29 de jan. de 2013

CEDO DEMAIS PARA MORRER


Diz-se da foto aí que se trata de tatuagem feita por Raquel Daiane Fischer, filha de uma professora e um sindicalista. Ela tinha 19 anos e era natural de Horizontina, onde fora rainha da última edição da Feira Internacional de Tecnologia da Informação (FEINTECH).
 
Raquel morreu em Santa Maria onde estudava Tecnologia dos Alimentos, na UFSM.
 
A essa altura já vejo muita gente suspirando e revirando os olhos: "chega de falar nisso", "não tem outra coisa pra falar?"... a essas pessoas eu digo: vocês são vítimas também.
Vítimas da autofagia do novo, do espetáculo; estão condenadas a gastar seu tempo de vida na solidão a que se confinam pessoas que perderam a dimensão da humanidade.
 
Desculpem: não vou trocar de assunto.
 
O que aconteceu em Santa Maria não pode ser reduzido à banalidade das fofocas de celebridades ou ao sensacionalismo melodramático das manchetes que invadem as mídias sociais por algumas horas, para serem esquecidas logo depois.
 
E se minhas palavras te irritaram, há um botãozinho mágico aqui no Facebook que resolve tudo. Vá em frente: estará fazendo um favor a mim também.
 
O que eu tinha para falar sobre leis, punições, serviços e tudo o mais, eu já fiz. Em momento algum, até agora, havia me debruçado sobre as vidas perdidas justamente para não  endossar o coro histérico dos traumatizados by proxi, (que considero um insulto egocêntrico e insensível aos familiares dessas centenas de garotas e rapazes).
 
Se há algo que essas famílias precisam de nós neste momento, é da nossa força e lucidez, porque somos nós, eu e você, que vamos determinar a dimensão histórica dessa tragédia, e, consequentemente, se seus entes queridos morreram em vão: se foi esta a derradeira ou só mais uma "tragédia brasileira" a engrossar a lista infindável de horrores que nos revoltam a todos para, caindo no esquecimento, abrir caminho para sua repetição.
 
De minha parte, vem um longo e extenuado BASTA.
 
Não aponto dedos a políticos, governos ou indivíduos: a extensa cadeia de (ir)responsabilidades que permeia a fibra de nossa sociedade é a culpada, e o Brasil inteiro hoje deveria sentar no banco dos réus.
 
Porque ao mesmo tempo que nos mostramos chocados, nos omitimos a toda a sorte de disparates. Está na cultura de todo o brasileiro exigir dos outros o cumprimento das mesmas leis e normas que quebramos, conforme a conveniência do momento - sim, sempre há uma boa explicação pra estacionar onde é proibido parar: "é rapidinho"; ou pra beber aquele golinho antes de pegar a direção "é só uma cervejinha"; ou até mesmo pra subornar aquele fiscal "é só uma burocracia de nada".
 
Os garotos e garotas, irmãos, irmãs, filhos, pais, mães, militares, bacharéis, doutores e mestres de Santa Maria morreram por "detalhes técnicos".
 
Quantos mais serão necessários?
 
Agora eu desabafei.
BOM DIA!!

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