aquele velho lascivo se esgueirando por trás dos arbustos nos playgrounds, nem tampouco só o enrustido sentado por trás do computador; a pedofilia não atinge somente crianças até os 8, 9 anos. Há uma idade legal e socialmente aceita que ronda os 16 anos para meninos e meninas. E em meninos e meninas saudáveis (tirando ou botando um ano) é a época em que se desenvolvem os hormônios e o cérebro está preparado para começar a "grande aventura amorosa". Mesmo estando aparentemente desenvolvida (com seios, trejeitos e tudo o mais) a capacidade intlectual e emocional de uma criança de 14 anos está muito, mas muito longe da maturidade.

O envolvimento diário, profundo com uma pessoa mais velha só pode - e é de fato - profundamente nocivo para o crescimento emocional dessas meninas, cujas personalidades em formação se deformam para acomodar os gostos e vontades da pessoa mais velha.

A própria Eloá andava afastada dos amigos, não é o que dizem? Esse foi, para ela, o ponto de ruptura: um certo dia, Eloá acordou e descobriu que enquanto seus colegas de escola viviam a plenitude de sua adolescência, ela se achava espremida contra uma maturidade para a qual não estava preparada e na qual não desejava ainda ingressar. Optou pelos amigos. O amo e senhor de suas vontades não aceitou. Deu no que deu.

Outra vez, meu recado aos pais: enfiem isso na cabeça e começem a desempenhar seus papéis de pais e educadores de uma vez por todas. É chato, dá trabalho e inclui, muitas vezes ir contra a vontade dos filhos. Mas no futuro dá resultados.

15 de out. de 2008

EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO


Eu ontem acordei com uma pulga atrás da orelha (ai ai ai... minha sina!): ao ver os números astronômicos lançados na lamaçeira da jogatina dos especuladores, começei a me perguntar a quantas anda, de fato, a economia mundial.

Fiquei cismando a que ponto teriam os grandes conglomerados ultrapassado as economias de países pequenos ou emergentes... e as grandes fortunas? A quantas andam a essa altura de super-valorização da moeda em detrimento de tantos outros valores como a justiça social, a distribuição de renda, a igualdade de oportunidades, etc etc etc... Quantos PIBS de países a fortuna pessoal de uns poucos indivíduos já ultrapassou?

Arregaçei as mangas, e depois de muito fuçar aqui e ali, fiz algumas descobertas interessantes:

Você sabia que, em termos de receita bruta em 2007 a Wal-Mart ocupa a honrosa 25ª posição nas economias do mundo, colocando-se acima do PIB de países como a Arábia Saudita e a Áustria?

A Dinamarca é um país rico, certo? Pois bem, a Exxon Mobil e a Royal Dutch Shell são ainda mais ricos!

E que tal Hong Kong? Vamos lá, dê um chute... Deve ser maior que a Toyota, não? Pois não é. Não é sequer maior que a Chevron. Pelo menos Portugal é maior que a Chevron, mas ainda perde pra Toyota.

Com algum incremento no PIB, talvez nossa hermana Colômbia encoste na Ford.

Isso pra não falar do Peru, que tem uma economia menor que a receita do Carrefour, que, por sinal, é maior que o PIB do Kuwait também, mesmo com todos os seus petrodólares.

Começou a ficar nervoso? Você ainda não viu nada!

A maior fortuna pessoal do mundo (um cara chamado Warren Buffet) se constitui num patrimônio maior do que o PIB de países como Angola, Croácia, Luxemburgo, Equador... e por aí vai, porque no ranking geral, o senhor Buffet ocupa do 165°lugar - o que não é nada, mas nadinha, pouco, pode crer.

Bill Gates? Vale mais que a Líbia.

A France Télécom dá de pau em Bangladesh com seus mais de 158 milhões de habitantes.

Isso eu constatei só dando uma olhada. Nem me preocupei em fazer cruzamentos, em somar e dividir coisas aqui e ali. Deixo isso com você. Ou talvez eu retorne ao tema, já que dá pano pra muita, mas muuuuuuita manga.

Eu fiz uma tabela (o link tá logo abaixo deste post); pra você analisar e se divertir (ou deprimir) com esses fatos que estão bem estampados na cara de todos nós, mas que sempre são colocados separadamente, de forma que a gente não associe uma coisa a outra e constate que a cada ano que passamos lutando contra a maré das adversidades e buscando nossa felicidade e metas pessoais, mais se fortalecem os grandes conglomerados, mais se concentram as riquezas, e menos valem os poderes locais "democraticamente" constituídos. Porque, ao fim e ao cabo, na hora do aperto quem manda é o capital.

A tabela você encontra aqui.

E VIVA O GRANDE IRMÃO!...?

8 de out. de 2008

AINDA SOBRE A 116


As três obras emergenciais prometidas pelo Governo do Estado pra pelo menos aliviar o caos da BR 116 ainda neste segundo semestre nem saíram do papel.

A última informação que tivemos do Dnit, na semana passada, dava conta de um problema com a licitação para essas obras. As empresas interessadas não haviam respondido a um quesito no edital que exige experiência na produção de concreto armado. (Ronaldo Zulke)

A Zero Hora procurou o Hilderaldo Caron (pra quem não sabe, diretor de infra-estrutura rodoviária do DNIT) que estava, segundo sua assessoria, muito ocupado pra responder sobre o assunto.

Puxa, que coisa! TODAS as concorrentes esqueceram de preencher o mesmo tópico do edital... mas que azarão, hein senhor diretor! Se não fossem as empreeiteiras e o governo do Estado tão bem intencionados no que tange à BR 116, eu até ia desconfiar.

Nah... devo estar ficando paranóica: não se faz política assim no Rio Grande... não é?

7 de out. de 2008

EMPURRANDO COM A BARRIGA


Foram os municípios da Região Metropolitana, particularmente Canoas, Esteio e Alvorada que cresceram ao redor da BR?

Ou foi a incompetência de décadas de gestores míopes que se limitou a seguir o crescimento vegetativo de uma antiga rota de carroças que ligava o Vale dos Sinos e a Serra à capital?

No trecho que liga Porto Alegre a Novo Hamburgo, a BR 116 deveria funcionar como uma estrada vicinal, já que cruza as zonas urbanas de vários municípios; não mais do que uma opção para a circulação local de veículos de passeio e de pequeno porte; nunca a artéria da qual depende a economia do Estado como um todo.


O fato é que a BR 116 está no limite. O trecho de Canoas é o maior gargalo em rodovias no Brasil, sendo recordista de trânsito de veículos, de acidentes e mortes.

Segundo especialistas, em três anos a rodovia terá atingido seu ponto de saturação, e os congestionamentos que vemos em horários de pico se estenderão pelo dia e pela noite.

O que vai resultar em mais acidentes e mais mortes evitáveis.

Qual a solução?

O Polão defendido pelo Governo do Estado e concessionárias, ou o Anel Rodoviário, defendido pela Assembléia e pelos prefeitos e políticos da região?

A questão remete, como sempre, à promiscuidade entre interesses privados e a administração pública.

Senão, vejamos:

Em 18/08/1997 o Poder Executivo do Estado aprovou a Lei n° 10997, que estabelecia a concessão da operação, conservação, manutenção, melhoramentos e ampliação de diversos trechos de rodovias estaduais à iniciativa privada.

Detalhes deste projeto podem ser vistos aqui.

Em 2005, foi criada a Comissão de Representação Externa sobre o Anel Rodoviário Metropolitano, predisida pelo petista Ronaldo Zulke.

Em 06/06/2005, em audiência pública realizada com prefeitos e vereadores dos municípios envolvidos, a Comissão ressaltou que:

As prefeituras analisam duas alternativas para o problema do esgotamento da rodovia federal: o Pólo Metropolitano (Polão) e o Anel Rodoviário. O Pólão reúne em torno de 200 quilômetros de estradas já existentes - as BRs 116 e 386 e a RS 118 - e futuras, com prolongamentos e duplicações. Em troca das obras, o projeto estabelece a implantação de quatro praças de pedágio na BR 116. Já o Anel Rodoviário prevê a construção de duas vias expressas paralelas à BR-116, ligando Porto Alegre a Novo Hamburgo - uma pelo lado Leste e outra pelo Oeste.

O diretor do Grupo Editorial Sinos, Miguel Schmitz, defende a segunda opção. Ele argumenta que a Rodovia do Progresso, como é chamado o Anel Rodoviário no Vale do Sinos, é mais barata que o Polão e que está sendo amplamente debatida com a comunidade. Lembra também que o Pólo Metropolitano prevê a instalação de praças de pedágio na BR 116 10 anos antes das obras iniciarem. "As obras não iniciarão imediatamente, mas a cobrança de pedágio sim", frisou.

O prefeito de Novo Hamburgo e ex-secretário de Transportes do Rio Grande do Sul tem opinião semelhante. Jair Foscarini defende o andamento do projeto do Anel Rodoviário e alerta para a contrapartida inviável do usuário, prevista no Polão. "Os pedágios do Polão assustam. Quem se deslocar, diariamente, de Portão a Porto Alegre irá gastar mais de R$ 200,00 por mês", contabilizou.

Lideranças da região Metropolitana e do Vale do Sinos alegam, ainda, que a instalação de praças de pedágio na BR 116 irá promover mais congestionamentos. "Não há espaço para isso. O Polão não resolve o problema da baixa fluidez do tráfego e nem da falta de segurança da rodovia", apontou o Clelói Bassani, vereador de Novo Hamburgo.


Havia, portanto, entre os representantes políticos da região, clara preferência pelo projeto do Anel Rodiviário (ou Rodovia do Progresso).

No dia 29 de agosto do mesmo ano, a Comissão ouviu o Secretário dos Transportes, Alexandre Postal, que declarou que "nenhuma ação será tomada para desafogar o trânsito na BR-116 enquanto o Ministério dos Transportes (MT) não anunciar se aprova ou não a licitação que prevê a execução do Complexo Rodoviário Metropolitano (Polão)" - leia-se a concessão a um consórcio privado prevista na Lei n° 10997.

Isso apesar de prefeitos e representantes da região terem se manifestado contra tanto o traçado quanto o custo dos pedágios do "polão".

Ao final da reunião, Zulke afirmou: Vamos pressionar para que o MT assinale para a revogação da licitação do Polão já na próxima reunião. Assim, estaremos nos encaminhando para a conclusão de nossos trabalhos e para a solução dos problemas da BR-116.

Em 21/07/2006, saia na imprensa:

A batalha jurídica travada entre o Consórcio Metropolo (Andrade Gutierrez S/A, Camargo Correa S/A, Sultepa S/A, Brasília Guaíba Obras Públicas S/A, Toniolo Busnelo S/A Túneis, Terraplanagens e Pavimentações) e o Ministério dos Transportes pela exploração das estradas federais abrangidas pelo Complexo Rodoviário Metropolitano do Rio Grande do Sul chegou ao Superior Tribunal de Justiça na forma de mandado de segurança com pedido de liminar contra ato do ministro dos Transportes que revogou o processo de licitação vencido pelo referido consórcio.

O presidente em exercício do STJ, ministro Francisco Peçanha Martins, não acolheu o pedido de liminar impetrado pelo consórcio e determinou que os autos sejam remetidos à ministra Eliana Calmon, relatora do processo, após o término do período de férias forenses. Assim, os efeitos da Portaria 42 editada pelo Ministério dos Transportes no dia 17 de março de 2006 continuam valendo até o julgamento final da presente ação de mandado de segurança. Em seu despacho, o ministro sustentou não vislumbrar qualquer circunstância que justifique a apreciação urgente da medida.

(...)De acordo com os autos, a exploração das referidas estradas federais foi transferida pelo governo federal ao estado do Rio Grande do Sul em 1997, pelo Convênio de Delegação número 003/97. No mesmo ano, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Estado (DAER/RS) publicou edital de concorrência (350/97) para a concessão do Complexo Rodoviário.

A licitação foi vencida pelo Consórcio Metropolo em dezembro de 1998. Em julho de 2000, o governo federal cancelou o Convênio de Delegação e retomou a administração das rodovias. O processo de licitação foi retomado em 2001, agora no âmbito federal, e concluído em 2002, quando o ministro dos Transportes teria determinado sua homologação e a adjunção ao Consórcio vencedor – no caso a Metropolo.

Em 2004, acatando determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério solicitou a elaboração de estudo de viabilidade pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Em março de 2006, o Ministério dos Transportes editou a Portaria 42 revogando a concorrência de outorga das rodovias (350/97).


De lá pra cá, mudou o Governo do Estado, mas a orientação permanece a mesma: nada será feito pela BR 116 se não for por via de um consórcio privado. É o velho truque de empurrar com a barriga até que a coisa fique tão osca que a gente aceite qualquer proposta que o governo se dignar a apresentar. Nesse meio tempo, a Andrade Gutierrez, a Camargo Correa, a Sultepa, a Brasília Guaíba Obras Públicas e a Toniolo Busnelo ficam de molho, torcendo que a coisa vá de mal a pior pra nós.

Enquanto isso, cenas como esta se repetem a cada minuto ao longo da rodovia:



Até quando?

6 de out. de 2008

DEIXANDO A HISTÓRIA

Você foi saindo de mim
Com palavras tão leves
De uma forma tão branda
De quem partiu alegre

Você foi saindo de mim
Com sorriso impune
Como se toda faca
Não tivesse dois gumes

Você foi saindo de mim
Devagar e pra sempre
De uma forma sincera
Definitivamente

Você foi saindo de mim
Por todos os meus poros
E ainda está saindo

Nas vezes em que choro
Nas vezes em que choro

Você foi saindo de mim.


Maluf 6%. ACM Neto 26%, mas fora do 2° turno.

Você já vai tarde... Bye bye...

E LÁ VÃO ELES!

Agora é definitivo: ontem à tarde os 399 pinguins que sobreviveram à epopéia nos trópicos brasileiros foram finalmente devolvidos ao mar.

Ufa!

5 de out. de 2008

30 ANOS DE SPAM


Uma mensagem enviada em 1978 por um encarregado do marketing da companhia DEC para ceca de 400 pessoas na Costa Oeste dos Estados Unidos é considerada o primeiro spam da história. A empresa já nem existe mais, mas o spam pegou.

De 2004 para 2008, saltou de 40 para 80% do total de emails enviados pelo mundo a fora.

De fictícias instituições em busca de herdeiros de fortunas mirabolantes a toda a sorte de panacéias para a impotência, emagrecimento e ejaculação precoce; passando por diplomas universitários, réplicas de Rolex vale tudo. E tem gente que cai. 12% dos americanos já caíram por uma dessas barbaridades. Teve gente que morreu por consumir falsas pílulas e emagrecimento.

Tem como se livrar disso? Não. O spam, como tudo de bom ou ruim que veio com a internet, veio pra ficar. As "soluções" oferecidas por softwares e servidores de email são tão ilusórias quanto as ofertas miraculosas do spam. A única saída para nós é deletar sistematicamente essas mensagens.

Fico com o sketch do Monty Python que inspirou o emprego do termo para designar o que até então atendia pelo nome de "correspondência não solicitada".


ENTENDENDO O SISTEMA FINANCEIRO


Vamos ficar ricos? É facinho, facinho...

Primeiro, a gente monta uma banquinha no mercado e se oferece pra guardar o dinheiro pras outras pessoas - sabe como é, é complicado andar por aí com os bolsos cheios com tanto assalto e tudo o mais...

Aí, a gente pega esse dinheiro e começa a apostar por aí: aposta se o preço do açúcar vai subir ou não, aposta se o café vai vender mais, aposta de o preço da gasolina vai duplicar... vai jogando. Quanto maior o azarão, mais a banca paga de volta: apostar que um montão de gente vai financiar a casa própria se as prestações couberem no orçamento mesmo que os juros vão aumentando até o ponto em que as prestações já não caibam mais no orçamento, por exemplo, paga muito mais que apostar que a Petrobrás vai ter muito lucro ano que vem; já que o contraria o mínimo bom senso.

Nesse meio tempo, pra impedir que as pessoas que deram o dinheiro pra gente guardar tirem o dinheiro todo assim de uma vez (já que esse dinheiro não está mesmo nos nossos cofres, mas nas bancas de apostas espalhadas por aí), a gente cria algumas regrinhas, pra complicar: tem que avisar dias antes de sacar, tem que pagar uma taxa cada vez que for mexer no dinheiro, etc... isso tudo para a própria segurança dos nossos clientes; ao mesmo tempo que cria certas "facilidades" como um cartão plástico que elas podem usar ao invés de dinheiro, ou um bloquinho que elas podem preencher pra pagar contas - e se cobra uma taxinha por isso, é claro: lembre que sempre é preciso cobrar, porque, afinal, dinheiro não sai de graça.

E continuemos jogando, e apostando cada vez mais alto: quanto mais alto e arriscado apostar, mais a gente ganha pra gastar em carros, aviões, barcos, mansões, férias na europa, e fotos nas colunas sociais - quanto mais disso tiver, mais "credibilidade" a gente ganha com as pessoas que botam o dinheiro no cofrinho pra gente "cuidar".

É preciso lembrar também de cuidar das nossas "instalações": erguer prédios enormes com um baita logotipo na fachada (de mármore, de preferência) e pinturas e obras de arte bem caras espalhadas por todos os cantos; contratar uma legião de gente "séria" e bem vestida, fazer muita, mas muita propaganda e merchandising, apoiando eventos culturais e esportivos - tudo isso com o dinheiro que nos deram pra guardar, porque os lucros que auferirmos, a gente vai guardando num outro cofrinho especial, bem guardadinho, de preferência na Suíça. Com esse dinheiro, a gente não aposta nunca, ok? É importante lembrar que só se joga com o dinheiro dos outros, nunca o nosso.

Oooops, não deu o azarão? A safra de café foi recorde e o preço baixou? As pessoas deixaram de pagar as prestações e agora as financiadoras não têm dinheiro nem pro cafezinho?

Não esquenta: a gente chama os outros banqueiros e os amigos da imprensa. Se todo mundo gritar bem alto e juntinho, os governos correm a tapar os buracos com o dinheiro dos impostos que as pessoas pagam - como a gente paga muito pouco não está nem aí.

Aí é só botar as barbas de molho por um mês ou dois, fingindo que estamos fazendo a lição de casa; que logo que a poeira baixar volta tudo a ser do jeito que era antes e a gente pode de novo apostar no azarão, com a certeza que vai sempre sair rindo e com alguns milhões e mais pra acumular bem guardadinhos na Suíça.

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA


Ela podia ser eu, você, sua prima, sua vizinha... Tinha dois filhos e estava reconstruindo a vida depois de uma relação frustrada, como acontece a tantas de nós.

Tudo acabou na madrugada de ontem, quando um incêndio criminoso vitimou Cinara e seus dois filhos - Rafael, 10 anos e Eduarda, 6.

A polícia suspeita do ex-marido contra quem ela havia registrado várias queixas de agressões físicas.

Não é o primeiro caso e, infelizmente, não será o último.

Quando é que as "autoridades" vão entender que o registro de queixa na delegacia já é o último recurso da mulher vítima de ameaças e/ou agressões, que representa, objetivamente, uma situação de risco imediato à integridade física dessas mulheres e suas proles?

Cinara (bem como a grande maioria das vítimas desse tipo de crime hediondo) havia buscado amparo no Estado que ela, como eu e você, sustentava com seu voto, e pelos impostos e taxas que pagava.

Este limitou-se a arquivar suas queixas, permitindo que a escalada de ameaças, abusos e agressões prosseguisse impunemente. Agora a polícia caça o criminoso. A história de Cinara e suas crianças não devia ter acabado assim.

Até quando?

4 de out. de 2008

(IG)NÓBEIS


EFE
Alicia Moreno
Redação Central, 4 out


O suposto efeito espermicida da Coca-Cola ou a valiosa demonstração de que as pulgas saltam mais sobre os cachorros do que sobre os gatos estão entre os avanços científicos publicados por prestigiosas revistas e que foram agraciados este ano com os Ig Nobel.

Os prêmios, concedidos anualmente pela revista de humor "Annals of Improbable Research" e considerados os anti-Nobel, foram divulgados ontem à noite durante uma festa na Universidade de Harvard, em Massachusetts.

Apesar do nome (que faz referência irônica à imunoglobulina ou Ig), as pesquisas premiadas são sérias. Para concorrer ao prêmio, não vale qualquer coisa. Nas categorias de ciências, por exemplo, os trabalhos têm que passar pelo rigoroso exame de outros cientistas especialistas no tema.

Para comprovar sua seriedade, as pesquisas contempladas neste ano foram publicadas em revistas renomadas como "Nature", "Proceedings of the National Academy of Sciences" e "New England Journal of Medicine".

Os ganhadores na 18º edição dos Ig Nobel foram, por categorias, os seguintes:


(Atenção, porque tem brasileiro na parada... Finalmente um Nobel tupiniquim!!!)

Paz: O Comitê Federal de Ética da Suíça sobre Biotecnologia Não-Humana e os suíços por aprovarem em abril o princípio legal de que as plantas têm dignidade.

Literatura: O britânico David Sims, da Cass Business School de Londres, por seu estudo, apaixonadamente escrito, "You Bastard: A Narrative Exploration of the Experience of Indignation within Organizations" (Você, seu bastardo: Uma Exploração Narrativa da Experiência da Indignação dentro das Organizações).

Medicina: O americano Dan Ariely, por demonstrar que a medicina falsa, porém cara, funciona melhor que a medicina falsa e barata. Publicou seu estudo no "Journal of American Medical Association".

Ciências cognitivas: Os japoneses Toshiyuki Nakagaki, Hiroyasu Yamada, Ryo Kobayashi, Atsushi Tero e Akio Ishiguro, e o húngaro Agota Toth, por demonstrarem na "Nature" que o mofo mucilaginoso pode resolver quebra-cabeças.

Nutrição: Maximiliano Zampini (Universidade de Trento) e Charles Spencer (Universidade de Oxford), por demonstrarem que a comida é melhor se é crocante, em um estudo publicado no "Journal of Sensory Studies".

Biologia: Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc, da Escola de Veterinária de Toulouse (França), por demonstrarem que as pulgas saltam mais sobre os cachorros do que sobre os gatos, em artigo na "Veterinary Parasitology".

Química (partilhado): Os americanos Sheree Umpierre, Joseph Hill e Deborah Anderson, por descobrirem que a Coca-Cola é um eficiente espermicida, publicado no "New England Journal of Medicine", e os taiwaneses C.E. Hong, C.C. Shieh, P. Wu e B.N. Chiang, por descobrirem justo o contrário e publicá-lo na "Human Toxicology".

Física: Os americanos Dorian Raymer e Douglas Smith, por provarem que um montão de cordas e cabelos acabam se embaraçando e formando nós, na "Proceedings of the National Academy of Sciences".

Arqueologia: Astolfo Gomes de Mello Araújo e José Carlos Marcelino, da Universidade de São Paulo (USP), por descobrirem até que ponto os tatus podem destruir os restos de uma escavação arqueológica. A pesquisa foi publicada na "Geoarchaeology".
(Viu, não falei??)

Economia: Geoffrey Miller, Joshua Tyber e Brent Jordan, da Universidade do Novo México (Estados Unidos), por descobrirem que os lucros de uma dançarina de striptease dependem de seu ciclo menstrual. A pesquisa foi publicada na "Evolution and Human Behavior".

(Os grifos e comentários entre parêntesis são meus)

E pensar de muito do que foi "pesquisado" acima passou pelo crivo de juntas e colegiados resposáveis pela disponibilização de verbas para o "progresso da ciência".

TÁ DIFÍCIL


Não bastasse ter que lembrar quem pediu o quê onde e quando e aguentar a chateação da clientela, garçom brasileiro ainda tem que se virar pra driblar a ganância dos donos de bares e restaurantes.

É que segundo o SINTHORESP (Sindicato dos trabalhadores de bares e restaurantes), citado pela Folha ontem, 70% dos estabelecimentos não repassam aos garçons as gorjetas deixadas pela clientela. Isso mesmo: 70% dos bares e restaurantes no Brasil embolsam a gorjeta dos garçons. Dos 30% que repassam, 2/3 não registram em carteira - vai por fora. Que legal!

Por isso, prezado leitor, se tem aquele garçom genial no bar que você frequenta, aquele cara que sempre lembra de dar o colarinho certo no seu chopp; da próxima vez que for dar gorjeta, pague o consumo no cartão e dê os 10% em dinheiro, assim você terá certeza de estar premiando o garçom e não o gorducho por trás da caixa registradora.

ELES VÃO DEIXAR SAUDADE


Chega ao fim a etapa brasileira da grande marcha dos pinguins desgarrados. Enquanto escrevo este blog, a equipe do CRAM em Rio Grande começa a devolvê-los ao mar.

Nunca antes uma operação de resgate da faunda envolveu tantas pessoas - e não falo só de biólogos, do IBAMA e dos bombeiros, mas de pessoas comuns -, neste país.

O planeta agradece às centenas de anônimos. Faço minha parte postando aqui uma pequena coletãnea de registros feitos por essas pessoas.

São Francisco do Sul:



Cabo Frio:





Arraial do Cabo:



Porto Seguro:





Itaparica:



Vila Velha:




Valeu, pessoal!

TOUPEIRAS


Leio na Folha de hoje a seguinte manchete:

Federação de cegos dos EUA pede boicote a "Ensaio sobre a Cegueira"

"Os cegos aparecem no filme como incompetentes, sujos, viciados e depravados. São incapazes de fazer as coisas mais simples, como se vestir, se lavar e encontrar o banheiro. A verdade é que as pessoas cegas normalmente fazem as mesmas coisas que as que podem ver", disse Marc Maurer, presidente da NFB em comunicado.

Às vezes a gente se surpreende com a capacidade humana para a estupidez.

Num esforço para me ater a estreiteza de visão (com o perdão do trocadilho) do presidente da NFB; pelo que sei da trama do filme, o fato de os cegos serem retratados como o são é perfeitamente crivel: se os membros da NFB são autônomos e capazes de equiparar-se a pessoas ditas "normais" é porque anos de treinamento assim o possibilitaram. Não é o caso das personagens de Saramago, vitimas de uma subita e avassaladora epídemia. Não precisa ser nenhum Einstein pra deduzir que se você ficar cego de uma hora pra outra vai ficar muito difícil se virar por aí. Qualquer um que tenha feito um exame de fundo de olho sabe bem do que eu falo.

Nem a Disney (por sinal distribuidora do filme através da Miramax), compraria o mundo encantado de bilhões de novos-cegos miraculosamente capazes de se vestir, cozinhar, pegar o ônibus e ir trabalhar como se nada tivesse acontecido.

Não vou nem argumentar que o livro de Saramago é uma metáfora - metáforas estão a cada dia mais distantes da capacidade de compreensão do fanáticos pregadores do fundamentalismo politicamente correto.

3 de out. de 2008

NA RETA FINAL...?


Se o apagão permitir, a longa jornada dos pinguins baianos, sergipanos, pernambucanos, alagoanos e capixabas vai finalmente continuar:

03/10/2008 - 07h19
Pingüins-de-magalhães iniciam jornada de volta ao lar
Aurelio Nunes
Especial para o UOL
Em Salvador (BA)


Os pingüins-de-magalhães que invadiram as praias do litoral da Bahia durante o inverno começaram a fazer o caminho de volta à Patagônia na madrugada desta sexta-feira, 3.

Sob os cuidados de oito tripulantes e 12 ambientalistas, os 399 ilustres passageiros embarcaram a bordo de um turbo-hélice Hercules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB) que decolou da Base Aérea de Salvador à 1h30 e tinha previsão de chegada no aeroporto de Pelotas-RS às 6h45.

Logo após o desembarque, estava programado o transporte das aves de caminhão por mais 60km até a sede do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Cram), onde descansarão o restante do dia. No sábado, Dia Mundial dos Animais, as aves serão soltas na Praia do Cassino, de onde se espera que reencontrem o caminho de volta ao lar pela corrente das Malvinas.

O restante da viagem terá de ser feita com as próprias asas - que no caso particular dos pingüins não servem para voar e funcionam como barbatanas. Todos os viajantes receberam nas patas anilhas Centro de Conservação de Aves Silvestres (Cemave) para futuro monitoramento.

"É a maior operação de translocação de animais de que se tem notícia no Brasil", diz o coordenador do Instituto de Mamíferos Aquáticos (IMA), Luciano Reis. Uma operação que mobilizou mais de mais de 50 pessoas, entre militares da base Aérea de Salvador e do 1º Grupo de Transporte de Tropa da Base Aérea dos Afonsos-RJ, de onde veio a aeronave da FAB, além de funcionários da Petrobras, que providenciou o transporte terrestre, do Ibama, do IMA e da ONG Ifaw (Fundo Internacional para Proteção dos Animais em seu Habitat).

O vôo atrasou exatas 41 horas e 30 minutos. Era para ter deixado a base aérea de Salvador às 8h de quarta-feira, 1º de outubro, mas um problema no trem-de-pouso da aeronave provocou sucessivos adiamentos na viagem. Um atraso providencial, pois acabou permitindo a inclusão de 69 aves que não poderiam viajar porque não tinham passado no teste de impermeabilidade da plumagem, cuja finalidade é avaliar a capacidade que as aves têm de se protegerem da hipotermia.

O contingente de pingüins que embarcou nesta sexta-feira não representa um quarto dos 1.650 animais resgatados apenas na Bahia. Desse contingente, 90 aves sem condição de viajar continuarão em tratamento na sede do IMA, em Salvador. Doentes, fracas e feridas, a maioria delas está condenada a passar o resto da existência em cativeiro. Tiveram mais sorte que as 309 que morreram na sede do IMA e as 852 que não resistiram à viagem de mais de 3 mil quilômetros empreendida desde os litorais da Argentina, Chile e Ilhas Malvinas e já foram encontradas mortas.

De minha parte, só uma palavra: ALELUIA!!!

VAMOS E VENHAMOS


O Supremo proibiu a contratação de parentes nos três poderes. Palmas pra ele. Já não era sem tempo.

Mas aí vem um espertinho chamado Covatti, dum partidinho chamado "Progressista" e dá um jeitinho: demite os cunhados e contrata no lugar as mulheres deles.

Que cara de pau, deputado! E ainda dá entrevista pra tudo quanto é rádio e televisão, todo pomposo, justificando o mau-caratismo sem o menor constrangimento, todo cheio de razão!

Sinceramente, tô de saco pra lá de cheio dessa gentalha: PORRADA NELES!

E porrada a gente dá no voto: já tá mais que na hora de se encarar a política como um negócio sério: assessor de político deve ser escolhido pela capacitação e competência mais do que por inclinações pessoais. Quem é que não conhece aquele primo ou mesmo irmão de político que fez fortuna na vida trocando favores? Essa polititica só beneficia aos clãs desses políticos e impede que esse país caminhe pra frente.

E tenho o dito.

2 de out. de 2008

TIRO NO PÉ


A aparente esperteza marketeira dos republicanos de escolher uma mulher jovem e bonita para vice está complicando ainda mais as coisas pro lado da capanha do thunberdirb McCain.

60% dos yankees desconfiam que a moça não está preparada para a tarefa e, ainda mais, temem que aos 72 anos o velho senador não segure bem a montanha-russa da Casa Branca - o que os deixaria nas mãos da moçoila amiga dos fabricantes de armas e defensora dos autênticos "valores cristãos".

Antes dela abrir a boca numa série de entrevistas há um mês atrás, os yankees a avaliavam tão bem como McCain ou Obama - com cerca de 45% de ceticismo.

É surfando nessa marola que a moçoila vai agora enfrentar a velha raposa que os democratas escolheram para vice (Biden é senador pelo 6° mandato consecutivo e atual chefe do Comitê de Relações Exteriores do senado); no único debate a ser travado entre os dois.

De minha parte, já comprei um saco de batatinhas e estou esquentando o sofá: o debate promete ser muito divertido.