9 de nov. de 2012

SARGAL SINGH




Sargal Singh era tão amado por um comerciante que no dia em que morreu o homem raspou a cabeça e se vestiu de luto.

Um freguês, ao entrar na loja, perguntou ao comerciante o motivo do luto.

- Sargal Singh morreu. - responde o comerciante com tristeza.

Como gostava muito do comerciante e não queria ofendê-lo perguntando de quem se tratava, logo após deixar a loja o freguês raspou a cabeça e se vestiu de preto também.

Ao vê-lo passar pela rua, várias pessoas perguntaram o motivo do luto.

- Sargal Singh morreu. - disse o homem.

A notícia logo se espalhou e em questão de horas todo o vilarejo andava de luto.

Ao ouvir a notícia, um dos ministros do rei raspou a cabeça e vestiu-se de preto também.

Reparando em seu ministro de luto, o rei perguntou:

- Por quem você está de luto?

- Sargal Singh. - responde o ministro com gravidade.

- Quem é Sargal Singh? - insiste o rei.

Não podendo responder, o ministro sai às ruas para perguntar. Ninguém parecia saber precisar exatamente quem era Sargal Singh, mas todos eram unânimes em apontar a loja do comerciante como foco de origem da epidemia de luto.

- Sargal Singh era Um comerciante, sua majestade. - anuncia o ministro curvando-se perante o rei.

- Pela quantidade de pessoas de luto, imagino que fosse muito estimado... - pondera o rei olhando pela janela do palácio as pessoas enlutadas indo e vindo pelas ruas.

Ele então ordena a seus servos que raspem sua cabeça e o vistam com trajes de luto.

Instantes depois, o rei e todos os seus ministros mais servos e membros da corte percorrem as ruelas em comitiva para prestar homenagem ao falecido.

Ao saberem que o rei em pessoa viera prestar homenagem a Sargal Singh, as pessoas do vilarejo abandonam seus afazeres e correm para a frente da loja onde se amontoam aos chutes e cotoveladas.

Ao chegar à frente da loja, a comitiva se detém. O silêncio é tanto que se pode ouvir uma mosca.

A um gesto do rei, um dos servos bate solenemente à porta do comerciante.

Um homem franzino e parecendo muito abatido abre a porta, arregalando os olhos com surpresa ao deparar-se com a presença real.

- M-m-majestade... - balbucia o homem curvando-se até tocar os joelhos com a fronte.

- Viemos prestar homenagem à memória de Sargal Singh. - anuncia um dos ministros - Pois se tratava de um homem justo e honesto; uma pessoa das mais queridas e estimadas deste reino.

Indiferente ao visivel embaraço do comerciante a comitiva percorre a loja indo até os aposentos privados da família do comerciante onde estanca surpresa por não encontrar o menor sinal de velório.

- Por aqui! - grita alguém pela janela, apontando o pátio aos fundos da casa do comerciante.

Ao chegar ao pátio, o rei, seus ministros e membros da corte junto com toda a elite do vilarejo se deparam com a inusitada cena dos três filhos do comerciante chorando ao redor de um burro morto.

(foto: " Amanullah cavalgando seu burro", vila de Zadyan, Afeganistão. Por Anna Badkhen)

Nenhum comentário:

Postar um comentário