30 de set. de 2008

ENQUANTO ISSO, NOS EUA...

ABANDONANDO O BARCO


Na esteira da avalanche que está levando de arrasto as pedrinhas de dominó do castelo encantado das mil e uma malandragens impunes do cassino internacional que convencionamos chamar de "mercado", 500 banqueiros buscam emprego junto a instituições de caridade na Inglaterra.

Será que finalmente o temor à ira divina pelas centenas de milhões de famintos, miseráveis, desgraçados e desesperançados causados por suas peraltices finalmente chegou à consciência desse pessoal?

Infelizmente, não. Nas palavras da diretora de uma das agências de recrutamento procuradas pelos distintos: Para fazer caridade, são necessárias boas habilidades e de qualidade, a atitude correta... e isso está aumentando no setor profissional.

Viu? Eles só estão descobrindo um novo (e grande) filão.

O FIM DA LINHA


Que gracinha dos alunos de uma escola da rede estadual em Campinas: colar a professora na cadeira com bonder.

HA! HA! HA!

A professora teve queimaduras nas pernas quando a cola literalmente derreteu o jeans.

O pior é que já não é nem novidade: em dezembro do ano passado, alunos da rede estadual em Rolândia, no Paraná já haviam perpetrado a mesma idiotice.

Pais e mestres se preocupam:

Não há mais limites para os alunos como havia antigamente. São diversos os casos de agressão física e verbal nas escolas.


Dureza.

Se já agora, sob a guarda dos pais e tutela das escolas, essa gurizada dá mostras de uma total incapacidade para viver em sociedade, não quero ver o que vai acontecer quando chegarem à dita maioridade.

CUMPLICIDADE PASSIVA


Ontem de madrugada, ladrões tiveram todo o tempo do mundo pra levantar uma laje de granito do degrau de entrada da uma joalheria, romper os cadeados da cortina de ferro, quebrar a vidraça e finalmente invadir a loja.

Fosse um ponto remoto da cidade, ainda vá. Mas não: foi em plena Protásio Alves lá pelas 3 da manhã.

Pelo menos uma testemunha dispôs-se a falar, afirmando ter sido despertada por "ruídos" na madrugada. "Por medo de levar um tiro", ela preferiu virar para o outro lado e continuar dormindo.

Essa inação tem nome: cumplicidade passiva.

Cada vez que testemunhamos um delito, uma infração, um crime e não informamos a polícia, nos tornamos cúmplices passivos desse delito.

A segurança cabe ao Estado, mas é ao cidadão que cabe acionar os aparelhos que financia com seus impostos para o combate ao crime.

Não há dia em que não ouça pelas ruas as pessoas reclamando da falta de segurança; não há dia que não veja novas grades, novos muros sendo erguidos ao meu redor. Minha rua, outrora tão aprazível de caminhar, hoje definha como um deprimente jardim zoológico.

Não há mais crianças brincando nas calçadas: as grades tomaram o espaço das brincadeiras; e "brincadeira" passou a ser olhar a Xuxa pulando na tela da tevê.

O que as pessoas não mencionam é o seu papel na insegurança. O quanto seu "medo de levar um tiro" facilita a vida dos marginais.

Pra dificultar a vida dos bandidos, não precisa andar armado, não precisa sequer abrir a janela: basta discar 190. Nada assusta mais um marginal do que o piscar intermitente das luzes vermelhas de uma viatura.

E a brigada vem, sim. Digo isso porque já liguei várias vezes, e a Brigada veio sempre.

Cidadania vigilante: se ao tentar praticar um furto ou delito em sua rua o marginal for interrompido pela polícia, pode ter certeza que ele vai pensar duas vezes antes de voltar.

E não importa se é aquele vizinho arrogante que todo mundo detesta - tem um vizinho assim aqui bem do meu lado, e nem por isso eu deixei de chamar a brigada nas duas vezes que reparei que estavam tentando entrar na casa dele. O cara nem agradeceu.

Não precisava. O meu recado era mesmo pros ladrões:

NA MINHA RUA, NÃO!

27 de set. de 2008

ELA NÃO PODE CONTINUAR ASSIM


A somaliana desbotada aí acima é ninguém menos do que Amy Winehouse. Nesta quinta, dia 25, ela teria sido ouvida afirmando: "Minha vida não pode continuar assim. Não posso mais agir dessa forma."

Não é só a forma de agir que precisa uma reformulação radical: a moça está desaparecendo a olhos vistos e destruindo o que poderia ser uma carreira brilhante, porque cantar, a moça canta - ou, pelo menos, cantava: não sei se nesse esqueleto restam sequer pulmões pra cantar. Que pena!

Agora, fica a pergunta: o que leva uma pessoa que atinge em tão pouco tempo a popularidade (e, porque não dizer, a fortuna) da Amy a se autodestruir dessa forma?

REVOLTANTE


Esta vem da Polônia: polícia prende polonês por vender manteiga feita com cachorros roubados.

Há 50 anos o homem roubava cachorros pela cidade para produzir "smalec", uma iguaria muito apreciada pelos poloneses e que, originalmente, é feita com gordura de porco. Ao entrar em seu apartamento, a polícia se deparou com diversas coleiras de cães desaparecidos no povoado de Wieliczka.

Não quero nem pensar no que sentem os vizinhos do criminoso, que há decadas se deleitavam com a guloseima vendida mais barata que nos mercados.

ENQUANTO TUDO ISSO, EM MILÃO...


É nisso que dá quando jornalista se inspira (a pérola é da AFP):

Deixado de lado o estilo romântico das "jovens em flor" e bonequinhas inocentes, a mulher do próximo verão vai usar armas de sedução muito mais sofisticadas e perspicazes, abandonando a ostentação da carne.

Ai ai ai...

PRA LER E REFLETIR


Pra dar uma idéia do quão importante e atual é a releitura de Karl Marx nos dias atuais, reproduzo um trecho da introdução (a íntegra pode ser lida aqui):

(...) Explicar a obra de Marx, portanto, é tarefa que parece esbarrar no lugar-comum de situações consideradas hoje normais, a tal ponto que dispensam explicações.

Mas desmascarar esta normalidade, isto é, o modo com que condições sociais historicamente específicas se apresentam como eternas e naturais, é justamente um dos objetivos centrais de tal obra. Mais do que descritiva e explicativa, ela é uma teoria crítica da sociedade atual, descobrindo a correlação profunda entre as dimensões positiva e negativa de sua realidade. Inspira-se para tanto na dialética de Georg Hegel (1770-1831), cujo caráter idealista condena, conservando o que chamará de "núcleo racional".

Em poucas palavras: a dialética reproduz o movimento contraditório pelo qual algo se apresenta como o inverso do que é. Em sua versão hegeliana, de acordo com Marx, a dialética revelaria que, por trás da aparente diversidade das coisas, se oculta o oposto, a unidade essencial do mundo - descoberta de enorme poder consolador.

Na versão materialista de Marx, porém, a dialética mesma é invertida, e tem a função crítica de revelar a desigualdade social na base da igualdade de todos perante a lei, característica da sociedade civil moderna. A partir daí, é possível entender as decorrentes estratégias de inversão e de encobrimento pelas quais as relações sociais decisivas criam toda uma outra camada de realidade, com relações sociais opostas às da camada primeira. Assim, o implacável vínculo existente entre os indivíduos é de tal ordem que se manifesta como independência mútua desses indivíduos, como se entre eles o vínculo fosse tênue. Donde decorrem a sensação de liberdade e o individualismo exacerbado.

A igualdade, portanto, é determinada pela desigualdade; a liberdade individual, pelo nexo inexorável de relações de mercado. E tudo isso aparece como algo natural, que sempre foi e será como agora, para o que não há alternativa.

Mas esta normalização de condições muito específicas, esta naturalização de situações históricas, diz Marx, não é uma mera ilusão de ótica, e sim também resultado da maneira com que a sociedade capitalista se estrutura.

Com o conceito de "fetichismo", ele fornece uma explicação extremamente rica e fértil para tais processos, seguida e desenvolvida por importantes vertentes filosóficas e sociológicas do século 20.

A crítica social, por outro lado, tem como contrapartida a da sua teorização pelos economistas. Dedicado desde a juventude ao estudo da Economia Política, disciplina fundada no século 17, na Inglaterra das revoluções burguesas, Marx aqui contou com o estímulo e a colaboração de seu grande amigo Friedrich Engels (1820-95). Juntos escreveram vários textos; e na maturidade Engels continuou ajudando Marx em alguns pontos da grande obra sobre a economia moderna que este preparou durante longos anos. Tratava-se de apontar, nas lacunas teóricas das obras dos economistas, a atuação da realidade social mesma que eles explicavam sempre só parcialmente.

É que os processos mencionados acima produziam até no plano do pensamento uma visão individualista e naturalizada da economia dita de mercado.

A constatação de que esta visão não se enfraqueceu hoje em dia - ao contrário, tornou-se quase hegemônica - permite avaliar o quanto a crítica de Marx ganhou atualidade. Ela não nega os fenômenos do mercado, das decisões individuais, da liberdade de movimento dos agentes econômicos; mas também não aceita que tais fenômenos sejam simplesmente dados naturais, e procura revelar sua origem em uma camada da sociabilidade que se oculta neles como seu avesso.

Com isso, Marx obtém uma perspectiva muito mais abrangente e adequada da dinâmica social capitalista, de simultâneo progresso e destruição. De fato, já o Manifesto Comunista (de 1848) faz o diagnóstico eloqüente do tempo instituído pelo capital: "Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado".


O livro pode ser comprado aqui. Custa só R$ 17,90.

CHINESES NO ESPAÇO


Esta vem da agência Efe, de Pequim:

O astronauta chinês Zhai Zhigang, de 41 anos e comandante-em-chefe da missão Shenzhou-7, acaba de fazer o primeiro passeio espacial de seu país.

O passeio espacial durou aproximadamente 15 minutos e foi transmitido pela televisão estatal chinesa CFTV-4, que acompanha minuto a minuto a terceira missão espacial tripulada da China desde que a nave foi lançada, na quinta-feira, dia 25.

Zhigang saiu hoje do módulo orbital e começou a flutuar no espaço a 343 quilômetros da Terra, o que transforma a China no terceiro país capaz de realizar "passeios espaciais", após Estados Unidos e Rússia.

Zhai e outro dos três astronautas a bordo da nave, Liu Boming, prepararam durante 15 horas o traje espacial Feitian (Voador do Céu), de tecnologia chinesa, com o qual o primeiro deles cruzou a porta do módulo e saiu pouco depois das 16h40 de Pequim (5h40 de Brasília).


É como se a China não tivesse mais nada o que fazer.

UM THUNDERBIRD NA CASA BRANCA?


Ontem à noite me armei de paciência e assisti ao debate entre Obama e McCain. Parte dele, pelo menos, porque aquilo foi tudo menos um debate - principalmente porque na retórica não há basicamente distinção explícita entre os dois: ambos são de direita (um, um pouco mais, o outro, um pouco menos), ambos defendem o imperialismo e supremacia star & stripes, e de nenhum pode-se esperar grandes mudanças ou avanços na hipocrisia que impera na política yankee (como em qualquer outro país dito "democrático").

Mas não foram nem os monólogos nem o "audiômetro" (um graficozinho que a CNN inseriu na tela mostrando a reação da audiência às falas dos candidatos) que mais me chamaram atenção, mas sim a descoberta que fiz: o senador McCain é na verdade um Thunderbird!

Lembra aqueles fantochinhos da década de 60, um tempo atrás ressuscitados pra telona com efeitos e coisa e tal? No filme, os bonecos foram aperfeiçoados, mas na série de tv eram mais como um híbrido entre marionetes e bonecos de ventrílogo, com aqueles cortes nos cantos da boca pra fazer de conta que se mexe.

Pois é... E não é que o McCain só mexe o queixinho que nem um Thunderbird? Bom, dizer que só mexe o queixinho é quase uma injustiça: as rugas da testa também se mexem. E pára por aí.

Dá nos nervos, dá uma coisa na gente ver aquele cara falando, gente! É como se tivessem injetado botox em todo o rosto, do lábio superior às sobrancelhas. Maior agonia! O cara mais parece um peixe morto!

Outra coisa que dá nos nervos: o Obama é loquaz e gesticula bastante, a gente vê seus olhos correndo do opositor ao mediador e deste para a audiência, as câmeras; a gente até vê quando ele olha dentro de si buscando uma palavra, uma informação. Gagueja e tropeça nos próprios pensamentos como o mais comum dos mortais.

O contraste com o thunderbird rijo de olhos fixos e inexpressivos como os de um zumbi é chocante. Rijo como se estivesse estaqueado àquele palanque, McCain praticamente não gesticula e seu olhar fica fixo no mediador.

A certa altura dei por mim procurando os fios de nylon que às vezes dava pra ver na série da tv. Em se tratando de um republicano, até dá pra desconfiar, dado o histórico de marionetes que eles conseguiram catapultar à Casa Branca.

Pra encerrar, não se entenda por este post que sou simpática ao Obama. Não sou simpática a nenhum dos dois, porque não vejo em nenhum deles a resposta para as necessidades reais da população norte-americana. De mais a mais, pra nossa balança comercial aqui, governos liberais fundamentalistas (=republicanos) são melhores do que os nacionalistas (=democratas), como quase uma década de governo Bush bem o comprovou (e como, antes dele já o haviam comprovado Reagan, Bush pai e outros).

Por outro lado, vejo esse enfraquecimento econômico dos EUA mais como um sinal positivo no sentido de um equilíbrio de forças no cenário internacional do que como o cataclisma institucional que andam apregoando (não esqueça nunca que o capital diretamente afetado por esta "crise" é também dono da mídia, portanto é mais que lógico que a imprensa defenda seus interesses aumentando as proporções do dito desastre): uma América enfraquecida economicamente tenderá a ser mais aberta ao diálogo, à negociação e à adesão a compromissos e acordos internacionais já que necessitará como nunca nas últimas décadas do apoio de seus aliados.

Enquanto não chega uma solução pro problema das insolvências e o pleito de novembro não bota um fim na hipocrisia de democratas e republicanos que ficam adiando decisões que deveriam ter sido tomadas anteontem, recomendo aos nossos vizinhos do Norte paciência, cautela e doses diárias da novena do Santo Expedito:

Senhor, tende piedade de mim. Jesus Cristo, tende piedade de mim.
Senhor, tende piedade de mim. Jesus Cristo, nos ouça. Jesus Cristo, nos escute.
Pai celestial, que sois Deus, tende piedade de mim. Deus, Espírito Santo, tende piedade de mim.
Santa Maria, Rainha dos Mártires, rogai por mim.
Santo Expedito, fiel até a morte, rogai por mim.
Santo Expedito, que tudo perdeu para ganhar a Jesus, rogai por mim.
Santo Expedito, que foste atormentado, rogai por mim.
Santo Expedito, que pereceste gloriosamente pela espada, rogai por mim.
Santo Expedito, que recebeste do Senhor a Coroa de Justiça que é prometida aos que O amam, rogai por mim.
Santo Expedito, ajudante daqueles que lhe pedem coisas, rogai por mim.
Santo Expedito, patrono da juventude, rogai por mim.
Santo Expedito, auxílio dos estudantes, rogai por mim.
Santo Expedito, modelo de soldado, rogai por mim.
Santo Expedito, protetor dos viajantes, rogai por mim.
Santo Expedito, salvador dos enfermos, rogai por mim.
Santo Expedito, consolador dos aflitos, rogai por mim.
Santo Expedito, apoiador fiel dos que se apegam em vós, rogai por mim.
Santo Expedito eu te suplico, não deixe para amanhã o que podes fazer hoje, vem em meu auxílio.
Jesus, Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, perdoe-me, Senhor.
Jesus, Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, escute-me, Senhor.
Jesus, Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, tende piedade de mim, Senhor.
Jesus, escute-me.
Jesus, escute minha oração. Que minha voz chegue a ti, Senhor.

(Depois dessa oração, rezar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e uma Glória-ao-Pai.)

26 de set. de 2008

NÃO AO CHEQUE EM BRANCO




Enquanto Bush filho articula para a aprovação dos 700 bilhões de ajuda aos agiotas, a população americana começa a se mobilizar e ir às ruas dizer o que pensa do assunto. A primeira manifestação aconteceu ontem em plena Wall Street, mas a coisa não pára aí: já foram criados websites, grupos de discussão por toda a internet.

Já que muitos jornais não estão mostrando, seguem algumas fotos:













ALTERNATIVA AOS PITBULLS



Tá aí uma alternativa no mínimo interessante pra quem anda preocupado em se proteger da malandragem.

25 de set. de 2008

ORDEM NO GALINHEIRO


Essa vem da agência Lusa: BERLIM DEFENDE REGULAÇÃO UNIVERSAL PARA MERCADO FINANCEIRO.

Já não era sem tempo de alguma voz de peso se juntar ao apelo de Lula por alguma ordem no galinheiro do laissez-faire. Nas palavras do ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück:

Trata-se nem mais nem menos de re-civilizar os mercados financeiros e evitar assim no futuro crises semelhantes.

Indo além, ele afirma que isso não será atingido com apelos retóricos à moralidade ou por meras declarações de intenção. Nada disso. Ele propõe a criação de mecanismos reais de regulação da bandalheira que impera no mercado de capitais particularmente no sistema anglo-americano e que nos lança a todos na lamaçeira dessa crise mais que anunciada.

Digo e repito: CADEIA PRA ESPECULADOR.

SINAL DOS TEMPOS

O grafite acima continua causando polêmica na UFRGS.

O estranho é que as reações negativas não partem da reitoria, mas dos integrantes do autoproclamado "Movimento Estudantil Liberdade" que entrou com processo administrativo por "dano ao patrimônio público".

Quando a Secretaria de Assuntos do Estudante viu a manifestação como um ato de extremo instigamento ao pensamento crítico, eivado de indagação filosófica que não desmerece o patrimônio, os ditos "liberais" picharam canhestramente o grafite e ainda colaram por cima um cartazete com os dizeres "censurado". E mais, encaminharam o caso ao Ministério Público Federal pedindo providências.

Nenhuma surpresa aí. Afinal, ao que parece, "liberdade", para os liberais, significa a liberdade deles (consumir, lucrar, explorar, etc...), não a de todos.

Minha surpresa veio pela opinião mais pertinente sobre o assunto, que partiu justamente de uma estudante da pós-graduação em administração (tradicionalmente um reduto "liberal"), para quem a provocação serve tanto para os alunos quanto para os gestores. Do conhecimento gerado aqui, uma instituição pública mantida pela sociedade, o que beneficia a comunidade?

Assino embaixo.

É hora da sociedade brasileira debruçar-se profundamente sobre o que espera do sistema público de ensino, para o qual a sociedade como um todo contribui, formando profissional e intelectualmente uma minoria privilegiada que tão logo dá de mão no diploma, passa a cuidar do próprio enriquecimento em pouco ou nada contribuindo para a sociedade como um todo.

As universidades federais são mantidas pelos impostos cobrados do patrão ao empregado, do magnata ao mendigo (sim, mendigo também paga imposto neste nosso modelo de justiça social). Um tempo atrás ouvi um comentário no rádio sobre os serviços comunitários prestados pelos estudantes do ensino público em um país europeu (a Suécia, se não me engano): em troca da gratuidade da universidade, eles prestam serviços à comunidade.

Na época, escrevi no forum da rádio que seria interessante um sistema similar no Brasil: por que não incluir no currículo de nossas universidades a prestação de serviços à comunidade sob a supervisão dos professores? Sim, isso de certa forma já existe, mas em apenas alguns cursos como o direito, a medicina, a odontologia, pedagogia e letras, se não me engano, e o serviço social. Minha proposta é estender essa rede a todos os cursos oferecidos, já que de uma forma ou de outra, todos têm potencial de contribuição direta e objetiva.

Ganharíamos todos: os estudantes com a experiência e a sociedade com o acesso a produtos e serviços que de outra forma não poderia contratar.

Eu inclusive iria além, estendendo essa disponibilidade para quatro horas semanais por dois a três anos após a formatura. Ganharia o SUS, ganhariam os hospitais e postos de saúde; ganhariam os municípios (os estudantes e recém formados poderiam optar por prestar tais serviços em suas cidades de origem), as comunidades, a rede de ensino, as administrações locais, as pequenas e médias empresas e a cidadania em geral.

A cada ano, nossas universidades públicas despejam entre 20 e 30 mil novos profissionais no mercado de trabalho. Até hoje essa realidade só tem beneficiado grandes empresas e corporações cujos lucros são realimentados pelo ingresso sistêmico de capital intelectual barato altamente motivado e sempre renovado.

24 de set. de 2008

BICO CALADO


Venho eu chacoalhando no buzão, quando uma voz cheia de razão se sobrepõe ao rugido surdo do motor: "O problema do Brasil é..."

"Bah!", exclamo calada, e já ia murchando os ouvidos, quando reparo nas figuras que discorriam sobre as mazelas do país: dois colonos bem providos prensados nos bancos especiais para idosos e deficientes.

Em pé, bem ao ladinho deles, uma velhinha carregada de sacolas resistia bravamente às tentativas do motorista de arremessá-la por uma das janelas.

Tive ganas de levantar e gritar:

- O problema do Brasil é que gente como vocês não tem o menor respeito pelos idosos! Não estão vendo essa senhora bem aí?!

Mas, o ônibus estava lotado e, confesso, o medo de perder o assento me fez ponderar. Isso e o fato de a velhinha não parecer nem um pouco incomodada com o aparente acinte. Tampouco o cobrador parecia se importar.

A caneta dele cai, e a velhinha, demonstrando habilidades dignas do Cirque du Soleil se abaixa equilibrando as sacolas e a devolve ao cobrador. Pensei que talvez depois dessa gentileza ele fosse se tocar e dar um chega-pra-lá nos colonos, mas que nada!

Me contive olhando feio os dois, torcendo que a certa altura sentissem queimar os cangotes e se dignassem a pelo menos tomar conhecimento da pobre velhinha.

Algumas paradas depois, o cobrador anuncia:

- Próxima parada, IPA.

Os dois brutamontes levantam literalmente empurrando a velhinha e suas sacolas e se dirigem à porta. Tenho ganas de gritar ao ver a cena, mas a moça ao meu lado confidencia detalhes íntimos de sua vida ao celular e longe de mim atrapalhar momento tão sensível... enfim, o ônibus pára e os colonos descem pela porta de frente empurrando todo mundo que já se acotovelava na parada pra pegar o ônibus. Aproveitando a brecha, a velhinha rapidamente toma o assento vago.

Do meu posto, sigo atenta os dois brutamontes com o meu melhor olhar de reprovação já engatilhado e pronto pra disparar.

É quando um deles bate de cara no poste da parada enquanto o outro desajeitamademnte desdobra a bengala.

Ainda bem que fiquei quieta.

ARTE DO SÉCULO XXI

"Obra" de Damien Hirst, arrematada por 26 milhões de dólares:

(Sim o tubarão é de verdade, e o líquido azul é formol.)

"Obra" de Jeff Koons, avaliada em 5 milhões de dólares.

(Não, não são balões e sim uma liga metálica.)

Sem comentários.

POR TRÁS DO DONNA FASHION


Meu lembrete às deslumbradas que já andam alvoroçadas com a próxima edição do Donna Fashion: nem sempre o que se vê melhor no espelho é o que mais chama a atenção.

23 de set. de 2008

TRUCULÊNCIA


Os cidadãos feridos nessas fotos são professores da rede estadual de ensino. Mal pagos, desestimulados e, em muitos casos, basicamente ignorados em suas precárias salas de aula em remotos rincões deste Rio Grande do Sul. Não são "baderneiros", como quer fazer entender o comandante da Brigada.

Há mais de uma década a Praça da Matriz não via cenas como essas. E olha que trabalhando por anos a fio num escritório bem lá na mesma praça, eu vi de tudo: desde o Grêmio campeão do mundo até as correrias e quebradeiras do MST.

E não venham me dizer que a tropa "fugiu ao controle": a dura repressão a toda e qualquer manifestação de oposição ao governo do Estado é ordem direta da governadora. E foi na expressa obediência a essa ordem que a brigada atirou com balas de borracha, lançou bombas de gás lacrimogênio e, finalmente, caiu na porrada mesmo. Aliás, foi pra isso mesmo que a Yeda nomeou o coronel Mendes - o cara do "tem que ir pro paredão".

Acuada pela infindável sucessão de escândalos (que, a bem da verdade, nem sempre começaram em sua gestão, mas mesmo assim persistiram); a cada dia que passa fica mais evidente a inépcia política da governante gaúcha em lidar com o contraditório - pedra fundamental da democracia.

Vergonha.

CHACINA ANUNCIADA


Outra vez a Finlândia amanhece chocada com uma chacina em uma escola. 9 mortos desta vez, conforme o prefeito de Kauhajoki. O atirador tentou suicídio, mas não foi imediatamente bem-sucedido: permanece internado em estado grave com um projétil encravado no cérebro.

Em novembro de 2007, Pekka-Eric Auvinen de 18 anos matou 6 colegas mais o diretor e uma enfermeira da escola onde estudava, antes de cometer suicídio.

Coincidentemente, à excessão da maioria dos países civilizados da Europa, o porte de armas é liberado na Finlândia e 1.6 milhões de armas se encontram nas mãos de civis.

Preciso dizer mais?

22 de set. de 2008

REFLEXOS DO MEDO


Saiu no El Pais: estudo lança bases para se concluir que pessoas que se assustam mais facilmente são predispostas a sentimentos patrióticos exacerbados e belicistas, à defesa da pena de morte, à proibição do aborto, dos casamentos gays e do sexo pré-conjugal; opondo-se à imigração e integração racial ao mesmo tempo que defendem as revistas sem autorização judicial, a pena de morte, a Lei do Patriotismo, a obediência, a oração na escola e a verdade da Bíblia.

O estudo foi desenvolvido pelo Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Nebraska em Lincoln, consistindo numa amostragem de 46 indivíduos com "fortes convicções políticas" tanto à dita "esquerda" como à "direita". Na entrevista, eles discorreram sobre suas opiniões quanto à imigração, ajuda externa, controle de armamentos e outras questões políticas.

Dois meses depois, foram convocados para participar de uma bateria de testes. Os pesquisadores aplicaram em cada voluntário equipamentos de medição para analisar o suor, os movimentos oculares súbitos e outros sinais de ansiedade e reações repentinas. Em seguida, submeteram às "cobaias" 33 fotografias e uma série de ruídos ambientais variando do agradável ao assustador.

Enquanto o grupo dos "liberais" mostrou reações emocionais dentro do limite da normalidade aos sons e imagens mais negativos, o grupo dos "conservadores" reagiu com medo e ansiedade notáveis.

Outros estudos já apontavam no sentido de uma correlação entre a biologia e as convicções e crenças das pessoas, desde que a ciência descobriu que ambas (medo e atitude política) são controladas pela mesma estrutura cerebral - a amígdala.

Pessoas mais propensas ao medo, também tendem a ser as mais preocupadas em proteger os interesses de seu grupo social, seja contra inimigos externos ou criminosos internos.

Não é à toa que a humanidade parece caminhar a largos passos rumo a uma nova forma de totalitarismo: vivemos com medo da criminalidade, das ameaças internas e externas, da falência, da pobreza, da doença, do envelhecimento, da morte.

Atentos a isso e aos avanços científicos, governos e conglomerados pelo mundo a fora (particularmente em países do primeiro mundo) usam e abusam desses medos pra sancionar produtos e medidas fascistas às quais o rebanho aterrorizado adere aliviado pela ilusão de que, de alguma forma, o Grande Irmão os irá proteger das ameaças diretas, enquanto o Deus Consumo os há de abençoar com a paz e a plenitude antes buscadas (e obviamente não encontradas) nas religiões.

Ledo engano. O poder busca mais poder, e o capital busca mais capital. O indivíduo sadio e feliz é o inimigo número 1 dos fascistas e capitalistas de plantão, porque ele não abre mão de sua liberdade, de sua privacidade, soberania e capacidade de manipular o próprio destino para alcançar a felicidade e a paz de espírito pelo auto-conhecimento e pela realização pessoal pela caridade e solidariedade.

O indivíduo sadio e feliz não tem medo da mudança, não teme as sombras da incerteza e está aberto ao novo, ao desconhecido. Ele nos tirou das cavernas, nos lançou ao espaço e relevou as profundezas de nossas almas. Criou a arte e disseminou a beleza.

O indivíduo temeroso tem ojeriza à mudança, à incerteza, ao novo, ao desconhecido. Ele criou as armas, a suspeita, a espionagem, a tortura, a discriminação, as guerras, a destruição; criou o próprio sistema econômico que nos sujeita a uma vida de escravidão pela idílica perspectiva de um futuro cujos "privilégios" atingimos - quando e se atingimos - com pouca ou nenhuma saúde física e mental para gozar; e a ilusão de "segurança", quando, na verdade, a acumulação gera mais insegurança, mais medo, mais destruição.

Se há uma base biológica para o medo, há uma atitude psicológica para lidar com ele. Ninguém que nasceu com a predisposição ao medo (e quem vos fala sofreu de terror noturno por praticamente toda a infância) está condenado a viver com medo. Superar esse medo instintivo é uma das lições primordiais que deveríamos aprender na infância.

Falhar nessa prova tem reflexos duradouros não só em nós como indivíduos, mas na sociedade como um todo. A recorrência de bilhões de indivíduos ditos adultos presas do medo instintivo em pleno século XXI é um reflexo da falta de amadurecimento que está nos lançando na contra-mão da evolução científica da qual tanto nos orgulhamos.

Onde vamos parar? Arme uma criança de 6 anos até os dentes e veja o que acontece.

QUEM GANHA COM A QUEBRADEIRA



Tá no blog do Sergio Dávilla de hoje:

Quando a Enron, a gigante de energia que faliu e deixou milhares na miséria, o CEO Kenny Boy saiu com um pacote de US$ 42,4 milhões.

CEO do Lehman Brothers, Richard Fuld deve embolsar US$ 65 milhões com a concordata do banco.

Stan O'Neal, do Merrill Lynch, levou US$ 160 milhões -o banco de investimentos, o terceiro maior dos EUA, foi vendido antes que quebrasse. Jimmy Cayne, que comandou o Bear Stearns por 15 anos, levou US$ 61,3 milhões em venda de ações. Além do pacote, ganhou um "plano-aposentadoria" de US$ 30 milhões.

Tô falando que o pânico das bolsas não é um fenômeno isolado: é tudo um golpe aplicado por tipos como os estelionatários acima pra garantir suas aposentadorias. O povo que se rale, como sempre se ralou no curso da história.

16 de set. de 2008

PARANDO O TRÂNSITO



Enquanto possantes e flamejantes buzinavam e xingavam ensandecidos, o cidadão acima (ele sim, merecedor do título) nem se deu por achado: ignorou a estupidez à sua volta e resgatou o filhote da morte certa. Um herói. Quem faz isso por um cachorrinho, faz por uma criança, por um velho, por um desvalido.

Aos que xingaram e buzinaram (e que, muito provavelmente sequer respeitam a faixa de pedestres) só tenho uma coisa a dizer: vocês são o tipo de gente que só está neste mundo pra ocupar espaço. Xô!

5 de set. de 2008

NADA DE NOVO



Mais um dia de histeria nas bolsas pelo mundo a fora. A cada vez que os tubarões dançam ao redor dos números, centenas de milhares (e, dependendo do caso, milhões) perdem seus empregos, suas casas, seus planos de saúde, suas perspectivas de vida, etc etc etc.

Solução? Criminalizar a especulação financeira: bolsa de valores é JO-GA-TI-NA, só ajuda a economia dos donos do capital, e de ninguém mais. Wall Street, assim como todas as bolsas em todos os países, não passa de um cassino com crupiês fantasiados de executivo. Cadeia pra essa corja.

E tenho o dito.

ELES ESTÃO DE VOLTA



É isso mesmo: segundo a Columbia Pictures, Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson devem se reencontrar nas filmagens do terceiro Caça-Fantasmas. Nenhum detalhe ainda foi revelado sobre a trama, os roteiristas já estão escolhidos: Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky. Resta torcer que Ivan Reitman volte à direção.

JUSTIÇA SEJA FEITA



Pesquisa realizada pela Universidade Heriot Watt de Edimbugro, na Escócia dá credibilidade científica ao que muita gente como eu já sabia:

1 - pessoas que curtem jazz são criativas e extrovertidas;
2 - pessoas que curtem pop têm pouca criatividade ; e
3 - metaleiros e amantes da música clássica têm muito mais em comum do que julga nossa vã filosofia:

São pessoas muito criativas, introvertidas e de bem consigo mesmas, o que é estranho. Como você pode ter dois estilos tão distintos com grupos de fãs tão parecidos?

Pergunta o professor Adrian North (que liderou o estudo), e continua:

As pessoas em geral têm um estereótipo sobre os fãs de heavy metal, acham que eles têm tendência suicida, são deprimidos e representam um perigo para si e para a sociedade em geral. Na verdade, são pessoas bem delicadas.

Não poderia estar mais de acordo. Aliás, o perigo mesmo está nos certinhos conformados da cultura pop que na falta de alguma vida interior compensam tornando miseráveis as vidas de todos ao seu redor.

É HOJE! É HOJE!



Depois de uma semana de angustiante espera, o Spore deve finalmente chegar às prateleiras. UFA!!!! Se você não fez a pré-venda, corra: este é com certeza o melhor jogo de todos os tempos (até então) e vai vender como pão de queijo.