No meu sonho tem uma praia, onde as crianças vão brincar.
São crianças de todo o mundo, porque crianças são todas iguais.
A praia é muito bonita, cheia de árvores e pedras enormes.
Lá nunca chove, e também nunca faz frio.
A areia é branca e fininha, macia de se pisar.
Com ela se fazem castelos de verdade (com reis, rainhas e tudo mais), que o mar nunca vem derrubar.
A água é rasa e quentinha, e o mar é calmo como uma lagoa, lisinho que nem um espelho refletindo as nuvens no céu.
Onde a praia acaba tem umas pedras pretas bem lisas, que vão da areia até o mar, e é bem neste cantinho que as crianças mais gostam de ficar.
Isto porque todo o dia, numa hora que só as crianças sabem, a água ficha cheia de espuma, até parece sabão, e enche o ar de bolhas coloridas que não estouram se a gente pegar na mão.
Então eles aparecem: olhos grandes, de um marrom bem claro, transparentes como a água, e que brilham como o sol.
Todos têm a pele lisinha, e cada um é de uma cor.
Eles falam coisas bonitas, e inteligentes também: dizem que o mundo é uma árvore muito velha, que nunca pára de crescer.
Que os adultos são crianças crescidas, que se esqueceram de sonhar.
Dizem que o amor de verdade não cabe no coração: se espalha pelo mundo todo e faz as pessoas ficarem mágicas.
Os bichos, eles dizem, só são felizes nos seus lugares: um passarinho fica triste quando está preso numa gaiola, e os cãezinhos precisam de espaço para poder correr e brincar; e que quem ama um bichinho deixa ele solto e feliz, porque é assim que se conquista o coração das pessoas de dos animais.
Dizem que os adultos já derrubaram muitas florestas, e deixaram muitos bichos sem lar.
Encheram o ar de fumaça e os rios de poluição.
Acabaram com muitos peixes, e passarinhos também; que matam bichinhos inocentes só pra fazer roupas e sapatos e nem é porque precisem: é só para mostrar.
E que compram armas muito caras e viajam longe para atirar nos bichos selvagens só pelo prazer de matar.
Contam que há muito tempo eles vão naquela praia.
Que há muito tempo eles falam com as crianças.
Mas que depois que as crianças crescem, não querem mais escutar.
No meu sonho tem uma praia, onde as crianças vão brincar.
Mesmo que acabem as focas, as ondas limpas do mar.
Mesmo que o céu se esconda por trás da poluição, que não exista mais uma árvore, uma grama onde pisar...
No meu sonho ainda terá uma praia, onde as crianças irão brincar.
Para ver os meninos-foca e ouvir o que eles têm para contar.
(revisão de texto publicado originalmente no Diário Catarinense, em 25 de julho de 1987. Ilustração: Kiko Novaes)
Que profundo Luiza..Que LINDO este sonhar...Quem sonha tem brilho...UM BRILHO QUE VEM DA ALMA, do CORAÇÃO..
ResponderExcluirYvy Marãey é assim...TERRA SEM MALES.
Ojalá ,os Meninos Foca possam brincar e Todos(as)também..Estou sonhando este "sonho" contigo. Aguyjevete!