27 de ago. de 2008

QUEM AMOU ROSE?



Nos cinco anos que viveu, Rose aprendeu muitas coisas. Antes mesmo de aprender o bê-a-bá, aprendeu que o amor é relativo, que pais podem ser carrascos, que a vida, sim, pode ser injusta, miserável, infeliz.

Tudo começou na França, quando Rose ainda era um bebê, e sua mãe começou um caso com o sogro. Ao descobrir, o pai pediu o divórcio e levou a filha consigo para Paris. A mãe e o avô se mudaram para Israel onde tiveram dois filhos.

Em abril de 2007, Rose foi hospitalizada depois de ser duramente espancada pelo pai e pela madrasta Jennifer. Em dezembro daquele ano, as autoridades francesas permitiram que fosse enviada para Israel a pedido da mãe e do avô/padrasto.

Mas os maus tratos não pararam aí. Segundo os vizinhos, Rose era uma menina triste e vítima de constantes maus tratos. Tão ruim era a situação que em março deste ano, ela foi enviada para a bisavó. Talvez ali, Rose tenha sorrido pela primeira vez - foto acima foi tirada nesse período. Não é um sorriso de quem está acostumado à sorte, não posso deixar de acrescentar.

Mas não foi o fim. Dia 12 de maio, Rose desapareceu.

Três meses depois, sua bisavó foi à polícia.

Em poucos dias, o avô/padrasto confessou à polícia. Em suas palavras, sua mulher (mãe de Rose) havia pedido a ele que "desse um fim na menina". Ele segue: "Rose se comportou mal quando estava no banco traseiro do carro e eu dei-lhe um tabefe. Veio um silêncio no carro e quando olhei para trás ela estava morta. Então a coloquei em uma mala vermelha e joguei no rio Yarkon".

Paternidade (e, por extensão, maternidade) é assunto sério. Todo mundo quer casa, carro na garagem e filhos bem comportados pra impressionar os vizinhos e ganhar status de pessoa "séria". Poucos têm maturidade pra entender que filhos são pessoas, são indivíduos e não nossas cópias em miniatura. Fico com a sabedoria do libanês Khalil Gibran:

Seus filhos não são seus filhos.
São os filhos e filhas da Vida desejando a si mesma.
Eles vêm através de vocês mas não de vocês.
E embora estejam com vocês, não lhes pertencem.
Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Vocês podem abrigar seus corpos mas não suas almas,
Pois suas almas vivem na casa do amanhã, que vocês não podem visitar, nem mesmo em seus sonhos.
Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem torná-los iguais a vocês.
Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.
Vocês são o arco de onde seus filhos são lançados como flechas vivas.
O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele curva vocês com Seu poder, para que suas flechas possam ir longe e rápido.
Deixem que o seu curvar-se na mão do arqueiro seja pela alegria:
Pois mesmo enquanto ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é firme.


Que mundo teríamos, se as pessoas ao menos entendessem essa simples verdade!

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