Um contexto cultural que confunde prudência com insegurança, temperança com hesitação, cautela com temor e passividade com falta de auto-estima; nos empurra cotidianamente às reações imediatas, a falar e agir antes de pensar.
Reagir ao impulso, ao sentimento não-elaborado, ao calor do momento, enfim; leva inexorável e invariavelmente ao conflito, mágoa, frustração, arrependimento e, no longo termo, à ansiedade, à depressão e outras severas aflições emocionais.
Vamos combinar: não é um bom caminho para se alcançar a felicidade. Porque é o CAMINHO DA DOR.
Tenho falado muito em se "viver o momento".
Meditando agora há pouco, senti que a expressão que tenho usado com tanta frequência precisa ser explicada, pois dependendo de COMO esse momento é vivido, pode-se avançar tanto no caminho da dor como no da felicidade.
"Viver no momento", ao contrário do que o termo sugere, é a atitude PASSIVA, de contemplação, concentração, observação e perspicácia que desenvolve o auto-conhecimento - que é o ÚNICO CAMINHO VÁLIDO PARA A FELICIDADE.
Como você pode aspirar à felicidade sem conhecer suas motivações mais profundas?
Em termos práticos, é desenvolver e aplicar a disciplina de suspender momentaneamente toda a ação e perguntar-se de onde está vindo a vontade de falar ou reagir dessa ou daquela maneira.
Essa é a chave para se alcançar o famoso "conhece-te a ti mesmo".
Perdeu a oportunidade de usar o sarcasmo e desarmar o "oponente"?
Tanto melhor! NINGUÉM é seu oponente neste mundo! Mesmo (eu até diria PRINCIPALMENTE) as pessoas por quem temos ojeriza, com as quais não conectamos em plano algum, estão aí para NOS ENSINAR, não nos boicotar, ou sabotar o nosso crescimento.
Se você vê qualquer inimigo ao seu redor, troque os óculos: está olhando o mundo pelas cores erradas.
Se vê ou sente ameaças, olhe para dentro: elas estão EM VOCÊ. É a maneira como você reage a obstáculos e desafios que precisa ser revisada mesmo estando convicto da SUA verdade e que o outro é que está errado.
A SUA verdade não invalida a verdade de ninguém. O que existe aí para ser ponderado é a ORIGEM dessa sua verdade, da sua convicção:
É algo que você realmente sente, ou é uma verdade aprendida de convicções incutidas por condicionamento familiar, social ou cultural? Será uma verdade que você SENTE lá no fundo da alma, do coração; ou uma verdade à qual se agarra por status ou aceitação social?
E não estou nem entrando na seara do "outro", porque questionar a SUA verdade NÃO IMPLICA em aceitar a do outro como mais absoluta ou verdadeira - isso é irrelevante ao processo de crescimento pessoal: cada um sabe de si, e não cabe a nenhum de nós julgar, impor, repreender ou reprimir ninguém neste mundo: o outro a quem você está reagindo é sempre movido pelas próprias verdades que para ele são tão reais e absolutas quanto as suas. Confrontá-las ou não é o caminho DELE, não o seu.
Questionar as próprias verdades é buscar a autenticidade consigo mesmo, é tornar-se senhor e mestre da própria vontade, e tomar as rédeas da própria vida tendo como compasso absoluto a sua essência, a sua natureza que é ÚNICA e que não pode (nem deve) ser influenciada por qualquer fator externo; nem nas piores adversidades.
E, em essência, TODOS somos AMOR. Todos queremos e buscamos amor. Todos queremos acolhimento, aceitação, plenitude, enfim.
Mas, (e sempre tem um senão) porque desconhecemos nossas chaves, nossos próprios botões - enfim, o que nos move nesta vida; tendemos a buscar MAIS o acolhimento, a aceitação, a plenitude no OUTRO do que em nós mesmos. E assim ocupados em buscar fontes externas, descuidamos de construir em nós mesmos as bases para que acolhimento, aceitação e plenitude criem raízes dentro de nós.
Sim, "criem raízes": porque o processo é subterrâneo, é INTERNO, vem de dentro para fora.
É o processo de se deter a cada momento e avaliar o que nos move, o que motiva nossas escolhas, nossas reações.
Não falo em ações, porque a falta de auto-conhecimento obstrui qualquer possibilidade de ação, limitando-nos à REAÇÃO. Andamos às cegas por aí tropeçando, caindo e esbarrando nos outros e ainda os culpamos pelos cortes, fraturas e arranhões.
E com isso voltamos, à AÇÃO <===> REAÇÃO, porque "AÇÃO" é um dos pilares da nossa sociedade. Vivemos num ambiente que cultua "pessoas de ação". Todos querem agir ao mesmo tempo. Todos querem ter a iniciativa, o impulso, a motivação: construir, prosperar, acumular. "A melhor defesa é o ataque" é a frase ecoada aos quatro ventos. Essa mentalidade sugere um ambiente hostil, no qual para sobreviver é preciso estar-se constantemente na defensiva, fechado, encastelado na própria torre e disposto a pulverizar qualquer ameaça.
Nos apegamos a pessoas, posses e status como se eles nos definissem como indivíduos; e percorremos o mundo em nossas brilhantes armaduras apregoando ideais que nos façam parecer nobres e elevados.
Mas não somos: nosso cordão umbilical pode ter sido cortado no parto, mas segue bem enroladinho e apertado dentro de nós clamando pelo calor e segurança do útero de onde tão abrupta e violentamente fomos expelidos.
Quanto menos nos abrimos a essa verdade, menos conscientes somos do que realmente nos move. Até o monje budista com todo o seu desvelo e desprendimento busca o útero pelo Nirvana.
A primeira grande verdade a ser confrontada, aceita e liberada é a perda TOTAL e IRREMEDIÁVEL desse útero como um fator externo:
NENHUMA circunstância externa da vida o trará de volta.
Esse perfeito equilíbrio de segurança, envolvimento, pertença, entrega pacífica e unidade com outro ser é o paraíso perdido com que nos defrontamos no instante que sentimos o doloroso contato com o frio da sala de parto, do áspero tecido em que nos envolvem, da fome que subitamente irrompe em nossas entranhas. Fome (a raiz do medo, porque padecemos sem alimento), sentimento até então desconhecido, porque saciedade era um fluxo constante e não precisávamos fazer absolutamente nada.
A vida no útero é uma vida de INAÇÃO. Quando muito, reagimos a algum estímulo externo, algum barulho súbito, alguma agitação no organismo que nos abriga.
Então, nascemos.
AÇÃO <===> REAÇÃO
Para a maioria, a vida daí em diante segue em círculos: partimos buscando no ambiente as condições que supram a falta desse útero, não as encontramos, nos decepcionamos, sofremos e retomamos a busca sem nunca questioná-la em primeiro lugar.
Só existe um jeito de quebrar esse círculo (vicioso!), de transformá-lo numa reta e evoluir: identificar em nós essa busca, tomar nos braços esse bebê com todo o carinho e explicar para ele que o útero se foi, e que não há nada no mundo que possa substituí-lo.
O melhor que podemos fazer é adequar nossas expectativas à realidade do ambiente em que vivemos, cientes que nada nem ninguém é CAPAZ de recriar aquela situação; mesmo que tentem com toda a vontade, com todo o amor e dedicação.
Faça isso por você mesmo.
Faça hoje, comece agora: aceite a vida como ela é, e seja grato por ter sobrevivido à perda da condição ideal e ainda assim acreditar que, sim, há magia e beleza de sobra para sorrir e amar a si e aos outros, por tudo e apesar de tudo.
Só esta AÇÃO curadora sobre nós mesmos pode nos libertar do círculo vicioso da REAÇÃO e nos elevar à condição de agentes do nosso próprio destino.
uau <3
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