Sargal Singh era tão amado por um comerciante que no dia em que morreu o homem raspou a cabeça e se vestiu de luto.
Um freguês, ao entrar na loja, perguntou ao comerciante o motivo do luto.
- Sargal Singh morreu. - responde o comerciante com tristeza.
Como gostava muito do comerciante e não queria ofendê-lo perguntando de quem se tratava, logo após deixar a loja o freguês raspou a cabeça e se vestiu de preto também.
Ao vê-lo passar pela rua, várias pessoas perguntaram o motivo do luto.
- Sargal Singh morreu. - disse o homem.
A notícia logo se espalhou e em questão de horas todo o vilarejo andava de luto.
Ao ouvir a notícia, um dos ministros do rei raspou a cabeça e vestiu-se de preto também.
Reparando em seu ministro de luto, o rei perguntou:
- Por quem você está de luto?
- Sargal Singh. - responde o ministro com gravidade.
- Quem é Sargal Singh? - insiste o rei.
Não podendo responder, o ministro sai às ruas para perguntar. Ninguém parecia saber precisar exatamente quem era Sargal Singh, mas todos eram unânimes em apontar a loja do comerciante como foco de origem da epidemia de luto.
- Sargal Singh era Um comerciante, sua majestade. - anuncia o ministro curvando-se perante o rei.
- Pela quantidade de pessoas de luto, imagino que fosse muito estimado... - pondera o rei olhando pela janela do palácio as pessoas enlutadas indo e vindo pelas ruas.
Ele então ordena a seus servos que raspem sua cabeça e o vistam com trajes de luto.
Instantes depois, o rei e todos os seus ministros mais servos e membros da corte percorrem as ruelas em comitiva para prestar homenagem ao falecido.
Ao saberem que o rei em pessoa viera prestar homenagem a Sargal Singh, as pessoas do vilarejo abandonam seus afazeres e correm para a frente da loja onde se amontoam aos chutes e cotoveladas.
Ao chegar à frente da loja, a comitiva se detém. O silêncio é tanto que se pode ouvir uma mosca.
A um gesto do rei, um dos servos bate solenemente à porta do comerciante.
Um homem franzino e parecendo muito abatido abre a porta, arregalando os olhos com surpresa ao deparar-se com a presença real.
- M-m-majestade... - balbucia o homem curvando-se até tocar os joelhos com a fronte.
- Viemos prestar homenagem à memória de Sargal Singh. - anuncia um dos ministros - Pois se tratava de um homem justo e honesto; uma pessoa das mais queridas e estimadas deste reino.
Indiferente ao visivel embaraço do comerciante a comitiva percorre a loja indo até os aposentos privados da família do comerciante onde estanca surpresa por não encontrar o menor sinal de velório.
- Por aqui! - grita alguém pela janela, apontando o pátio aos fundos da casa do comerciante.
Ao chegar ao pátio, o rei, seus ministros e membros da corte junto com toda a elite do vilarejo se deparam com a inusitada cena dos três filhos do comerciante chorando ao redor de um burro morto.
(foto: " Amanullah cavalgando seu burro", vila de Zadyan, Afeganistão. Por Anna Badkhen)
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