9 de jun. de 2013

VERDADE, BONDADE E NECESSIDADE


Pessoas inteligentes falam sobre idéias; pessoas comuns falam sobre coisas; pessoas mesquinhas falam sobre pessoas.

Vez por outra essa frase de Sócrates pipoca nas redes sociais, seguida de algum comentário ácido sobre alguma celebridade pra provar que repetição é decoreba: não leva ao entendimento.

Sócrates nasceu em berço humilde nas planícies do monte Licabeto, próximo a Atenas. Seu pai, Sophroniscus, foi um escultor especializado em entalhar colunas e sua mãe uma parteira. Cresceu mais atrapalhando do que ajudando o pai na oficina, e era motivo de zombaria dos outros aprendizes pela absoluta falta de habilidade manual.

Se não fosse o vaticínio do Oráculo de Delfos (que previu para o pequeno Sócrates um destino de grande educador) e a persistência de sua mãe, ele provavelmente teria entrado para a história como o pior escultor ateniense de todos os tempos, e não como uma das mentes mais brilhantes da história da humanidade - o que serve de alerta para muitos pais que ainda hoje insistem em forçar as escolhas profissionais de seus filhos.

Uma de suas primeiras "sacações" (momento elegantemente denominado pela literatura de auto-ajuda como insight) ocorreu ainda na infância, quando foi ajudar sua mãe num parto complicado. Enquanto sua mãe lutava para trazer a criança viva ao mundo, a mente de Sócrates elevava-se a quilômetros de distância: o conhecimento está dentro das pessoas, que são capazes de aprender por si mesmas. Porém, eu posso ajudar no nascimento dese conhecimento.

É por isso que até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos como maiêutica, que em grego significa "parteira".

De mais, sabe-se que ele costumava caminhar de pés descalços, não tinha o hábito de tomar banho e quando lhe ocorria uma ideia, parava o que quer que estivesse fazendo e ficava pensando por horas - certa vez foi encontrado de pés descalços na neve, tão envolto em pensamentos que nem reparara no frio.

Também se sabe que serviu no exército ateniense estando envolvido em algumas batalhas, dentre elas, pela importância histórica e por ter sido sua derradeira; destaca-se a Guerra do Peloponeso, para a qual foi enviado na condição de general por sua capacidade de liderança. Ao final da guerra,  preocupado em salvar os poucos soldados vivos de seu batalhão, ele ordenou a retirada mais rápida possível para Atenas, deixando para trás os mortos em batalha - o que contrariou a lei ateniense que obrigava o general a enterrar TODOS os seus soldados mortos, ou morrer tentando.

Por esta ordem, Sócrates foi preso e levado a julgamento.

Isso foi um prato cheio para seus inimigos, em grande parte renomados "mestres" da época que ainda sentiam roer nas entranhas a inveja pelas palavras de Pítia (sacerdotisa do Templo de Apolo), que ainda quando Sócrates era só mais um estudante de filosofia dissera ser ele "o mais sábio de todos os homens"; inveja essa somada ao ciúme por sua popularidade e pela sua tentativa de tornar livre e acessível a qualquer pessoa, independente de classe ou intelecto, a poderosa ferramenta do pensamento crítico: como pode um homem ensinar de graça e pregar que ninguém precisa de professores como eles? (qualquer semelhança com pessoas ou instituições vivas ou mortas NÃO É mera coincidência).

Ao final do julgamento (amplamente documentado por Platão), Sócrates foi  condenado por "não acreditar nos costumes e nos deuses gregos, unir-se a deuses malignos que gostam de destruir as cidades e corromper os jovens com suas ideias"; então tomou cicuta e morreu pobre, pois nunca recebeu um centavo sequer por seus ensinamentos.

Mais que sua morte, no entanto, sua vida convivendo, dialogando e acima de tudo observando as pessoas comuns é que foi sua grande obra.

Foi nesse convívio cotidiano com as pessoas simples que Sócrates desenvolveu o "método socrático", que faz uso de perguntas simples, quase ingênuas, para revelar as contradições em ideias que temos por certas e universais, mas que nada mais são que a repetição automática dos valores e preconceitos da sociedade em que vivemos; e nesse exercício nos dotar de poderosas ferramentas, absolutamente acessíveis a qualquer um para repensar por si mesmo os preconceitos e redefinir esses valores.

Pois bem, a ele é atribuído o "Método das Três Peneiras", um brevíssimo manual para a boa conduta e a felicidade social. Funciona assim:

A vida plena se apoia em três pilares: VERDADE, BONDADE e NECESSIDADE, que devem ser tanto buscados como praticados.

Quando nos dirigimos a alguém, por exemplo, devemos sempre ter em mente esses três pilares, e aplicá-los como filtros (ou peneiras) a tudo quanto vamos comunicar.

1 - Você tem certeza ABSOLUTA que o que está prestes a dizer é verdadeiro?

Se não tem certeza, não fale.

2 - Você gostaria que isso que está prestes a contar fosse dito a SEU respeito?

Se não gostaria, não fale.

3 - Que NECESSIDADE você tem de falar isso para alguém?

Se não tem necessidade, não fale.

Conhece-te a ti mesmo, pregava Sócrates. Se as pessoas se conhecessem melhor, conheceriam melhor às outras e usariam seus esforços e talentos para satisfazer suas NECESSIDADES guiadas pela VERDADE e pela BONDADE.

Mais não é preciso para que todos sejam felizes.

Um comentário:

  1. Bárbaro!!! Muito bem pontuado, Necessário,coerente, JUSTO!Base de ensinamentos Ancestrais, Sócrates bem sabia..sabe e se eterniza.
    de Nada adianta apenas"engordarmos nosso Cérebro" conhecendo "caminhos"..Hay que trilhar..E RESPEITAR O ANTES!Abs Luiza! Gratidão

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