- Estou tão cansada, vovó... minha vida não leva a nada, é tudo tão inútil, não sei mais o que fazer! Estou cansada, triste e com muita raiva! - desabafou aos prantos mal a avó abrira a porta para recebe-la.
Vó Amélia abraçou a neta até que se acalmasse, então convidou:
- Vamos até a cozinha?
Ainda soluçando, Laura seguiu a avó até a cozinha da pequena casa evocando ternas lembranças a cada cômodo por que passavam.
Chegando à cozinha, ao invés da chaleira, vó Amélia encheu uma panela com água e a levou ao fogo. Laura estranhou, mas não disse nada, entregue que estava a seus pensamentos conflituados.
Enquanto a água esquentava, ao invés do chá, vó Amélia jogou uma cenoura, um ovo e um punhado de grãos de café na água, então sentou numa cadeira a esperar em silêncio como se Laura nem estivesse ali.
Achando que a avó não estava regulando bem, Laura perguntou:
- O que você está cozinhando, vovó?
- Cenoura, ovo e café. - respondeu a avó com um sorriso.
Laura abriu a boca, mas vó Amélia com um gesto firme indicou que esperasse.
Quando o timer começou a tocar, vó Amélia desligou o fogo, retirou com cuidado a cenoura e o ovo colocando-os em seguida de molho na água fria e voltou a sentar à espera.
- Tome. - disse estendendo a cenoura a Laura depois de algum tempo - Tente quebrá-la.
Um tanto relutante, Laura pegou a cenoura e sem o menor esforço esmagou-a entre as mãos.
Vó Amélia então estendeu-lhe o ovo.
Laura pegou o ovo e apertou. A casca se partiu, mas o duro ovo cozido permaneceu intacto.
- Agora quero que prove isso. - disse a avó oferecendo a panela.
Laura aspirou o aroma do café, provou um golinho e devolveu a panela.
- É café... - disse erguendo as sobrancelhas - Não estou entendendo...
- Me diga, minha neta: a água fervente é um estado natural?
- Não, claro!
- Para a cenoura, o ovo e o café, a água fervente é uma circunstância adversa, e cada um reagiu à sua maneira: a cenoura, que era dura e inflexível amoleceu e tornou-se fraca. O ovo, que só contava com sua frágil casca como proteção para o líquido em seu interior continou com a casca frágil, mas seu interior endureceu...
Vó Amélia fez então uma pausa, e tomando outra vez a panela nas mãos, aspirou longamente o aroma do café, então continou:
- Mas o café, ah este sim é único, pois depois de algum tempo na água fervente, ele mudou a própria água...
E foi com um olhar penetrante que parecia enxergar o fundo da alma da neta que vó Amélia perguntou:
- Qual dos três você escolhe ser?
(foto: senhora Beuchert em sua cozinha, Washington, 1917, fotógrafo desconhecido. Mais fotos históricas aqui.
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