20 de mai. de 2008

QUESTÃO DE SOBERANIA?



Cresce junto à opinião pública dos países ditos civilizados a convicção de que uma intervenção em Mianmar se justifica pela aparente morosidade da junta militar em providenciar socorro às vítimas do ciclone Nargis.


“Morosidade” é eufemismo: o termo correto é GENOCÍDIO.


Oito dias depois da catástrofe faltam água, alimentos, agasalhos, medicamentos, tetos para abrigar os flagelados. Faltam médicos e enfermeiros. Falta esperança, nos olhos baços que se desviam dos corpos putrefatos ao colher água dos rios contaminados. O alívio dos sobreviventes do primeiro impacto é aos poucos substituído pelo terror da morte certa, lenta e dolorosa que espreita logo a seguir.


Em sua ignorância e desespero, os sobreviventes lançaram aos rios os corpos de pessoas e animais mortos nas enchentes, na esperança de que as águas os levassem. Há trechos em que a quantidade desses corpos torna inviável a navegação.


Mianmar é uma bomba-relógio pronta a explodir. Uma bomba relógio que vai disseminar cólera, tifo, desinteria, leptospirose, botulismo, malária, dengue, hepatite e meningite entre outras numa epidemia com potencial para atingir imediatamente as populações de países vizinhos como Bangladesh, Índia, Tailândia, China e Camboja; e, num segundo estágio, populações pelo mundo a fora.


Mas, afinal, quais os limites da "soberania"? Até que ponto os governos são "soberanos" para ditar a vida e a morte de seus cidadãos? A possibilidade de uma epidemia regional incontrolável justifica uma intervenção em Mianmar?


Dita o bom senso que tal possibilidade justifica sim uma intervenção imediata da ONU no país, seguida da prisão e sujeição do tal General Than Shwe a uma Corte Internacional por genocídio.


Mas que precedente estaríamos abrindo com tal iniciativa?


Não estaríamos abrindo a Caixa de Pandora, e com isso criando um precedente que mais adiante justifique, por exemplo, uma intervenção no Brasil para frear o desmatamento da Amazônia?


Não tenho resposta. Vou continuar pensando, como continuaremos todos, enquanto acompamos o desenrolar dessa tragédia anunciada do conforto de nossos sofás.

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