23 de jun. de 2013

CARLA TOLEDO DAUDEN, (MAIS) UMA BRASILEIRA


Carla Toledo Dauden é uma jovem paulista que mudou com a família para Florianópolis aos 12 anos buscando levar uma vida mais pacata e humana depois que seu pai somou-se à infindável lista de vítimas da violência brutal na maior cidade da América do Sul. Como queria ser cineasta e a família podia ajudar, mudou-se para a Califórnia, onde estudou cinema na California State University, em Long Beach; destacando-se como aluna e recebendo vários prêmios. Sim, a Carla não tem só a "sorte" de ter publicado um vídeo que falava exatamente o que todos nós tínhamos entalado na garganta (para refrescar a memória, leia aqui um post do Juca Kfouri de 5 de outubro de 2010 sobre entrevista do presidente do Internacional, Vitorio Piffero, a Juremir Machado da Silva, do Correio do Povo: http://blogdojuca.uol.com.br/2011/10/o-cartel-de-empreiteiras-da-fifa/); trata-se de um vídeo bem produzido, com uma excelente fotografia e narrado numa linguagem simples e direta.

Meu único senão é que o vídeo passou praticamente batido no lobby das empreiteiras amigas da FIFA que vão seguir explorando estádios pelo Brasil 18 anos depois da copa ter passado. Porque, nas palavras do próprio Juca Kfouri:

A Copa do Mundo precisa dar lucro a um grupo de parceiros.

E ele disse mais, lá atrás, em 2010, quando essa massa nas ruas poderia ter mudado alguma coisa:

Na África, já se cogita derrubar alguns dos estádios construídos para a Copa de 2010.
No Brasil, só cartolas, alguns políticos e empreiteiras ganharão com a Copa do Mundo.
O Inter e o Grêmio têm tudo para sair como perdedores.
Serão perdedores felizes.
Farão papel de modernos.
Moderno é pagar aluguel para morar na própria casa.
É o neoliberalismo da CBF e da Fifa
Um neoliberalismo antigo, o dos negócios bons para alguns e ruins para muitos.
(grifos meus)

Tendo já ultrapassado os 2 milhões de hits no YouTube, espero que o vídeo ajude a impulsionar a carreira dessa garota que gostaria que voltasse logo ao Brasil para juntar sua força e talento às dezenas de milhares de novos roteiristas, diretores, técnicos e atores que despejamos nas ruas todo o final de semestre para acabarem vendendo calças ou trabalhando em comerciais de televisão; porque a produção cinematográfica cujos projetos conseguem financiamentos e incentivos oficiais no Brasil é um clubinho fechado no qual as verbas são divididas entre os mesmos de sempre.

Talvez seu talento e senso de oportunidade, ajude a dar visibilidade à luta anônima e diária dessas dezenas de milhares de jovens que só querem poder sobreviver da profissão que escolheram livres do meretrício de trabalhar para as grandes redes de televisão.

Essa é a minha sugestão a você, Carla: converse com seus colegas de profissão aqui e faça outro vídeo denunciando a tristeza que é ter que fazer cinema do próprio bolso num país que investe bilhões em novelas patéticas e propaganda.

Confesso, Carla, que logo que vi o vídeo, formei uma ideia equivocada a seu respeito. Mas depois de ler várias entrevistas, fui entendendo melhor quem é você, o que pensa, e imagino fazer uma ideia do que quer.

Minha opinião começou a mudar quando perguntada por Ruth Aquino da Revista Época sobre uma opinião acerca dos movimentos, você respondeu lucidamente:

Como eu não tenho envolvimento direto com as manifestações, acho até irresponsável eu dar a minha opinião. Tento evitar bandeiras. Quando fiz o vídeo, bem antes da onda de protestos, queria só fazer minha parte e lutar para que nossas vozes fossem ouvidas. Era só esse meu papel no jogo. Mostrar que Brasil não é só futebol e que há problemas. Queria fazer pressão para que mudanças ocorram. Muitos dos manifestantes me parecem perdidos. E agora você não sabe mais quem está a favor de quê. Tem gente usando o meu vídeo para argumentar que o governo tem de cair. Botando palavras na minha boca. Tem gente falando que trabalho para a CIA e os Estados Unidos me pagaram para fazer esse vídeo!!! Não quero promover nenhum boicote à Copa. Estão postando coisas muito extremistas no meu Facebook. O que eu acho mesmo é que o povo tem que subir ao governo e não que o governo precisa cair. A paz tem que ser mantida a todo custo. Espero que todos se conscientizem disso e tenham bom senso. Quem gosta do Brasil não quer uma guerra civil.

(Grifos meus)

E tem a carta que você divulgou.

Acredito concordarmos que se tivesse sido lida por pelo menos metade das pessoas que andam distribuindo o vídeo, muita bagunça e violência poderiam ter sido evitadas.

Tomo a liberdade de compartilhar aqui, para que pelo menos as poucas pessoas que leem o meu blog a entendam melhor:

Oi gente!

Estou acompanhando com um misto de surpresa e temor o que vem acontecendo por conta do vídeo que postei no YouTube. Além de ser muito grata a todos aqueles que compartilharam e que têm contribuído com o debate construtivo, gostaria de pontuar algumas coisas importantes. Leiam isso como uma tentativa de me posicionar diante de críticas e, sobretudo, diante do uso do meu vídeo por parte de grupos que, definitivamente, não me representam.

– Repudio, veementemente, qualquer discurso que coloque em risco o Estado Democrático de Direito;

– Não sou favorável ao impeachment de ninguém. Não se utilize de meu vídeo defender essa ideia;

– Não faço parte nem simpatizo com nenhum partido político ou movimento social, apesar de não ser apolítica e de ter bastante clareza sobre minhas convicções ideológicas;

– Minha iniciativa não tem ligação alguma com os protestos contra o aumento da tarifa, embora eu seja totalmente solidária à causa, como a todas as outras que, de alguma maneira, e através dos movimentos sociais, tentam reverter as históricas injustiças sociais e a desigualdade em nosso País;

– A publicação do vídeo apenas coincidiu com os protestos. Confiram a data da postagem;

– Como explico no início da peça, uso o inglês apenas porque meu objetivo primeiro era falar com amigos e colegas americanos e do mundo, com a intenção de mostrar a realidade do nosso país e trazer atenção internacional ao tema. Consequentemente, essa atenção gera uma pressão maior para que mudanças ocorram.

– Por último, e principalmente, não tenho as respostas para tudo o que está acontecendo, não sou política ou ativista, apenas quis manifestar meus pensamentos. Acreditem, felizmente, nem tudo nesse mundo vem a partir de interesses financeiros ou políticos. Muito mais preparados para responder a essas perguntas estão as diversas organizações e movimentos sociais legítimos que estão lutando há bastante tempo, e diariamente, para que a Copa e as Olimpíadas não passem por cima dos direitos dos brasileiros.

Agradeço enormemente se puderem ajudar a espalhar essa mensagem e peço que não usem vídeo para causas que não condizem com as ideias acima.

Carla Toledo Dauden 

Um comentário: