2 de mai. de 2013

O SHOW DE BLACHMAN




Em pleno Terceiro Milênio, o local é a Dinamarca, um desses países ditos "de primeiro mundo", para onde nós tupiniquins lançamos olhares de veneração. Afinal, eles são ricos, refinados, cultos, civilizados, não tratam as mulheres como coisas e por aí a fora.

Pois foi lá mesmo que o premiado músico de jazz Thomas Blachman (o cara tem nada menos que cinco Danish Music Awards) depois de assistir à lenta agonia do controvertido show de talentos "The X Factor" que trazia ao ar decidiu "inovar"* com um talk show "cultural" chamado "Blachman" levado ao ar pelo sinal aberto do canal estatal DR2, em rede nacional.

Por quê? O corpo feminino "tem sede dos comentários masculinos",  explica Blachman.

Funciona assim: dois sujeitos (ninguém se importa se eles são gordos, magros, carecas, repulsivos ou atraentes - um deles, é claro, é o próprio Thomas), sentam em poltronas contíguas numa sala escura como como um strip club barato.

Aí, uma mulher entra na sala vestindo só um robe, posiciona-se uns dois metros à frente dos dois cidadãos e deixa cair o robe.

Os homens então passam a comentar sobre seus detalhes anatômicos.

Aos "comentaristas", além de emitir relevantes pareceres sobre a "animação" dos mamilos da mulher em questão, também é permitido endereçar diretamente a mulher.

Talvez o talk show se tornasse minimamente interessante se a essa altura os comentaristas perguntassem à mulher sobre como ela vê a vida, a política, o que busca num homem, como vê o futuro, como sente seu corpo, como vê os homens, como vê o sexo, sei lá... mas a noção de cultura de Blachman carece de sutileza:

- E aí, como essa b*c**a está funcionando para você?

Sim, eu não estou mentindo. Isso foi de fato perguntado ao vivo e a cores para toda a Dinamarca ver.

A crítica logo caiu de pau, taxando o programa de chauvinista pra baixo.

Sentindo-se "incompreendido e injustiçado", o Blachman argumentou que só pretendia "revisar" a visão que as mulheres têm da visão dos homens sobre seus corpos. Aí pegou as malas e a cuia e se mandou de volta para Nova Iorque, reclamando: "a ingratidão está acabando com os poucos gênios que vivem em nosso país".

Que os Blachman da vida continuem inventando toda a sorte de baixarias pra faturar em cima da legião de trastes solitários que só conseguem se relacionar com bonecas infláveis não me espanta nem um pouco - basta ver as fortunas acumuladas pelos "criadores" de revistas, livros e filmes pornográficos.

O que não deixa de me assombrar é como é que em pleno século XXI ainda tem mulher que se preste pra isso e até fique ali parada, com um sorriso besta na cara.

* botei aspas, porque ainda tem um monte de gente por aí que parece (ou faz de conta) que não sabe que o nu frontal é uma "inovação" mais velha que o cinema.

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