Como faço todos os dias, levantei relativamente cedo e fui fazer o café.
Depois de botar a chaleira no fogo (aqui em casa não entra cafeteira elétrica), descasquei metade de uma banana e botei no pratinho que tenho na sacada de casa para os passarinhos, voltei para a cozinha, liguei o rádio e fiquei escutando tomando meu suco de laranja e ouvindo o noticiário enquanto esperava a água ferver.
O correspondente em NY contava sobre alguém que morrera após ser pisoteado num corre-corre, de duas mulheres trocando tiros e sobre uma mulher que usara gás de pimenta para afastar outros compradores do produto que desejava comprar, no caso, um X-Box.
Como havia pegado o bonde andando e não estava prestando muita atenção, até chegar no X-Box eu não fazia a menor ideia do que se tratava.
Até então eu pensava tratar-se de gente desesperada lutando pela sobrevivência num campo de refugiados lutando pela sobrevivência em algum país remoto; de gente desesperada por comida, por água pra beber; tão desesperada que nem está pensando em desperdiçar água para o banho.
Mas não. Era sobre a tal da black friday.
Pelo nome, achei que fosse alguma coisa sinistra, mas o repórter explicou que black friday é na verdade um dia eleito pelo comércio para limpar os depósitos para a chegada dos produtos a serem vendidos no Natal.
Morte, violência e selvageria para gastar dinheiro em quinquilharias.
A chaleira ferveu enquanto eu assimilava essa ideia.
Passei o café e liguei meu pc para ler as notícias do dia:
Na Inglaterra, uma grávida de gêmeos e mãe de dois meninos se atirou de um penhasco para a morte porque estava esperando mais dois meninos quando tudo que queria na vida era dar à luz uma menina.
Na Espanha, o Ministro do Turismo se mostra "embaraçado" depois do vazamento de uma foto onde aparece todo sorridente ostentando como um chepéu os testículos de um cervo morto que recém abatera.
Na Suécia, uma mulher de 38 anos mantinha há meses em seu apartamento a ossada do companheiro, com que ainda mantinha relações sexuais: "quero meu homem vivo ou morto", justificou-se ao ser presa.
Homem corta matou a cunhada degolada em frente aos sobrinhos. Preso horas depois, confessou que o fez por "invejar o sucesso do irmão".
Aí tem um vídeo dessas câmeras de vigilância que andam espalhando pelas cidades. Ele mostra uma moça caminhando. Por trás dela, um homem se aproxima rapidamente, e do nada desfere um murro violento na nuca da garota e foge ainda antes que ela caia desmaiada no chão.
Isso alternado com 78 fofocas "exclusivas" sobre celebridades, artistas retratando celebridades com jujubas, do novo record mundial de 5 dias jogando videogame sem parar, bronzeador instantãneo feito de pós de diamante e vendido em embalagem de perfume caro; e o Papa que escreveu em seu livro que não tinha burro nem vaca no presépio quando Jesus nasceu.
E lá vou eu ruminando esse misto de tragédias, baboseiras, fofocas, pseudo-notícias tendenciosas e inutilidades, até me deparar com isso:
Depois do encurtamento dos dedos dos pés, a amputação cirúrgica de dedos mínimos é a nova febre entre mulheres adeptas do salto-agulha. "Nunca me senti tão bem sobre alguma coisa que tenha feito", proclama uma recém-operada feliz por se livrar do tormento de décadas de dores crônicas e calos nos pés.
Sim, isso está escrito e publicado bem ali, com todas as letras e tem até foto pra provar. Duvida? Segue o link.
Se bobear, vai ter quem ponha na prática o photoshop maluco criado por Richard Darell que ilustra este post. (Original aqui)
Por que diabos ainda me espanto com a estupidez humana?
Em tempo: não consigo parar de pensar na grávida suicida. Será que se tivesse vivido para ter sua tão ansiada filha menina essa menina ia usar salto-agulha também?
Em tempo: não consigo parar de pensar na grávida suicida. Será que se tivesse vivido para ter sua tão ansiada filha menina essa menina ia usar salto-agulha também?
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