Um adorável gatinho cinzento foi dar às portas de um mosteiro em uma região remota do Tibete. Surpresos e maravilhados, os monges o acolheram e o gatinho cresceu no mosteiro cercado de mimos e agrados.
A história acabaria aqui, se não fosse o hábito desenvolvido pelo gatinho de miar e protestar ruidosamente todos os dias ao entardecer, quando os monges se retiravam para a meditação deixando-o sozinho na cozinha.
Tamanho era o barulho que o gatinho fazia que um dia, muito a contragosto, o mestre ordenou ao cozinheiro que o amordaçasse, fechasse num saco e o deixasse trancado dentro de um armário durante a prática noturna.
Daquele dia em diante puderam os monges meditar sem serem perturbados pelo gatinho, a quem o cozinheiro zelosamente libertava tão logo encerrada a prática.
O tempo foi passando e um dia o mestre morreu. Mas o gatinho continuou sendo amordaçado, enfiado no saco e trancado no armário durante a meditação.
Eventualmente, o gatinho ficou velho e morreu. Sentindo sua falta, os monges foram buscar outro gatinho a quem desde pequenino amordaçavam, enfiavam no saco e trancavam no mesmo armário todos os dias durante a prática da meditação.
Séculos depois, quando todos os fatos já há muito haviam se perdido no passado, praticantes intelectuais que estudavam os ensinamentos daquele mosteiro escreveram longos tratados escolásticos sobre a importância de se amordaçar, ensacar e trancar os gatos durante a prática da meditação.
(Parábola Zen, livre adaptação)
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