1 de nov. de 2012

DOMÍNIO DA MENTE


Tendo vencido várias competições, um jovem campeão de arco e flecha desafiou com arrogância o velho mestre famoso por sua habilidade como arqueiro. A notícia do desafio correu como fogo de palha da aldeia ao mosteiro, e foi diante de uma pequena multidão que postaram-se os dois a uma boa distância do alvo.

Demonstrando notável proficiência e técnica mesmo sob forte ventania, o jovem acertou o centro do alvo na primeira tentativa para em seguida dividir a flecha ao meio com um segundo tiro.

- Está lá! - exclama exultante ao velho mestre, sendo ovacionado pela multidão - Agora quero ver o senhor me superar!

Sem demonstrar a menor reação, o velho mestre uniu as mãos às costas e começou a se afastar, sendo seguido de perto pelo jovem campeão a admoestá-lo por ter desistido tão facilmente. Entre confusas, revoltadas e decepcionadas, as pessoas do vilarejo se juntaram a ele seguindo o velho mestre em procissão.

Indiferente, o velho mestre tomou a trilha da montanha, que levava a um terrível despenhadeiro sobre o qual uma antiga ponte pênsil se debruçava em precário equilíbrio.

Ao chegarem lá, muitas pessoas já haviam desistido e voltado para suas casas. Entre as que ainda seguiam, reinava o mais completo silêncio. Não poucos temiam que o velho mestre estivesse senil e fosse fazer alguma bobagem.

Tais temores cresceram quando ao acercar-se da instável estrutura, sem em momento algum soltar as mãos unidas às costas, sem sequer testar a integridade da ponte, o velho mestre avançou, pisando com firmeza nas tábuas que rangiam ameaçando se desprender do cordame apodrecido.

Alguns monges cobriram os olhos não suportando a ideia de ver seu mestre despencar daquela altura indo despedaçar-se nas rochas centenas de metros abaixo.

Ao chegar ao meio da ponte que a essa altura balançava perigosamente ao sabor do vento furioso, o velho mestre indicou uma árvore do outro lado do penhasco, sacou o arco e disparou.

Em instantes, as penas vermelhas de sua flecha acenavam à atônita audiência perfeitamente centradas em um nó no tronco da árvore.

- Agora é sua vez. - convidou o mestre retornando calmamente à terra firme.

O jovem arqueiro recuou dois passos, empalidecendo ao terror da ideia de sequer pisar naquela ponte. Vexado, declinou o desafio largando o arco no chão.

- Você tem uma habilidade extraordinária com o arco, - cumprimentou o velho mestre recolhendo o arco e pousando-o com gentileza nas mãos do jovem campeão - Mas não tem domínio da mente que dispara o tiro.

(Foto: templo suspenso de Hengshan, China)

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