7 de fev. de 2013

SABENDO USAR...


Ano passado, enquanto a população aproveitava as férias no litoral, a prefeitura de POA aproveitava para derrubar uma figueira centenária bem no centro da cidade.

Um tempo atrás, foram as árvores da Praça da Alfândega, por estarem tornando o ambiente insalubre, depois de décadas de total abandono.

Nestas férias, a prefeitura voltou à carga com a derrubada de uma série de árvores  na av. Edvaldo  Pereira Paiva, próximo ao Gasômetro.

Anos atrás, quando reclamei do desleixo da SMAM em remover a erva de passarinho das árvores da cidade, fui informada que o serviço de manutenção representava um custo inútil, já que a erva voltava a crescer; e que pelas árvores em questão não se tratarem de espécies nativas, seu cuidado não era prioritário.

Desta vez, as árvores cedem espaço à duplicação da avenida (que integra o Plano Diretor da cidade desde 1985); parte do "conjunto de obras" para a copa do mundo. Serão removidas, no total, 115 árvores de espécies "exóticas" - aquelas mesmo que só representam custo por serem mais suscetíveis à infestação por pragas e ervas daninhas.

Mas voltando à derrubada das árvores da Edvaldo Pereira Paiva, o que mais chamou atenção nas mídias sociais foi a pérola do prefeito Fortunati: “As pessoas não utilizam estas árvores no Gasômetro”, que acabou virando piada de mau gosto.

A essa bobagem, eu gostaria de responder que tem um plátano centenário aqui bem na frente da minha janela. Está tão tomado de ervas de passarinho que só dá pra diferenciar suas folhas das ervas no outono e no inverno, porque as folhas do plátano amarelam e caem, só voltando no começo da primavera. De tão estressado pelo excesso de ervas daninhas, o plátano já não hiberna mais. Explico: como são árvores características de climas frios, seguindo-se à queda das folhas no outono, os plátanos ficam com o tronco todo branquinho, e entram num estado de dormência, resguardando suas energias para a florescência na primavera.

O plátano em frente a minha janela já não hiberna há três anos. Está morrendo lentamente. Logo seus galhos apodrecerão e começarão a cair em cima de carros e fios. Vai chegar ao ponto de agradecer pelo dia em que a SMAM chegar com suas  motosserras para livrá-lo da longa agonia.

Mas enquanto há tempo, saiba sr. prefeito que eu "utilizo" esta árvore toda a vez que olho pela janela - o que acontece algumas centenas de vezes por dia, que ela me enche os olhos e o coração e me faz feliz.

Saiba também, que as pessoas que visitam as casas e escritórios na minha rua também a utilizam para estacionar sob sua generosa sombra.

E, finalmente, há que lembrar dos passarinhos: sabiás, bem-te-vis, sanhaçus cinzentos e do papo amarelo; das maritacas e dos papagaios que se alimentam de suas sementes, dos pica-paus e das pombas rolas que vejo todos os dias. Para eles é indiferente se o plátano é uma árvore "exótica" ou não.

Finalmente, sobre esse frenesi de "obras para a copa", gostaria de lembrar que a copa do mundo em Porto Alegre vai se resumir a 5 jogos do Grupo E nos dias 18, 22, 25 e 30 de junho. A copa do mundo não vai durar sequer 15 dias em Porto Alegre.

Essa caravana vai chegar e passar como um raio, deixando para trás as dívidas milionárias com as empreiteiras amiguinhas da FIFA, que vamos levar décadas para pagar.

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