O médico do pequeno vilarejo prepara-se para sair para o almoço quando repara no velho marceneiro que já na casa dos 70 anos nunca antes pisara em seu consultório sentado na sala de espera.
- Qual o seu problema? - pergunta o médico da porta.
Vendo que o marceneiro, aparentemente absorvido na leitura de uma revista, não respondia; o médico se aproxima e repete a pergunta.
- Não estou doente, doutor. - responde o marceneiro largando a revista - É a minha mulher. - afirma dirigindo ao médico um olhar preocupado - Está mais surda que uma porta mas não acredita nisso e se recusa a vir consultá-lo.
- Oh, entendo... - sorri o médico afavelmente - Preciso que faça um teste para que eu saiba melhor como tratá-la: quando chegar em casa, fale com ela em seu tom de voz normal a alguma distância e observe se ela responde. Se ela não responder, avance alguns passos e fale novamente... Repita isso até que ela responda, então marque a distância que estava e venha me dizer.
- Obrigado, doutor. - diz o marceneiro levantando.
Ao abrir a porta de casa minutos depois, o marceneiro pergunta à mulher sem erguer a voz, conforme combinado com o médico:
- Querida, o que temos para o almoço?
Não tendo resposta, avança do átrio à sala de estar, então para e repete a pergunta:
- Querida, o que temos para o almoço?
Silêncio. Ele então cruza a sala de estar, chegando à porta da cozinha, onde vê a mulher de costas a mexer as panelas. Ali se detém, repetindo a pergunta:
- Querida, o que temos para o almoço?
Ao ver que a mulher ainda assim não responde, aproxima-se até quase tocá-la, e pergunta novamente:
- Querida, o que temos para o almoço?
- Frango com batatas, Manuel! - grita a mulher exasperada - É a quarta vez que me perguntas!
(Foto: American Gothic, óleo em madeira por Grant Wood, 1930)
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