Era uma vez uma pequena ilha onde viviam os sentimentos.
Um dia Cautela anunciou que como a ilha estava prestes a afundar todos deveriam construir seus botes e partir o quanto antes.
Enquanto os outros sentimentos corriam a providenciar seus botes, Amor, Confiança e Esperança decidiram ficar até o último momento possível.
E, como Cautela advertira, a ilha foi afundando rapidamente. Vendo que não haveria mais tempo para construir seu bote, Amor começou a chamar por socorro, enquanto Confiança e Esperança se divertiam despreocupadas tecendo colares de junco.
Aproxima-se então a Riqueza em seu grande e sólido bote.
- Riqueza, podes me levar contigo?
- Não, não posso. Meu bote está carregado com meus tesouros, não há lugar para vocês três. Consigo levar Confiança, que não pesa muito. - responde Riqueza.
Sem hesitar, Confiança deixa os outros para trás, subindo no bote da Riqueza:
- Vocês vão ficar bem, tenho certeza disso! - exclama com um sorriso.
- Oh, espero que sim! - responde Esperança acenando despreocupada.
Ao fazê-lo, Esperança escorrega da pedra onde se equilibrava e não fosse o abraço forte do Amor, teria se perdido nas águas.
Eis que surge a Inveja remando seu bote, e ao ver o Amor tão fortemente abraçado à Esperança manobra o bote com violência afastando-se dali.
Logo atrás vem a Vaidade, e é a esta que Amor se dirige suplicante:
- Vaidade, por favor, ajude-nos!
- Nem pensar! - exclama vaidade - Molhados como estão vocês vão arruinar meu lindo bote!
Instantes depois, Tristeza se aproximava. Mais uma vez, Amor pediu por socorro:
- Tristeza, leve-nos com você!
- Oh, Amor... fosse só você eu até podia pensar, mas a Esperança só me traz mais infelicidade.
E dizendo isso, seguiu cabisbaixa flutuando sozinha em seu pequeno bote escuro.
Eis que se aproxima Alegria que de tão entretida consigo mesma nem reparou nos dois sentimentos à deriva fortemente abraçados um ao outro.
A noite caía e uma densa neblina se espalhou sobre as ondas encrespadas da maré. Lutando contra o mar agitado, Amor acaba deixando que Esperança lhe escape dos braços. Sozinho na escuridão, começa a chorar lamentando sua má sorte.
Eis que uma voz rouca o chama:
- Venha, Amor, vamos levá-lo.
- Eu perdi Esperança... - lamenta o Amor subindo ao bote.
- Não se preocupe, ela nunca está perdida. - consola outra voz.
Em silêncio, Amor observa as silhuetas encarquilhadas de seus salvadores a remar na quase total escuridão. Exausto, acaba adormecendo.
Um bom tempo depois é despertado pelo baque do bote contra a terra firme.
Em instantes, uma das figuras salta do bote afastando-se rapidamente. Pestanejando, Amor se dirige à velhinha que ficara sentada no bote como a esperar por sua saída para voltar ao mar:
- Desculpe-me, na confusão não perguntei seus nomes...
- Me chamo Sabedoria. - disse a velhinha - E aquele ancião que vai lá longe é o Tempo, meu irmão mais velho.
- O Tempo? - pergunta Amor assombrado - Por que veio em meu socorro, se nunca faz nada por ninguém?
Sabedoria alargou a boca em um largo sorriso de entendimento, então falou:
- Porque só o Tempo é capaz de entender quão valioso é o Amor.
(imagem: "Navio em Mar Tempestuoso", por Ivan Aivazovsky)
Nenhum comentário:
Postar um comentário